{"id":180765,"date":"2022-11-22T19:24:07","date_gmt":"2022-11-22T22:24:07","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=180765"},"modified":"2022-11-22T19:24:10","modified_gmt":"2022-11-22T22:24:10","slug":"joenia-wapichana-foi-um-mandato-de-resistencia-a-boiada","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/11\/22\/180765-joenia-wapichana-foi-um-mandato-de-resistencia-a-boiada.html","title":{"rendered":"Joenia Wapichana: “Foi um mandato de resist\u00eancia \u00e0 boiada”"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a><\/figure>\n\n\n\n

Amea\u00e7ada por garimpeiros por defender ind\u00edgenas, deputada federal espera que, ap\u00f3s “desgoverno” Bolsonaro, haja avan\u00e7os sob Lula e com a prometida cria\u00e7\u00e3o do Minist\u00e9rio dos Povos Ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

Perto do fim de seu mandato como deputada federal, Joenia Wapichana, a\u00a0primeira mulher ind\u00edgena eleita para o Congresso, sabia que teria uma estreia dif\u00edcil. L\u00edder\u00a0do seu partido (Rede) na C\u00e2mara, a advogada diz ter evitado muita “tratorada” e\u00a0“boiada”\u00a0nos embates com deputados, em refer\u00eancia a projetos de lei considerados anti-ind\u00edgenas e antiambientais.<\/p>\n\n\n\n

Formada em Direito pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), ela atua h\u00e1 d\u00e9cadas como assessora jur\u00eddica em movimentos ind\u00edgenas. Em 2008, foi a primeira advogada ind\u00edgena a defender no Supremo Tribunal Federal (STF) o pol\u00eamico caso da Terra Ind\u00edgena Raposa Serra do Sol.<\/p>\n\n\n\n

Durante a recente 27\u00aa Confer\u00eancia das Na\u00e7\u00f5es Unidas sobre as Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas (COP27), no Egito, ela conversou com a DW sobre suas expectativas em rela\u00e7\u00e3o\u00a0a um Minist\u00e9rio dos Povos Origin\u00e1rios, promessa de campanha do presidente eleito Luiz In\u00e1cio Lula da Silva que foi\u00a0reiterada ap\u00f3s a vit\u00f3ria dele na corrida presidencial contra Jair Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

“Esperamos, principalmente, um avan\u00e7o na prote\u00e7\u00e3o territorial”, disse Wapichana sobre a demarca\u00e7\u00e3o de terras ind\u00edgenas, paralisada sob Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s esperamos muito tempo por uma recomposi\u00e7\u00e3o do Estado brasileiro que reconhecesse a import\u00e2ncia dos povos ind\u00edgenas. Ent\u00e3o esse espa\u00e7o tem que ser de respeito. Os povos ind\u00edgenas t\u00eam toda a capacidade hoje de estarem fazendo e encaminhando suas pr\u00f3prias demandas”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

DW: A senhora est\u00e1 chegando ao fim do mandato de deputada federal, eleita como a primeira mulher ind\u00edgena na C\u00e2mara. Como foram esses quatro anos de trabalho sob o governo de Jair Bolsonaro?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Joenia Wapichana:<\/strong> Foram dif\u00edceis, mas quem disse que seria f\u00e1cil? Dentro de um governo fascista, negacionista, dentro de um governo anti-ind\u00edgena, antiambientalista.<\/p>\n\n\n\n

Foi um momento de resist\u00eancia, de resili\u00eancia, mas tamb\u00e9m de mostrar a capacidade de uma ind\u00edgena vinda de Roraima, um estado que rebate direitos ind\u00edgenas como demarca\u00e7\u00e3o das terras e que tem posicionamento antiambiental. Um estado com uma s\u00e9rie de casos a serem resolvidos, como a invas\u00e3o dos\u00a0garimpeiros na Terra Ind\u00edgena Yanomami.<\/p>\n\n\n\n

A minha atua\u00e7\u00e3o parlamentar, a partir do meu estado, do meu povo, sendo indicada a partir de uma assembleia ind\u00edgena, mostrou que \u00e9 poss\u00edvel fazer uma pol\u00edtica diferente. Uma pol\u00edtica que vem trazer o olhar ind\u00edgena, a quest\u00e3o do valor da coletividade, de manter a floresta em p\u00e9. Como ind\u00edgena origin\u00e1ria, eu diria que foi um mandato de resist\u00eancia. N\u00e3o tem nome mais apropriado que esse.<\/p>\n\n\n\n

Tentamos resistir \u00e0 boiada, \u00e0 tratorada, seguramos o m\u00e1ximo poss\u00edvel todos os projetos antiambientais e anti-ind\u00edgenas. Conseguimos segurar muitas coisas. Acho que esta nova legislatura que vem a\u00ed vai continuar sendo uma quest\u00e3o de resist\u00eancia, mas tamb\u00e9m propositiva.<\/p>\n\n\n\n

O meu mandato contou muito tamb\u00e9m com o apoio da sociedade civil organizada, que nos deu a for\u00e7a para ser coerentes com os compromissos que nosso pa\u00eds precisa avan\u00e7ar.<\/p>\n\n\n\n

Aqui na Confer\u00eancia do Clima eu falei sobre o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) da Seguran\u00e7a Clim\u00e1tica. Foi fruto de uma mobiliza\u00e7\u00e3o de pessoas em todo o pa\u00eds. N\u00f3s conseguimos aprovar o relat\u00f3rio na Comiss\u00e3o de Constitui\u00e7\u00e3o e Justi\u00e7a (CCJ) no m\u00eas passado.<\/p>\n\n\n\n

Foram muitos embates com a bancada ruralista?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Muitos. Mas a gente conseguiu manter alguns direitos. Lutamos no momento que era mais necess\u00e1rio em favor dos povos ind\u00edgenas. Fui relatora do projeto que foi aprovado, o plano de enfrentamento \u00e0 covid<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m do negacionismo de Bolsonaro neste desgoverno, a gente enfrentou anos de uma pandemia que matou muitos brasileiros e afetou tamb\u00e9m as comunidades ind\u00edgenas. Ent\u00e3o, o fato de eu ser parlamentar permitiu que outras autoridades pudessem ouvir os povos ind\u00edgenas e a gente pudesse construir uma pol\u00edtica para salvar vidas.<\/p>\n\n\n\n

O mandato teve essa vis\u00e3o de trazer os povos ind\u00edgenas n\u00e3o s\u00f3 pela voz, pelo simbolismo, mas pela capacidade que n\u00f3s temos de representar o nosso povo politicamente dentro do Parlamento brasileiro e, assim, usar as ferramentas que o Parlamento nos d\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

O\u00a0Congresso que assume no ano que vem\u00a0contar\u00e1 com\u00a0duas mulheres ind\u00edgenas eleitas\u00a0, mas tamb\u00e9m v\u00e1rios candidatos que se elegeram apoiando Bolsonaro. O que esperar desta legislatura?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A gente j\u00e1 tinha um Congresso, digamos, bastante pesado. Infelizmente, o Executivo tamb\u00e9m era pesado. O governo fechou o di\u00e1logo com povos ind\u00edgenas, rompeu com toda a sociedade civil, fechou participa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Agora vem o governo Lula, que eu defendi, mesmo sendo amea\u00e7ada l\u00e1 no meu estado de Roraima por garimpeiros. Mas eu vejo que \u00e9 um novo governo que vai dar possibilidade de di\u00e1logo. <\/p>\n\n\n\n

Agora a gente tem uma quest\u00e3o essencial, que \u00e9 o presidente Lula no Executivo, que \u00e9 uma pessoa que tem demonstrado abertura para o di\u00e1logo, principalmente, e maturidade muito importante de exercer uma presid\u00eancia e juntar pessoas.<\/p>\n\n\n\n

Espero que esse seja o diferencial desta legislatura em que, antes mesmo de ele tomar posse, j\u00e1 inicia di\u00e1logo com os partidos. \u00c9 assim que \u00e9 a pol\u00edtica, uma conversa, um di\u00e1logo, para ter espa\u00e7o para propor e decidir.<\/p>\n\n\n\n

A partir do Executivo, \u00e9 poss\u00edvel trabalhar pol\u00edticas p\u00fablicas, reformar, resgatar, recuperar agendas importantes, como a socioambiental, ind\u00edgena, clim\u00e1tica. D\u00e1 para fazer a\u00e7\u00f5es e programas positivos no sentido de proteger a floresta, os guardi\u00f5es que est\u00e3o na ponta.<\/p>\n\n\n\n

Eu sei que vai ser um desafio muito grande. No Brasil, como em todo o mundo, existe uma crise social, uma crise econ\u00f4mica, que a gente precisa conciliar. Mas s\u00f3 o fato de ter um compromisso afirmado, e\u00a0reafirmado pelo presidente aqui na COP, nos d\u00e1 a clareza que vai ser importante o Lula ali.<\/p>\n\n\n\n

Como a senhora imagina um Minist\u00e9rio dos Povos Origin\u00e1rios, algo in\u00e9dito na hist\u00f3ria do pa\u00eds?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Primeiro, que precisa ser em constru\u00e7\u00e3o com os povos ind\u00edgenas. Um espa\u00e7o de articula\u00e7\u00e3o, de fortalecimento das pol\u00edticas p\u00fablicas, de direito, de implementa\u00e7\u00e3o. N\u00f3s temos muitos planos, mas falta implementa\u00e7\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

Esperamos di\u00e1logo com os povos ind\u00edgenas, que v\u00eam de diferentes regi\u00f5es, biomas, culturas. Esperamos, principalmente, um avan\u00e7o na prote\u00e7\u00e3o territorial.<\/p>\n\n\n\n

N\u00f3s esperamos muito tempo por uma recomposi\u00e7\u00e3o do Estado brasileiro que reconhecesse a import\u00e2ncia dos povos ind\u00edgenas. Ent\u00e3o esse espa\u00e7o tem que ser de respeito. Os povos ind\u00edgenas t\u00eam toda a capacidade hoje de estarem fazendo e encaminhando suas pr\u00f3prias demandas.<\/p>\n\n\n\n

Foram quatro anos de desmonte de pol\u00edticas p\u00fablicas e que merecem urg\u00eancia. Seria o minist\u00e9rio para fortalecer a rela\u00e7\u00e3o dos ind\u00edgenas com o Estado brasileiro.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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