{"id":180751,"date":"2022-11-22T19:03:43","date_gmt":"2022-11-22T22:03:43","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=180751"},"modified":"2022-11-22T19:03:48","modified_gmt":"2022-11-22T22:03:48","slug":"como-australia-desbancou-sul-americanos-e-se-tornou-maior-produtora-de-litio-do-mundo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/11\/22\/180751-como-australia-desbancou-sul-americanos-e-se-tornou-maior-produtora-de-litio-do-mundo.html","title":{"rendered":"Como Austr\u00e1lia desbancou sul-americanos e se tornou maior produtora de l\u00edtio do mundo"},"content":{"rendered":"\n
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Originalmente, a mina de Greenbushes extra\u00eda estanho, mas agora \u00e9 a maior mina de l\u00edtio do mundo – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A cerca de tr\u00eas horas de carro ao sul de Perth, na Austr\u00e1lia Ocidental, atr\u00e1s da hist\u00f3rica cidade mineira de Greenbushes, o terreno al\u00e9m da escola prim\u00e1ria revela uma cicatriz cinza e profunda.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Ali ficava uma antiga mina de estanho, conhecida como Cornwall Pit. Com cerca de 265 metros de profundidade, sua parede com desn\u00edveis representa um s\u00e9culo de trabalho que come\u00e7ou em 1888, quando meio quilo de estanho foi retirado de um riacho pr\u00f3ximo.<\/p>\n\n\n\n

Quando o metal da superf\u00edcie se esgotou na regi\u00e3o, os m\u00e9todos de extra\u00e7\u00e3o acabaram dando lugar \u00e0 minera\u00e7\u00e3o a c\u00e9u aberto do veio de pegmatito – uma rocha com textura \u00e1spera, similar ao granito.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 que, em 1980, outro metal foi encontrado em Greenbushes: o l\u00edtio. Mas os donos das minas n\u00e3o deram muita aten\u00e7\u00e3o a ele na \u00e9poca. O l\u00edtio \u00e9 um metal alcalino reativo, macio e com cor de prata esbranqui\u00e7ada. Ele era mais considerado uma bizarrice geol\u00f3gica.<\/p>\n\n\n\n

Uma opera\u00e7\u00e3o mineradora em pequena escala come\u00e7ou em 1983 para extra\u00e7\u00e3o de l\u00edtio para uso em opera\u00e7\u00f5es industriais espec\u00edficas, como a fabrica\u00e7\u00e3o de vidro, a\u00e7o, fundi\u00e7\u00e3o, cer\u00e2mica, lubrificantes e ligas met\u00e1licas.<\/p>\n\n\n\n

Somente d\u00e9cadas depois, o risco existencial representado pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas foi amplamente percebido e os governos come\u00e7aram a falar em substituir os cerca de 1,45 bilh\u00e3o de carros movidos a gasolina em todo o mundo por ve\u00edculos el\u00e9tricos.<\/p>\n\n\n\n

Foi ent\u00e3o que as reservas de Greenbushes come\u00e7aram a ser observadas de forma muito diferente.<\/p>\n\n\n\n

Hoje, a mina de estanho de Cornwall est\u00e1 fechada e Greenbushes tornou-se a maior mina de l\u00edtio do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Em menos de dois anos, os pre\u00e7os do espodum\u00eanio australiano – a mat\u00e9ria-prima rica em l\u00edtio que pode ser refinada para uso em baterias de laptops, telefones e ve\u00edculos el\u00e9tricos – subiu mais de dez vezes.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a empresa especializada Benchmark Mineral Intelligence, com sede em Londres, o espodum\u00eanio atingiu US$ 4.994 (cerca de R$ 26,8 mil) por tonelada em outubro de 2022, contra US$ 415 (cerca de R$ 2,2 mil, em valores de hoje) em janeiro de 2021.<\/p>\n\n\n\n

E, em 2040, a Ag\u00eancia Internacional de Energia prev\u00ea que a demanda por l\u00edtio cres\u00e7a mais de 40 vezes sobre os n\u00edveis atuais, se o mundo pretender atingir os objetivos do Acordo de Paris.<\/p>\n\n\n\n

Esta situa\u00e7\u00e3o gerou coment\u00e1rios sobre uma nova corrida do l\u00edtio e a Austr\u00e1lia posicionou-se para ser o principal fornecedor mundial. O que traz a quest\u00e3o: enquanto o mundo busca esse metal para tentar ajudar na redu\u00e7\u00e3o de carbono, a minera\u00e7\u00e3o de l\u00edtio \u00e9 sustent\u00e1vel?<\/p>\n\n\n\n

O aumento da extra\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n
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O espodum\u00eanio \u00e9 uma fonte rica em l\u00edtio, que pode ser refinado para uso em baterias – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em 2021, somente o l\u00edtio extra\u00eddo em Greenbushes representou mais de um quinto da produ\u00e7\u00e3o mundial e espera-se que o volume cres\u00e7a ainda mais.<\/p>\n\n\n\n

Em 2019, a empresa dona da mina, a Talison Lithium, foi autorizada a dobrar o seu tamanho. A expans\u00e3o custar\u00e1 1,9 bilh\u00e3o de d\u00f3lares australianos (US$ 1,2 bilh\u00e3o, cerca de R$ 6,4 bilh\u00f5es).<\/p>\n\n\n\n

Quando completa, a mina ir\u00e1 cobrir uma \u00e1rea de 2,6 km de comprimento, 1 km de largura e 455 m de profundidade. O pr\u00e9dio mais alto de Londres, The Shard, poderia ser confortavelmente enterrado na mina, com seus 310 metros de altura – bem como os pr\u00e9dios mais altos do Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Greenbushes \u00e9 a maior mina de l\u00edtio da Austr\u00e1lia, respons\u00e1vel por 40% das 55 mil toneladas do metal extra\u00eddas no pa\u00eds em 2021. Mas existem diversas outras minas logo atr\u00e1s dela.<\/p>\n\n\n\n

Ao todo, h\u00e1 outras quatro opera\u00e7\u00f5es de extra\u00e7\u00e3o de l\u00edtio de rocha bruta nas regi\u00f5es mineradoras da Austr\u00e1lia Ocidental, perto de Kalgoorlie, no leste, e de Pilbara, no extremo norte do Estado.<\/p>\n\n\n\n

Uma sexta mina de l\u00edtio – a \u00fanica fora da Austr\u00e1lia Ocidental – \u00e9 uma mina a c\u00e9u aberto perto de Darwin, no Territ\u00f3rio do Norte, que iniciou opera\u00e7\u00f5es no in\u00edcio de outubro de 2022. Duas outras minas est\u00e3o em planejamento, com outras propostas, em v\u00e1rios est\u00e1gios de implanta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Sua produ\u00e7\u00e3o combinada permitiu que a Austr\u00e1lia fornecesse cerca de metade do l\u00edtio extra\u00eddo no mundo em 2021. Seus maiores concorrentes s\u00e3o o Chile e a China, que extraem seu l\u00edtio de “piscinas” de salmoura.<\/p>\n\n\n\n

Mas isso deve mudar nos pr\u00f3ximos anos, quando os pa\u00edses do chamado “tri\u00e2ngulo do l\u00edtio” da Am\u00e9rica do Sul – Chile, Argentina e Bol\u00edvia, que juntos det\u00eam a maior parte das reservas conhecidas de l\u00edtio do mundo – ampliarem a sua produ\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

O Chile, sozinho, atualmente \u00e9 respons\u00e1vel por um quarto da produ\u00e7\u00e3o mundial e det\u00e9m mais de 40% dos recursos mundiais. Em termos de recursos, a Bol\u00edvia tem 24% das reservas de l\u00edtio conhecidas e a Argentina, 21%, embora nenhum deles contribua significativamente para a produ\u00e7\u00e3o global.<\/p>\n\n\n\n

Com todos esses pa\u00edses procurando desenvolver sua ind\u00fastria do l\u00edtio, o mundo enfrenta duas op\u00e7\u00f5es muito diferentes de fontes desse metal indispens\u00e1vel: da rocha s\u00f3lida, como na Austr\u00e1lia, ou do len\u00e7ol fre\u00e1tico salino, como no Chile.<\/p>\n\n\n\n

“Com rela\u00e7\u00e3o \u00e0 minera\u00e7\u00e3o do l\u00edtio em rocha s\u00f3lida, o impacto ambiental \u00e9 basicamente o mesmo de qualquer outra opera\u00e7\u00e3o de minera\u00e7\u00e3o compar\u00e1vel”, afirma o professor Gavin Mudd, da Universidade RMIT de Melbourne, na Austr\u00e1lia. “A salmoura \u00e9 radicalmente diferente.”<\/p>\n\n\n\n

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Minera\u00e7\u00e3o de l\u00edtio no Chile – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mudd \u00e9 presidente do Instituto de Pol\u00edticas Minerais, uma organiza\u00e7\u00e3o independente que monitora a ind\u00fastria mineradora australiana. Ele afirma que \u00e9 comum haver desinforma\u00e7\u00e3o e confus\u00e3o sobre a minera\u00e7\u00e3o de l\u00edtio.<\/p>\n\n\n\n

Segundo ele, por exemplo, a ideia de que o l\u00edtio \u00e9 um recurso escasso j\u00e1 foi desmentida, mas continua presente.<\/p>\n\n\n\n

“O l\u00edtio, na verdade, \u00e9 um mineral muito comum”, afirma Mudd. “Ele \u00e9 encontrado em toda parte, mas historicamente n\u00e3o nos preocupamos com a sua minera\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

Quando o assunto \u00e9 o impacto ambiental da minera\u00e7\u00e3o de l\u00edtio na Austr\u00e1lia, ele afirma que as pessoas frequentemente confundem a situa\u00e7\u00e3o com o que ocorre na Am\u00e9rica do Sul.<\/p>\n\n\n\n

A diferen\u00e7a come\u00e7a na geologia. Em terrenos mais jovens como a Am\u00e9rica do Sul, o l\u00edtio \u00e9 encontrado no fundo de lagos salgados incrustados nas grandes altitudes.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 na Austr\u00e1lia, a geologia \u00e9 mais antiga. Dep\u00f3sitos de pegmatito que cont\u00eam l\u00edtio s\u00e3o encontrados em todo o pa\u00eds, em peda\u00e7os de massa terrestre que colidiram h\u00e1 centenas de milhares de anos para formar o continente australiano.<\/p>\n\n\n\n

Essas regi\u00f5es incluem os cr\u00e1tons (rochas continentais est\u00e1veis h\u00e1 mais de um bilh\u00e3o de anos) de Pilbara e Yilgarn, na Austr\u00e1lia Ocidental, a Prov\u00edncia de Pine Creek, no Territ\u00f3rio do Norte, a regi\u00e3o de Georgetown, em Queensland, e a \u00e1rea central do Estado de Victoria.<\/p>\n\n\n\n

O processo de refino traz riscos ambientais causados pelo uso intensivo de energia e subst\u00e2ncias qu\u00edmicas.<\/p>\n\n\n\n

Mas Allison Britt, diretora de consultoria mineral da ag\u00eancia governamental Geoscience Australia, afirma que o processo de extra\u00e7\u00e3o de l\u00edtio na Austr\u00e1lia n\u00e3o \u00e9 muito diferente das outras formas de minera\u00e7\u00e3o de metais.<\/p>\n\n\n\n

Quando um recurso economicamente vi\u00e1vel \u00e9 identificado, a superf\u00edcie \u00e9 limpa, a terra \u00e9 retirada, a rocha \u00e9 dinamitada e os res\u00edduos s\u00e3o removidos para serem processados, formando um concentrado.<\/p>\n\n\n\n

“Cada dep\u00f3sito de rocha bruta \u00e9 \u00fanico”, afirma Britt. “Em dep\u00f3sitos com grau mais alto, voc\u00ea cava menos rocha em compara\u00e7\u00e3o com o l\u00edtio produzido.”<\/p>\n\n\n\n

Na Am\u00e9rica do Sul, o processo \u00e9 mais parecido com um grande e trabalhoso jogo de qu\u00edmica. Como o l\u00edtio est\u00e1 no fundo de um lago salgado, ele normalmente \u00e9 misturado com uma s\u00e9rie de outros minerais.<\/p>\n\n\n\n

Sua retirada exige o bombeamento da salmoura do fundo de um lago salgado para uma piscina e esperar a evapora\u00e7\u00e3o da \u00e1gua \u00e0 luz do sol, at\u00e9 que as concentra\u00e7\u00f5es de l\u00edtio atinjam 6 mil partes por milh\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 um processo que consome muita \u00e1gua – cerca de 1,9 milh\u00e3o de litros s\u00e3o perdidos para a evapora\u00e7\u00e3o para produzir uma tonelada de l\u00edtio – e sempre existe o risco de vazamentos.<\/p>\n\n\n\n

Riscos ambientais<\/h2>\n\n\n\n

Da mina, o l\u00edtio – tanto na Austr\u00e1lia quanto na Am\u00e9rica do Sul – precisa ser processado para poder ser utilizado. O carbonato de l\u00edtio retirado dos tanques de salmoura no Chile precisa ser transformado em hidr\u00f3xido de l\u00edtio, que \u00e9 o material preferido pelos fabricantes de baterias.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 a rocha escavada do solo na Austr\u00e1lia precisa ser mo\u00edda e torrada para produzir espodum\u00eanio. Esse material cont\u00e9m cerca de 6% de l\u00edtio e \u00e9 ent\u00e3o embarcado da Austr\u00e1lia para a China, que refina 60% do l\u00edtio do mundo e 80% do hidr\u00f3xido de l\u00edtio do planeta.<\/p>\n\n\n\n

Mas isso pode estar mudando. Como parte dos esfor\u00e7os para diversificar a cadeia de fornecimento, o governo da Austr\u00e1lia Ocidental est\u00e1 trabalhando para construir instala\u00e7\u00f5es locais de refino, perto das suas pr\u00f3prias minas de l\u00edtio.<\/p>\n\n\n\n

Existem tr\u00eas propostas de novas instala\u00e7\u00f5es de refino de l\u00edtio na Austr\u00e1lia. E essas instala\u00e7\u00f5es enfrentar\u00e3o seus pr\u00f3prios desafios ambientais.<\/p>\n\n\n\n

Torrar espodum\u00eanio para criar o concentrado exige quantidades significativas de energia e de \u00e1cido sulf\u00farico. Ao final, os res\u00edduos tamb\u00e9m precisar\u00e3o ser descartados – um processo que precisa ser monitorado para evitar que cause polui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

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L\u00edtio processado na Austr\u00e1lia – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A minera\u00e7\u00e3o australiana de l\u00edtio ainda est\u00e1 nos seus prim\u00f3rdios, mas Maggie Wood, diretora-executiva do Conselho de Conserva\u00e7\u00e3o da Austr\u00e1lia Ocidental (uma organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos que representa mais de 100 grupos ambientais em todo o Estado), afirma que a ind\u00fastria est\u00e1 sendo cuidadosamente acompanhada.<\/p>\n\n\n\n

“Por um lado, sabemos que precisamos reduzir a pegada de carbono o mais r\u00e1pido poss\u00edvel e min\u00e9rios fundamentais, como o l\u00edtio e uma s\u00e9rie de outros, s\u00e3o parte desse caminho”, afirma Woods. “Mas tamb\u00e9m sabemos que a minera\u00e7\u00e3o destr\u00f3i o meio ambiente.”<\/p>\n\n\n\n

Os ambientalistas j\u00e1 levantaram preocupa\u00e7\u00f5es, por exemplo, de que o sedimento da mina do Projeto de L\u00edtio de Finniss, na Austr\u00e1lia Meridional, pode ter contaminado um riacho pr\u00f3ximo. A BBC entrou em contato com a Core Lithium, dona do Projeto de L\u00edtio de Finniss, para responder a essas afirma\u00e7\u00f5es, mas n\u00e3o recebeu resposta.<\/p>\n\n\n\n

Kirsty Howey, uma das diretoras do Centro Ambiental do Territ\u00f3rio do Norte (organismo ambiental do Territ\u00f3rio), afirma que est\u00e1 preocupada com o impacto ambiental cumulativo da abertura de diversas minas para extrair dep\u00f3sitos de l\u00edtio entre Darwin – a capital do Territ\u00f3rio do Norte – e o famoso Parque Nacional de Litchfield, a uma hora de carro ao sul da cidade.<\/p>\n\n\n\n

“Existem terrenos de l\u00edtio por todo o caminho”, afirma Howey. “Voc\u00ea tem essas vastas \u00e1reas do Territ\u00f3rio bastante preservadas pelos padr\u00f5es globais que agora est\u00e3o sujeitas [a permiss\u00f5es para minera\u00e7\u00e3o futura de l\u00edtio].”<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 um ecossistema tropical, de forma que voc\u00ea tem maior risco de ciclones, voc\u00ea tem enormes chuvas – a chuva \u00e9 a inimiga da minera\u00e7\u00e3o. \u00c9 com ela que os metais s\u00e3o levados para os cursos d’\u00e1gua e causam danos”, explica Howey. “Temos que suspender o desenvolvimento dos combust\u00edveis f\u00f3sseis, mas tamb\u00e9m precisamos controlar a minera\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

A BBC entrou em contato com o Conselho de Minerais da Austr\u00e1lia, o organismo que representa a ind\u00fastria de minera\u00e7\u00e3o do pa\u00eds, em busca de coment\u00e1rios sobre as preocupa\u00e7\u00f5es a respeito do impacto da minera\u00e7\u00e3o do l\u00edtio, mas n\u00e3o recebeu resposta at\u00e9 a publica\u00e7\u00e3o desta reportagem.<\/p>\n\n\n\n

Alguns dos l\u00edderes pol\u00edticos da Austr\u00e1lia argumentam que obter metais para reduzir a pegada de carbono \u00e9 a prioridade.<\/p>\n\n\n\n

No in\u00edcio de outubro, quando o Projeto de L\u00edtio de Finniss abriu o terreno a 80 km de Darwin, a Ministra da Ind\u00fastria e da Minera\u00e7\u00e3o do Territ\u00f3rio do Norte Nicole Manison estava no local.<\/p>\n\n\n\n

Em pronunciamento \u00e0 imprensa, a Ministra disse: “precisamos ser realistas sobre esta transi\u00e7\u00e3o. Existem materiais que voc\u00ea certamente precisa minerar para atingir a redu\u00e7\u00e3o de carbono e combater as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas de frente – e muitos desses materiais s\u00e3o dispon\u00edveis no Territ\u00f3rio do Norte.”<\/p>\n\n\n\n

Os problemas da minera\u00e7\u00e3o de l\u00edtio na Austr\u00e1lia n\u00e3o s\u00e3o diferentes dos geralmente verificados na ind\u00fastria. A minera\u00e7\u00e3o a c\u00e9u aberto escava cicatrizes profundas na paisagem, muitas vezes em ecossistemas que j\u00e1 est\u00e3o sob press\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

As opera\u00e7\u00f5es de minera\u00e7\u00e3o podem levantar poeira, que pode contaminar os cursos d’\u00e1gua ou ser levada at\u00e9 as cidades, onde pode ser inalada pela popula\u00e7\u00e3o. Chuvas fortes podem deslocar os minerais e lev\u00e1-los com a \u00e1gua para os rios pr\u00f3ximos ou causar sua infiltra\u00e7\u00e3o no len\u00e7ol fre\u00e1tico.<\/p>\n\n\n\n

E, quando uma mina fecha, os trabalhos de reabilita\u00e7\u00e3o podem n\u00e3o ter sido adequadamente planejados ou seus operadores simplesmente desaparecem da noite para o dia.<\/p>\n\n\n\n

Gavin Mudd afirma que esses problemas podem ser administrados. Estimativas indicam que a minera\u00e7\u00e3o de l\u00edtio de rochas s\u00f3lidas ser\u00e1 respons\u00e1vel pela emiss\u00e3o de 10 milh\u00f5es de toneladas de CO2 at\u00e9 2030, mas as refinarias podem ser constru\u00eddas perto da fonte de extra\u00e7\u00e3o para evitar o transporte para o exterior e assim reduzir parte das emiss\u00f5es causadas pelo transporte.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto isso, no Canad\u00e1, uma mina de ouro demonstrou que o equipamento de minera\u00e7\u00e3o pode ser eletrificado, possibilitando o uso de energia renov\u00e1vel para alimentar os seus sistemas e reduzir as emiss\u00f5es de CO2.<\/p>\n\n\n\n

Mudd tamb\u00e9m observa que o l\u00edtio provavelmente n\u00e3o ser\u00e1 minerado de forma t\u00e3o intensiva na Austr\u00e1lia e, ao contr\u00e1rio do esperado, pode resultar em redu\u00e7\u00e3o l\u00edquida da atividade de minera\u00e7\u00e3o em geral, \u00e0 medida que se reduz a demanda de carv\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Na Austr\u00e1lia, estamos minerando algo da ordem de cinco a oito bilh\u00f5es de toneladas [de rocha residual] por ano, apenas para conseguir nosso carv\u00e3o”, afirma ele. “As pessoas n\u00e3o est\u00e3o calculando que, se excluirmos o carv\u00e3o da equa\u00e7\u00e3o, o impacto \u00e9 enorme.”<\/p>\n\n\n\n

“Para mim, tudo traz muita esperan\u00e7a”, segundo ele. “Ainda existem quest\u00f5es sobre a forma de fazer as coisas, mas n\u00e3o \u00e9 um problema com o l\u00edtio, \u00e9 um problema com a forma em que regulamentamos a minera\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 preciso reciclar<\/h2>\n\n\n\n
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Reciclagem pode reduzir a necessidade de novas minas de l\u00edtio – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Outra forma de reduzir ainda mais esses impactos \u00e9 diminuir a necessidade de novas minas de l\u00edtio, ampliando as taxas de reciclagem. Atualmente, a Austr\u00e1lia recicla apenas 10% das suas baterias de \u00edons de l\u00edtio usadas.<\/p>\n\n\n\n

Libby Chaplin, executiva-chefe do Conselho de Gerenciamento de Baterias (BSC, na sigla em ingl\u00eas), uma organiza\u00e7\u00e3o criada para supervisionar a reciclagem de baterias usadas onde, de outra forma, seria caro demais para a ind\u00fastria privada, afirma que a reciclagem ir\u00e1 se tornar uma quest\u00e3o premente no final da d\u00e9cada, quando as baterias dos ve\u00edculos el\u00e9tricos come\u00e7arem a atingir o final da sua vida \u00fatil.<\/p>\n\n\n\n

“Se n\u00e3o cuidarmos deste assunto, em um futuro n\u00e3o muito distante, teremos um problema muito s\u00e9rio de baterias usadas e pilhas de baterias de l\u00edtio de ve\u00edculos el\u00e9tricos estocadas”, afirma Chaplin”. “\u00c9 a \u00faltima coisa que queremos, pois a armazenagem de baterias de ve\u00edculos el\u00e9tricos pode ser problem\u00e1tica.”<\/p>\n\n\n\n

Para Chaplin, se come\u00e7ar agora em pequena escala, a Austr\u00e1lia pode construir a infraestrutura adequada para impedir que isso se torne um problema, particularmente porque a dist\u00e2ncia \u00e9 uma dificuldade. A necessidade de coleta, transporte e sele\u00e7\u00e3o de materiais atrav\u00e9s de um pa\u00eds continental \u00e9 algo caro e dif\u00edcil, mas a Austr\u00e1lia tem bons exemplos a seguir.<\/p>\n\n\n\n

Chaplin indica o sistema australiano de reciclagem de baterias automotivas de chumbo-\u00e1cido, que muitos consideram um sucesso, para demonstrar como isso pode ser feito. E j\u00e1 existem medidas sendo tomadas nessa dire\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Em janeiro de 2022, o BSC formou um esquema colaborativo em parceria com fabricantes de baterias que aumentou a taxa de recupera\u00e7\u00e3o de pequenas baterias, de menos de 8% para mais de 16% em seis meses.<\/p>\n\n\n\n

Para cada bateria importada, os fabricantes pagam 4 centavos de d\u00f3lar australiano (US$ 0,03, cerca de R$ 0,16) por unidade de bateria equivalente (24 g) para participar do esquema. Esse valor \u00e9 depositado em um fundo que cobre o custo de transporte dos locais de coleta em todo o pa\u00eds at\u00e9 os centros de reciclagem.<\/p>\n\n\n\n

Este programa n\u00e3o inclui apenas as baterias de \u00edons de l\u00edtio, mas mostra como enormes ganhos podem ser atingidos com rapidez.<\/p>\n\n\n\n

Algumas pessoas questionam se \u00e9 poss\u00edvel uma ind\u00fastria de reciclagem de l\u00edtio em larga escala. Chaplin acredita que sim.<\/p>\n\n\n\n

O l\u00edtio representa apenas 1% da bateria de um carro el\u00e9trico, mas a maior parte dos materiais – a\u00e7o, pl\u00e1stico, alum\u00ednio e cobre – \u00e9 recuper\u00e1vel. O restante – que inclui l\u00edtio, grafite e cobalto – \u00e9 mais dif\u00edcil, mas tamb\u00e9m pode ser recuperado.<\/p>\n\n\n\n

Chaplin afirma que, desses materiais, a prioridade deve ser a recupera\u00e7\u00e3o de cobalto, que \u00e9 o metal cuja minera\u00e7\u00e3o mais destr\u00f3i o meio ambiente. Cerca de 70% da produ\u00e7\u00e3o mundial atualmente t\u00eam origem na Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo.<\/p>\n\n\n\n

Acredita-se que recuperar esse “valor perdido” pode atingir US$ 3,1 bilh\u00f5es (cerca de R$ 16,6 bilh\u00f5es). E a Uni\u00e3o Europeia, que aprovou uma norma sobre baterias que exige que os fabricantes misturem pelo menos 4% de l\u00edtio reciclado nas baterias novas, demonstrou como as regulamenta\u00e7\u00f5es podem ajudar.<\/p>\n\n\n\n

Chaplin concorda que \u00e9 preciso melhorar a reciclagem das baterias de l\u00edtio para minimizar a demanda por mais extra\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o podemos conversar sobre o l\u00edtio ou as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas sem discutir como garantir que essas baterias sejam recuperadas no final da sua vida \u00fatil”, afirma ela. “Ap\u00f3s a extra\u00e7\u00e3o, temos a obriga\u00e7\u00e3o de manter o material em uso.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"