{"id":181412,"date":"2023-01-30T17:37:15","date_gmt":"2023-01-30T20:37:15","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=181412"},"modified":"2023-01-30T17:37:17","modified_gmt":"2023-01-30T20:37:17","slug":"como-brasileiro-criou-abelhas-assassinas-por-acidente-e-revolucionou-a-apicultura","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2023\/01\/30\/181412-como-brasileiro-criou-abelhas-assassinas-por-acidente-e-revolucionou-a-apicultura.html","title":{"rendered":"Como brasileiro criou ‘abelhas assassinas’ por acidente e revolucionou a apicultura"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Warwick Kerr temia que sua carreira ficasse marcada pelo acidente ocorrido em 1957, que deu origem \u00e0s abelhas africanizadas – ACERVO \/ SBPC<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ele foi engenheiro agr\u00f4nomo, geneticista e entomologista, professor de cinco universidades brasileiras e quatro dos Estados Unidos, al\u00e9m de ter sido o primeiro diretor cient\u00edfico da Funda\u00e7\u00e3o de Amparo \u00e0 Pesquisa do Estado de S\u00e3o Paulo (Fapesp), diretor do Instituto de Pesquisas da Amaz\u00f4nia (Inpa) por duas vezes e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci\u00eancia (SBPC) por dois mandatos.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Como se n\u00e3o bastasse, por onde passou criou departamentos e formou novos pesquisadores, mas quando se fala em seu nome o que vem primeiro \u00e0 mente de muita gente \u00e9 uma acidente ocorrido em 1957: a introdu\u00e7\u00e3o das abelhas africanas – injustamente chamadas de “abelhas assassinas \u2014 no Brasil.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o foi \u00e0 toa, portanto, que durante muitos anos, Warwick Estevam Kerr temesse que sua brilhante carreira ficasse marcada pelo epis\u00f3dio. Em uma entrevista para a revista Estudos Avan\u00e7ados, da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP), publicada em 2005, ele chegou a dizer:<\/p>\n\n\n\n

“Diante do erro cometido com as abelhas africanas, em 1957, eu n\u00e3o esperava que iria dar a volta por cima. Pensava que teria uma vida desgra\u00e7ada para o resto dos meus dias. At\u00e9 1978, as mulheres franziam a testa, mostravam-me para os filhos e diziam: ‘aquele \u00e9 o homem que introduziu a abelha brava no Brasil’.”<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
As abelhas africanizadas foram criadas a partir do cruzamento entre as abelhas africanas e europeias – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O tempo, no entanto, lhe fez justi\u00e7a. Nascido em Santana de Parna\u00edba, em 9 de setembro de 1922, Kerr se formou em Engenharia Agron\u00f4mica, em 1945, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP), em Piracicaba, na qual tamb\u00e9m fez doutorado e livre doc\u00eancia, e foi professor, de 1951 a 1955, e chefe do Departamento de Gen\u00e9tica por quatro meses.<\/p>\n\n\n\n

Em 1955, ele se mudou para Rio Claro, onde, a partir de 1958, foi chefe do Departamento de Biologia, da ent\u00e3o rec\u00e9m-criada Universidade Estadual Paulista (Unesp). De 1962 a 1964 foi diretor cient\u00edfico da Fapesp, cargo ao qual renunciou um m\u00eas antes do t\u00e9rmino do seu mandato para criar e assumir a chefia, em 1965, do Departamento de Gen\u00e9tica da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeir\u00e3o Preto, da qual se tornou professor titular por concurso em 1971.<\/p>\n\n\n\n

Nessa \u00e9poca, foi presidente da SBPC, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci\u00eancia, por dois mandatos, 1969-1971 e 1972-1973, per\u00edodo em que teve muitos problemas com a ditadura, que governava o pa\u00eds. Foi preso duas vezes, em 1964 e 1969 e chegou a ter sua numerosa fam\u00edlia, de sete filhos, amea\u00e7ada e sob vigil\u00e2ncia dos agentes do governo.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Warwick faleceu aos 96 anos, em 15 de setembro de 2018 – ARQUIVO PESSOAL \/ SBPC<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Depois de se aposentar da USP, em janeiro de 1981, Kerr foi para o Maranh\u00e3o, onde ficou por oito anos, per\u00edodo em que criou o Departamento de Gen\u00e9tica da Universidade Federal de l\u00e1 (UFMA) e foi reitor da universidade estadual (UEMA).<\/p>\n\n\n\n

Depois, em 1992, mesmo aposentado aos 70 anos, ele foi convidado para dar aulas, orientar alunos de doutorado e continuar suas pesquisas na Universidade Federal de Uberl\u00e2ndia (UFU), na qual permaneceu at\u00e9 2012. Nesse per\u00edodo, ele voltou a Manaus, em 1999, para novamente dirigir o Inpa por mais tr\u00eas anos.<\/p>\n\n\n\n

Para o tamb\u00e9m engenheiro agr\u00f4nomo Breno Magalhaes Freitas, do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Cear\u00e1 (UFC), a import\u00e2ncia de Kerr para a ci\u00eancia brasileira “foi enorme”.<\/p>\n\n\n\n

“Ele foi um cientista pioneiro em muitas \u00e1reas e levou a ci\u00eancia a todas as regi\u00f5es desse pa\u00eds, tendo formado v\u00e1rias gera\u00e7\u00f5es de pesquisadores brasileiros diretamente e inspirado tantos outros”, diz.<\/p>\n\n\n\n

“Junto com o padre Jesus Moure e o professor Paulo Nogueira-Neto, ele estabeleceu toda a base do conhecimento sobre as abelhas no Brasil”, acrescenta Freitas.<\/p>\n\n\n\n

No que diz respeito \u00e0 apicultura em si, o engenheiro agr\u00f4nomo lembra que Kerr ficou marcado pelo acidente com as abelhas africanas, mas que depois ficou claro n\u00e3o ter sido sua culpa.<\/p>\n\n\n\n

“E felizmente, mesmo por linhas tortas, a apicultura brasileira acabou se beneficiando enormemente da sua iniciativa de trazer as abelhas africanas, coragem de encarar as consequ\u00eancias quando os problemas aconteceram, mesmo n\u00e3o tendo sido sua responsabilidade”, explica.<\/p>\n\n\n\n

“Mas \u00e9 preciso tamb\u00e9m ressaltar o seu grande trabalho com as abelhas sem ferr\u00e3o, especialmente na regi\u00e3o Norte do Brasil.”<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
As abelhas africanizadas come\u00e7aram a se espalhar e deram origem ao mito das ‘abelhas assassinas’ – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O ‘acidente com as abelhas’<\/h2>\n\n\n\n

O t\u00e3o falado acidente com as abelhas africanas ocorreu um ano ap\u00f3s ele ter voltado da \u00c1frica, para onde havia ido, em 1956, para estudar de perto a produ\u00e7\u00e3o de mel naquele continente e, depois, aplicar seus novos conhecimentos na apicultura brasileira.<\/p>\n\n\n\n

O objetivo era aumentar a produtividade e a resist\u00eancia das abelhas europeias, que tinham sido introduzidas no Brasil, em 1839, mas que n\u00e3o haviam se adaptado muito bem ao pa\u00eds, com exce\u00e7\u00e3o das regi\u00f5es Sul e Sudeste.<\/p>\n\n\n\n

Na volta ao Brasil, como parte de sua bagagem, Kerr trouxe 51 rainhas – 50 da \u00c1frica do Sul e uma da Tanz\u00e2nia – da esp\u00e9cie Apis mellifera scutellata<\/em>, altamente produtiva, mas muito agressiva – ou defensiva, como preferem dizer os estudiosos das abelhas.<\/p>\n\n\n\n

Elas deram origem a colmeias, que foram postas em quarentena em um bosque de eucalipto no campus de Rio Claro da Unesp, para que apenas as mais mansas fossem escolhidas.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
As abelhas africanizadas s\u00e3o mais defensivas – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Para evitar que as rainhas fugissem para a natureza e se espalhassem, as colmeias foram fechadas por uma malha, que permitia a passagem apenas das oper\u00e1rias, que s\u00e3o menores.<\/p>\n\n\n\n

Um funcion\u00e1rio da equipe, imaginando que as abelhas estavam presas por engano, no entanto, retirou as malhas de algumas colmeias.<\/p>\n\n\n\n

Resultado: 26 rainhas escaparam, cruzaram com as europeias e deram origem a enxames de abelhas africanizadas, que se espalharam, primeiro por S\u00e3o Paulo, e depois por todo o Brasil e que hoje est\u00e3o pelas tr\u00eas Am\u00e9ricas.<\/p>\n\n\n\n

Sem predadores naturais no novo lar e muito agressivas, aonde chegavam e se instalavam “tocavam o terror”.<\/p>\n\n\n\n

“De 1957 at\u00e9 1964 essas abelhas cruzaram-se com as alem\u00e3s, italianas e portuguesas”, contou Kerr, na mesma entrevista para Estudos Avan\u00e7ados.<\/p>\n\n\n\n

“Por\u00e9m, houve um grande problema: os apicultores colocavam seus api\u00e1rios pr\u00f3ximos aos galinheiros, pocilgas, cocheiras. Houve mortes de galinhas, porcos, cavalos, e a mortalidade de gente, que era de 120 por ano, passou para 180.”<\/p>\n\n\n\n

A m\u00e9dica veterin\u00e1ria D\u00e9bora Cristina Sampaio de Assis, do Departamento de Tecnologia e Inspe\u00e7\u00e3o de Produtos de Origem Animal da Escola de Veterin\u00e1ria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lembra que as abelhas se espalharam rapidamente pelo pa\u00eds e, por meio do cruzamento com abelhas europeias, deram origem \u00e0s abelhas africanizadas.<\/p>\n\n\n\n

“Inicialmente, elas trouxeram uma s\u00e9rie de problemas, pois os apicultores n\u00e3o sabiam como trabalhar com elas, devido, principalmente, ao seu maior comportamento defensivo, quando comparado ao das europeias”, explica.<\/p>\n\n\n\n

As abelhas africanizadas eram muito mais sens\u00edveis a qualquer est\u00edmulo, al\u00e9m de atacarem em maior n\u00famero e a dist\u00e2ncias mais longas da colmeia, sendo muito mais insistentes nos ataques que as abelhas europeias.<\/p>\n\n\n\n

“Assim, por medo, muitos apicultores acabaram abandonando a atividade, pois n\u00e3o possu\u00edam equipamentos adequados nem conhecimento t\u00e9cnico para realizar o manejo das abelhas africanizadas”, diz D\u00e9bora.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
As abelhas africanizadas est\u00e3o presentes hoje em todo continente americano – VIN\u00cdCIUS MARINHO \/ ACERVO FIOCRUZ<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

E foi a\u00ed que surgiu o mito das “abelhas assassinas”. O medo, gerado pela falta de conhecimento e a repercuss\u00e3o dada pela imprensa aos acidentes que ocorreram nesse per\u00edodo fez com que as pessoas acreditassem que se tratavam de abelhas que poderiam atacar qualquer um e sem nenhum motivo, quando na verdade o que se tinha era uma resposta defensiva, para proteger a col\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

“Ao se sentirem amea\u00e7adas, as abelhas sa\u00edam das colmeias em grande n\u00famero, ferroando as pessoas e animais, mesmo a longas dist\u00e2ncias, de 100 metros ou mais da colmeia”, diz D\u00e9bora.<\/p>\n\n\n\n

Os animais, quando estavam confinados, levavam centenas ou milhares de ferroadas e muitos acabavam morrendo.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, como as abelhas africanizadas produzem mais enxames por temporada quando comparadas \u00e0s abelhas europeias, esse fen\u00f4meno se tornou muito mais frequente, assustando a popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Entretanto, apesar de parecer um evento impressionante para a maioria das pessoas, devido ao barulho e grande n\u00famero de abelhas, sabe-se que durante a enxamea\u00e7\u00e3o, as abelhas apresentam pouca tend\u00eancia a ferroar”, diz D\u00e9bora.<\/p>\n\n\n\n

As vantagens<\/h2>\n\n\n\n

Mas n\u00e3o foi s\u00f3 morte e p\u00e2nico que abelhas africanizadas causaram.<\/p>\n\n\n\n

“Pensando na apicultura brasileira, a curto prazo houve um impacto negativo, com a desist\u00eancia da atividade por parte da maioria dos apicultores”, conta Freitas.<\/p>\n\n\n\n

“Mas a m\u00e9dio e longo prazo, t\u00e3o logo se entendeu que essa abelha era diferente e n\u00e3o podia ser criada como a europeia, quando se estudou seu comportamento e se desenvolveram as indument\u00e1rias de prote\u00e7\u00e3o, fumigadores maiores, e se passou a cri\u00e1-la afastada das pessoas e animais e, principalmente, adotadas t\u00e9cnicas de manejo espec\u00edficas para esse animal, a apicultura brasileira deu grandes saltos.”<\/p>\n\n\n\n

Por isso, segundo ele, hoje o Brasil \u00e9 um grande produtor e exportador de mel de abelhas e pr\u00f3polis, coisa impens\u00e1vel naquela \u00e9poca.<\/p>\n\n\n\n

“E isso ocorre apesar dos nossos apicultores n\u00e3o serem qualificados como deveriam, ainda com dificuldades de acesso a informa\u00e7\u00e3o, equipamentos, cr\u00e9dito e comercializa\u00e7\u00e3o justa para seus produtos”, acrescenta Freitas.<\/p>\n\n\n\n

O pr\u00f3prio Kerr contou, na entrevista a Estudos Avan\u00e7ados, como se deu esse processo.<\/p>\n\n\n\n

“O grupo de Ribeir\u00e3o Preto (eu, Lionel Gon\u00e7alves, Ant\u00f4nio Carlos Stort, v\u00e1rios alunos, tr\u00eas t\u00e9cnicos e mais tarde David De Jong e Ademilson Espencer Soares) conseguiu desenvolver v\u00e1rias t\u00e9cnicas, algumas muito simples, para controlar a explora\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica dessas abelhas”, disse.<\/p>\n\n\n\n

“Como colocar os api\u00e1rios longe das casas de moradia, dos galinheiros e cocheiras; depositar as colmeias em banquetas isoladas (ou em canos grossos de esgoto), usar fumigadores maiores, macac\u00f5es, botas, p\u00f4r m\u00e1scaras e luvas, sempre; fazer rainhas, escolher as colmeias mais produtivas, mais mansas, mais resistentes a \u00e1caros e enfermidades. Por\u00e9m, um avan\u00e7o fundamental foi dado em 1965 e 1966 com a diminui\u00e7\u00e3o da agressividade das abelhas, o que era um grande problema.”<\/p>\n\n\n\n

Cinco anos depois, o problema estava praticamente resolvido \u2014 as abelhas africanizadas eram menos agressivas que as africanas e os apicultores conseguiam lidar com elas. Para isso, o grupo comprou vinte rainhas italianas dos Estados Unidos, mansas e de alta produtividade, fez enxertia, cruzando com as africanizadas, e obteve 25 mil rainhas virgens \u2014 introduzidas em 25 mil colmeias \u2014, das quais 18 mil foram aceitas e produziram milhares de zang\u00f5es italianos.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
O Brasil \u00e9 atualmente um grande produtor e exportador de mel de abelhas e pr\u00f3polis – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Logo, depois de lidarem com as novas colmeias, formadas por abelhas africanizadas cruzadas com europeias, os apicultores viram que n\u00e3o adiantava ter uma popula\u00e7\u00e3o mansa, como se tinha com as abelhas italianas puras, mas que fornecia uma reduzida produ\u00e7\u00e3o de mel, duas a tr\u00eas vezes menos do que a africanizada”, declarou Kerr.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com ele, na entrevista, a baixa produ\u00e7\u00e3o das europeias era causada por v\u00e1rios fatores, inclusive porque n\u00e3o resistiam a um \u00e1caro muito grande, o Varroa destructor, que provocava enorme estrago nas colmeias, ao ponto de baixar a produtividade da apicultura em dezenas de pa\u00edses.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, as africanizadas jogam fora as larvas doentes e mortas. As colmeias s\u00e3o mais limpas que as das europeias.<\/p>\n\n\n\n

“A nossa produ\u00e7\u00e3o se normalizou porque os apicultores aprenderam a lidar com a abelha africanizada”, comemorou.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 controv\u00e9rsias sobre se o acidente poderia ou n\u00e3o ter sido evitado, mas \u00e9 consenso de que n\u00e3o houve neglig\u00eancia. Para Freitas, a fuga das rainhas africanas poderia ter sido evitada, mas n\u00e3o houve falta de rigor no experimento.<\/p>\n\n\n\n

“A ideia original n\u00e3o era de que as abelhas se soltassem nas matas, tanto que foram tomados cuidados de preven\u00e7\u00e3o colocando telas protetoras nas colmeias”, diz.<\/p>\n\n\n\n

“No entanto, n\u00e3o acredito em neglig\u00eancia. Apenas n\u00e3o puderam imaginar que algu\u00e9m iria tirar essas telas, com a inten\u00e7\u00e3o de ajudar, achando que as abelhas estavam presas por engano. \u00c9 preciso lembrar que aqueles eram outros tempos, e a maioria dos funcion\u00e1rios de fazendas eram pessoas simples, sem maiores instru\u00e7\u00f5es.”<\/p>\n\n\n\n

D\u00e9bora, por sua vez, lembra que realiza\u00e7\u00e3o de experimentos de campo n\u00e3o \u00e9 tarefa simples. H\u00e1 dificuldades para controlar todos os fatores que podem interferir nos resultados.<\/p>\n\n\n\n

“Por isso, n\u00e3o se pode afirmar que houve neglig\u00eancia ou falta de rigor no experimento”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

“O fato \u00e9 que as abelhas africanizadas se adaptaram muito mais facilmente ao ambiente que as abelhas europeias e, o que era para ter sido feito de forma controlada, acabou sendo feito pela pr\u00f3pria natureza.”<\/p>\n\n\n\n

O pr\u00f3prio Kerr, que morreu aos 96 anos, em 15 de setembro de 2018, diz, na sua entrevista, que de 1979 em diante, tudo mudou.<\/p>\n\n\n\n

“Passaram a tirar fotografias minhas e falavam: ‘esse \u00e9 o homem que salvou nossa apicultura'”, contou.<\/p>\n\n\n\n

“Por causa dele o papai comprou caminh\u00e3o novo’. Enfim, durante 14 anos vivi uma trag\u00e9dia com a introdu\u00e7\u00e3o no Brasil das 50 rainhas da \u00c1frica do Sul e de uma da Tanz\u00e2nia. Agora, minha mulher acha a hist\u00f3ria at\u00e9 engra\u00e7ada e eu, como bom caipira de Santana de Parna\u00edba, digo ‘louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo’. E sempre fico frustrado, por n\u00e3o ter por perto meus caipiras amigos para tirarem o chap\u00e9u e dizerem: ‘E para sempre seja louvado, am\u00e9m’.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"