{"id":180761,"date":"2022-11-22T19:17:56","date_gmt":"2022-11-22T22:17:56","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=180761"},"modified":"2022-11-22T19:18:04","modified_gmt":"2022-11-22T22:18:04","slug":"por-que-a-alemanha-ainda-nao-abandonou-a-energia-nuclear","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/11\/22\/180761-por-que-a-alemanha-ainda-nao-abandonou-a-energia-nuclear.html","title":{"rendered":"Por que a Alemanha ainda n\u00e3o abandonou a energia nuclear?"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a><\/figure>\n\n\n\n

Ap\u00f3s d\u00e9cadas de debates sobre o fim das usinas nucleares, pa\u00eds se v\u00ea diante de novo dilema provocado pela guerra na Ucr\u00e2nia e a decorrente crise energ\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n

A coluna de fuma\u00e7a pode ser vista subindo no c\u00e9u a quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia, mas encontrar o reator nuclear n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o f\u00e1cil. A Usina Nuclear de Emsland est\u00e1 escondida entre um bosque e uma f\u00e1brica de produtos qu\u00edmicos, silenciosamente gerando energia para a Alemanha apenas 10 quil\u00f4metros ao sul do centro de Lingen, uma pequena cidade na Baixa Sax\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

“Sinceramente, a gente at\u00e9 esquece”, diz Christine, uma mulher de 44 anos que cresceu na \u00e1rea, em entrevista concedida \u00e0 DW nas ruas de tijolos vermelhos de Lingen. “E confiamos e esperamos que tudo fique bem.”<\/p>\n\n\n\n

O reator Emsland \u00e9 uma das tr\u00eas \u00faltimas usinas nucleares da Alemanha. Todas as tr\u00eas deveriam ser fechadas definitivamente na pr\u00f3xima v\u00e9spera de Ano Novo, encerrando completamente a produ\u00e7\u00e3o de\u00a0energia nuclear\u00a0na Alemanha. At\u00e9 a R\u00fassia come\u00e7ar a travar uma\u00a0guerra na Ucr\u00e2nia.<\/p>\n\n\n\n

“Na verdade, vejo-me como algu\u00e9m que \u00e9 contra a energia nuclear”, diz Christine. “Mas devo admitir que vemos a situa\u00e7\u00e3o de maneira um pouco diferente agora.”<\/p>\n\n\n\n

Grande mudan\u00e7a pol\u00edtica<\/h2>\n\n\n\n

At\u00e9 recentemente, a R\u00fassia era um importante parceiro energ\u00e9tico da Alemanha, fornecendo ao pa\u00eds a maior parte de seu petr\u00f3leo e g\u00e1s natural. Mas as tens\u00f5es em meio \u00e0 guerra na Ucr\u00e2nia derrubaram essa parceria. A Alemanha teve ent\u00e3o que correr atr\u00e1s de\u00a0fornecedores alternativos, \u00e0 medida que os meses de inverno se aproximam na Europa e os pre\u00e7os de energia sobem.<\/p>\n\n\n\n

Agora o pa\u00eds est\u00e1 repensando sua estrat\u00e9gia de extin\u00e7\u00e3o nuclear. Hoje, os tr\u00eas reatores existentes na Alemanha produzem cerca de 6% da eletricidade consumida do pa\u00eds. Mas nem sempre foi assim: na d\u00e9cada de 1990, 19 usinas nucleares eram respons\u00e1veis por cerca de um ter\u00e7o do fornecimento de energia na Alemanha.<\/p>\n\n\n\n

Foi ent\u00e3o que, em 1998, um novo governo de centro-esquerda, formado pelos social-democratas e pelo Partido Verde, moveu-se para se livrar da energia nuclear, um objetivo de longa data dos verdes. A proemin\u00eancia do partido come\u00e7ou a decolar na d\u00e9cada de 1980, quando protestou contra os perigos das armas nucleares e da energia nuclear no contexto da Guerra Fria. A constru\u00e7\u00e3o de novas usinas nucleares na Alemanha terminou em 2002, e foram feitos planos para eliminar gradualmente todas as instala\u00e7\u00f5es existentes nas d\u00e9cadas seguintes.<\/p>\n\n\n\n

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Protestos antinucleares levaram \u00e0 funda\u00e7\u00e3o do Partido Verde da Alemanha e alimentaram desconfian\u00e7a p\u00fablica em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 tecnologia<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Tecnologia “fascinante'”<\/h2>\n\n\n\n

Mas o longo drama da Alemanha com a energia nuclear n\u00e3o estava nem perto de terminar. Em 2010, uma coaliz\u00e3o de conservadores e liberais chegou ao poder e estendeu o uso da energia nuclear por at\u00e9 14 anos. No entanto, apenas um ano depois, derretimentos e explos\u00f5es na\u00a0usina nuclear de Fukushima, no Jap\u00e3o, levaram a Alemanha a reverter completamente essa pol\u00edtica. O governo voltou ent\u00e3o ao plano de extin\u00e7\u00e3o nuclear at\u00e9 o final de 2022.<\/p>\n\n\n\n

Isso at\u00e9 outubro deste ano, quando o chanceler federal alem\u00e3o, Olaf Scholz,\u00a0ordenou que as\u00a0tr\u00eas usinas nucleares remanescentes do pa\u00eds continuassem\u00a0operando at\u00e9 meados de abril de 2023.<\/p>\n\n\n\n

Em entrevista \u00e0 DW na semana de sua pr\u00f3pria aposentadoria da ind\u00fastria, o eletricista Franz-Josef Thiering, morador de Lingen, n\u00e3o se diz  surpreso com o fato de a Alemanha estar lutando para romper com a energia nuclear. Durante um caf\u00e9 em sua casa, ele mostra um modelo de uma lasca de ur\u00e2nio, presenteado pela empresa de barras de combust\u00edvel de ur\u00e2nio onde trabalhou. Envolto em um pl\u00e1stico transparente, h\u00e1 um quadrado fino e escuro do tamanho de uma unha do dedo mindinho. Duas lascas como essas podem abastecer uma resid\u00eancia m\u00e9dia na Alemanha por um ano, diz Thiering.<\/p>\n\n\n\n

“Isso me fascina”, disse ele. “Isso \u00e9 f\u00edsica.”<\/p>\n\n\n\n

Demanda crescente por energia<\/h2>\n\n\n\n

\u00c9 ingenuidade descartar a import\u00e2ncia da eletricidade produzida pelas usinas nucleares da Alemanha enquanto o pa\u00eds tenta fazer uma transi\u00e7\u00e3o para a energia verde, diz Thiering.<\/p>\n\n\n\n

“Precisaremos de mais energia el\u00e9trica no futuro. Isso \u00e9 fato”, disse ele, pensando em coisas como\u00a0carros el\u00e9tricos\u00a0e bombas de calor. “E 6% pode ser muito a perder quando n\u00e3o h\u00e1 nada novo [para substituir as usinas]. Estar\u00edamos perdendo 6% quando, na verdade, precisaremos de mais.”<\/p>\n\n\n\n

Muitos alem\u00e3es parecem concordar. Embora a maioria no pa\u00eds\u00a0seja a favor do abandono da energia nuclear\u00a0ap\u00f3s o desastre de Fukushima, em agosto deste ano mais de 80% se disseram a favor da extens\u00e3o da vida \u00fatil dos reatores nucleares existentes na Alemanha, de acordo com uma pesquisa da emissora alem\u00e3 ARD.<\/p>\n\n\n\n

Medo de desastres<\/h2>\n\n\n\n

Mas o medo de um desastre nuclear e a quest\u00e3o n\u00e3o resolvida sobre o que fazer com o\u00a0lixo nuclear radioativo\u00a0ainda convencem muitos de que a extens\u00e3o do funcionamento das usinas \u00e9 a decis\u00e3o errada.<\/p>\n\n\n\n

Claudia Kemfert, professora de economia energ\u00e9tica na Hertie School of Governance, em Berlim, aponta como exemplo a vizinha\u00a0Fran\u00e7a, altamente dependente da energia nuclear.<\/p>\n\n\n\n

“Metade das novas usinas nucleares [na Fran\u00e7a] est\u00e3o desativadas e porque t\u00eam problemas de seguran\u00e7a”, disse Kemfert \u00e0 DW. “Na Alemanha, temos o mesmo problema. As inspe\u00e7\u00f5es de seguran\u00e7a n\u00e3o s\u00e3o feitas h\u00e1 mais de 15 anos. E precisamos faz\u00ea-las com urg\u00eancia para ver se temos o mesmo problema que a Fran\u00e7a.”<\/p>\n\n\n\n

Ela tamb\u00e9m destaca que a energia nuclear \u00e9 um substituto ruim para o g\u00e1s natural, que al\u00e9m de eletricidade, tamb\u00e9m pode ser usado para aquecimento.<\/p>\n\n\n\n

Pegada de carbono reduzida<\/h2>\n\n\n\n

Ainda assim, muitos agora passaram a ver a energia nuclear como prefer\u00edvel \u00e0 retomada da\u00a0queima de carv\u00e3o, outra estrat\u00e9gia que a Alemanha adotou\u00a0em meio \u00e0 atual crise energ\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n

As usinas nucleares produzem 117 gramas de emiss\u00f5es de CO2 por quilowatt-hora, de acordo com o grupo antinuclear holand\u00eas WISE, enquanto a queima de linhito, um tipo de carv\u00e3o, produz mais de 1.000 gramas de emiss\u00f5es de CO2 por quilowatt-hora.<\/p>\n\n\n\n

Apesar das circunst\u00e2ncias var\u00edaveis, Thiering n\u00e3o teme que a extens\u00e3o tempor\u00e1ria se transforme em um renascimento nuclear total na Alemanha. “Acho que estamos falando de pouco tempo, na verdade. Como se fosse uma ponte”, conclui.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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