{"id":181367,"date":"2023-01-18T19:33:58","date_gmt":"2023-01-18T22:33:58","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=181367"},"modified":"2023-01-18T19:34:02","modified_gmt":"2023-01-18T22:34:02","slug":"america-latina-caribe-e-onde-comer-saudavel-custa-mais-caro","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2023\/01\/18\/181367-america-latina-caribe-e-onde-comer-saudavel-custa-mais-caro.html","title":{"rendered":"Am\u00e9rica Latina, Caribe \u00e9 onde comer saud\u00e1vel custa mais caro"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a><\/figure>\n\n\n\n

Relat\u00f3rio da FAO alerta para crise da seguran\u00e7a alimentar nos pa\u00edses latino-americanos e caribenhos em contexto de crise e p\u00f3s-pandemia. Alta de pre\u00e7os de alimentos ficou 3 pontos percentuais acima da infla\u00e7\u00e3o na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Muitas vezes os n\u00fameros servem\u00a0para dar a dimens\u00e3o exata daquilo que \u00e9 naturalmente inexplic\u00e1vel. No caso da dor de quem tem\u00a0fome\u00a0porque n\u00e3o pode pagar pelo m\u00ednimo, relat\u00f3rio divulgado nesta quarta-feira (18\/01) pela Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas para a Alimenta\u00e7\u00e3o e a Agricultura (FAO), mostra o tamanho do drama dos latino-americanos e caribenhos mais pobres nos \u00faltimos tempos.<\/p>\n\n\n\n

Em an\u00e1lise de 12 meses at\u00e9 junho de 2022, o levantamento confirmou que a infla\u00e7\u00e3o geral de todos os pa\u00edses da Am\u00e9rica Latina e do Caribe foi alta, refletindo a tend\u00eancia\u00a0mundial:\u00a08,9%. Mas se isso, por si s\u00f3, dificulta a vida dos habitantes, a realidade refletida no fundo do prato vazio das\u00a0popula\u00e7\u00f5es vulner\u00e1veis\u00a0desses pa\u00edses \u00e9 ainda pior. Porque, no mesmo per\u00edodo, o pre\u00e7o dos alimentos subiu 11,9%, ou seja, tr\u00eas pontos percentuais a mais do que a infla\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

O relat\u00f3rio lembra que o peso da alimenta\u00e7\u00e3o no bolso das fam\u00edlias de baixa renda \u00e9 ainda maior porque o valor proporcionalmente gasto com comida pelos mais pobres \u00e9 maior do que pelos mais ricos. Por isso, a chamada “infla\u00e7\u00e3o alimentar\u201d d\u00f3i mais no bolso (e no est\u00f4mago) daqueles que ganham menos.<\/p>\n\n\n\n

O documento\u00a0Panorama da Seguran\u00e7a Alimentar e Nutricional na Am\u00e9rica Latina e no Caribe 2022<\/em>\u00a0foi divulgado \u00e0s 12h30 (hor\u00e1rio de Bras\u00edlia) desta quarta-feira no escrit\u00f3rio da FAO em Santiago,\u00a0Chile. O trabalho envolveu outras quatro entidades, al\u00e9m da FAO: o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agr\u00edcola (Fida), a Organiza\u00e7\u00e3o Pan-Americana de Sa\u00fade (Opas\/OMS), o Programa Mundial de Alimentos das Na\u00e7\u00f5es Unidas (WFP) e o Fundo das Na\u00e7\u00f5es Unidas Unidas para a Inf\u00e2ncia (Unicef).<\/p>\n\n\n\n

O levantamento concluiu que atualmente s\u00e3o 131 milh\u00f5es de indiv\u00edduos de toda a Am\u00e9rica Latina e o Caribe que n\u00e3o podem pagar por uma dieta saud\u00e1vel. Isso equivale a 22,5% da popula\u00e7\u00e3o total de toda a regi\u00e3o: 52% do Caribe, 27,8% da Am\u00e9rica Central e 18,4% da Am\u00e9rica do Sul.<\/p>\n\n\n\n

O n\u00famero de famintos tamb\u00e9m teve um aumento de 30% entre 2019 e 2021, saltando de 43,3 milh\u00f5es para 56,5 milh\u00f5es. E, reflexo da alimenta\u00e7\u00e3o pouco ou nada saud\u00e1vel, a obesidade \u00e9 uma epidemia cada vez mais presente nesses pa\u00edses, atingindo um quarto dos adultos e um total de 3,9 milh\u00f5es de crian\u00e7as at\u00e9 os cinco anos de idade.<\/p>\n\n\n\n

A crise alimentar, portanto, como aponta o relat\u00f3rio, n\u00e3o causa apenas fome: tamb\u00e9m traz\u00a0problemas\u00a0como obesidade, anemia, atrasos no desenvolvimento infantil\u00a0e desnutri\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Pre\u00e7o do colonialismo<\/h2>\n\n\n\n

Segundo a FAO, a Am\u00e9rica Latina-Caribe \u00e9, hoje, o lugar mais caro do planeta algu\u00e9m comer de forma saud\u00e1vel: o custo \u00e9 de, no m\u00ednimo, 3,89 d\u00f3lares por pessoa, enquanto a m\u00e9dia mundial \u00e9 de 3,54 d\u00f3lares.<\/p>\n\n\n\n

Para o soci\u00f3logo e cientista pol\u00edtico Paulo Niccoli Ramirez, professor da Funda\u00e7\u00e3o Escola de Sociologia de S\u00e3o Paulo e da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a Am\u00e9rica Latina ainda paga o pre\u00e7o do per\u00edodo colonial.<\/p>\n\n\n\n

“Desde ent\u00e3o, historicamente, boa parte da produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola da regi\u00e3o \u00e9 direcionada para o mercado internacional. Os pre\u00e7os s\u00e3o taxados em euros ou d\u00f3lar, e como essas commodities  t\u00eam uma varia\u00e7\u00e3o atrelada ao cen\u00e1rio internacional, os alimentos se tornam mais caros nos pa\u00edses \u2018col\u00f4nia’.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Em outras palavras; o produtor de alimento no Brasil acaba enxergando mais vantagem na exporta\u00e7\u00e3o, em detrimento do mercado local. E este cen\u00e1rio tem sido especialmente intenso nos \u00faltimos anos, quando o real se desvalorizou frente a moedas fortes do mercado internacional, como o d\u00f3lar e euro. Segundo levantamento realizado em 2022 pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), o real perdeu quase 50% de seu valor e poder de compra em uma d\u00e9cada.<\/p>\n\n\n\n

Esse privil\u00e9gio do mercado externo em detrimento do interno tem duas consequ\u00eancias diretas nos insumos b\u00e1sicos: a escassez e o aumento dos pre\u00e7os. Ramirez defende que o governo federal tenha um programa de silagem de gr\u00e3os e cereais, como forma de criar um controle entre oferta e demanda que proteja o bolso do consumidor brasileiro, sobretudo no tocante \u00e0 alimenta\u00e7\u00e3o b\u00e1sica.<\/p>\n\n\n\n

Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o soci\u00f3logo Rog\u00e9rio Baptistini Mendes argumenta que “criar estoques reguladores de gr\u00e3os b\u00e1sicos” \u00e9 necess\u00e1rio para n\u00e3o “ficar ref\u00e9m de sazonalidades e externalidades”.<\/p>\n\n\n\n

“O grande\u00a0desafio\u00a0do [presidente] Lula ser\u00e1 negociar com o setor agr\u00e1rio brasileiro e convenc\u00ea-lo de que, embora seja importante manter as exporta\u00e7\u00f5es, o fundamental \u00e9 garantir o m\u00ednimo necess\u00e1rio para que a popula\u00e7\u00e3o possa se alimentar\u201d, afirma o soci\u00f3logo Ramirez.<\/p>\n\n\n\n

Propostas<\/h2>\n\n\n\n

No relat\u00f3rio, as entidades apresentam propostas para os pa\u00edses afetados melhorarem a situa\u00e7\u00e3o e garantirem maior seguran\u00e7a alimentar. Elas apontam a necessidade de programas de apoio a pequenos produtores e incentivo \u00e0 agricultura familiar, com foco na produ\u00e7\u00e3o de alimentos saud\u00e1veis, e ajudando esses agricultores a se conectarem com o sistema, inclusive privilegiando-os em eventuais compras realizadas por \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos.<\/p>\n\n\n\n

“No curto prazo, em pa\u00edses como o Brasil, o incentivo \u00e0 agricultura familiar \u00e9 uma sa\u00edda”, concorda o soci\u00f3logo Mendes. “Mas deve ser acompanhada de pol\u00edticas de m\u00e9dio e longo prazo, voltadas para a recupera\u00e7\u00e3o do rendimento dos sal\u00e1rios e transforma\u00e7\u00e3o sociocultural, com a cria\u00e7\u00e3o de uma cultura alimentar e de sa\u00fade.”<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m apresentou-se no documento a sugest\u00e3o de que sejam criadas plataformas de monitoramento de pre\u00e7os e trocas de informa\u00e7\u00f5es, proporcionando uma maior transpar\u00eancia da cadeia produtiva. Por fim, as institui\u00e7\u00f5es cobram maior investimento em programas de alimenta\u00e7\u00e3o escolar, com card\u00e1pios mais bem preparados, al\u00e9m de campanhas para o incentivo de alimentos saud\u00e1veis e pol\u00edticas fiscais para reduzir o consumo de alimentos altamente processados.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o relat\u00f3rio, a atual situa\u00e7\u00e3o enfrentada pela\u00a0Am\u00e9rica Latina e Caribe explica-se por uma combina\u00e7\u00e3o de fatores, que v\u00e3o das sucessivas crises econ\u00f4micas atravessadas nos \u00faltimos 15 anos \u00e0 maneira como a guerra entre R\u00fassia e Ucr\u00e2nia afeta o setor agr\u00edcola, passando pelos impactos econ\u00f4micos da pandemia de covid-19. As perdas agr\u00edcolas causadas pelo aquecimento global tamb\u00e9m est\u00e3o no cerne do problema, de acordo com o documento.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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