{"id":181425,"date":"2023-01-30T17:57:24","date_gmt":"2023-01-30T20:57:24","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=181425"},"modified":"2023-01-30T17:57:27","modified_gmt":"2023-01-30T20:57:27","slug":"como-substituir-o-oleo-de-palma-e-contribuir-com-o-meio-ambiente","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2023\/01\/30\/181425-como-substituir-o-oleo-de-palma-e-contribuir-com-o-meio-ambiente.html","title":{"rendered":"Como substituir o \u00f3leo de palma e contribuir com o meio ambiente"},"content":{"rendered":"\n
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O \u00f3leo de alga, visto aqui pingando de uma folha de r\u00facula, pode ser produzido de forma mais sustent\u00e1vel do que outros \u00f3leos, como o \u00f3leo de palma. Os \u00f3leos microbianos combinam com a versatilidade do \u00f3leo de palma, mas n\u00e3o exigem o corte de florestas para serem produzidos \u2013 e as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas n\u00e3o afetam sua produ\u00e7\u00e3o.
FOTO DE\u00a0GRANT CORNETT\u00a0NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O\u00a0\u00f3leo de palma\u00a0\u00e9 o \u00f3leo vegetal mais popular do mundo, encontrado em metade de todos os\u00a0produtos de supermercado\u00a0e sete em cada 10 produtos de higiene pessoal. \u00c9 o que d\u00e1 croc\u00e2ncia \u00e0s tortilhas, poder de limpeza aos detergentes e suavidade \u00e0 pasta de dente. Tamb\u00e9m \u00e9 usado como\u00a0biocombust\u00edvel.\u00a0Desde 2016, o consumo global de \u00f3leo de palma aumentou 73%.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, o \u00f3leo de palma e o apetite inabal\u00e1vel por ele s\u00e3o problem\u00e1ticos. A derrubada de florestas para dar lugar a planta\u00e7\u00f5es de palma \u00e9 um dos principais impulsionadores do desmatamento nos tr\u00f3picos: entre 1972 e 2015, as duas maiores na\u00e7\u00f5es produtoras de \u00f3leo de palma do mundo, Indon\u00e9sia e Mal\u00e1sia,\u00a0perderam 16% e 47% de suas florestas, respectivamente, \u00e0 lavoura.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

O desmatamento est\u00e1 ligado a uma s\u00e9rie de problemas ambientais, como mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, problemas de fertilidade do solo e m\u00e1 qualidade da \u00e1gua, entre outros. A biodiversidade tamb\u00e9m sofre um duro golpe, com estudos estimando que a diversidade de mam\u00edferos diminui em at\u00e9 90% quando as florestas s\u00e3o derrubadas para plantar palmas.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, uma alternativa ao \u00f3leo de palma pode estar no horizonte, t\u00e3o multifacetada, mas n\u00e3o t\u00e3o carregada: \u00f3leo feito de micr\u00f3bios.<\/p>\n\n\n\n

Uma velha tecnologia revivida<\/h2>\n\n\n\n

Os cientistas come\u00e7aram a procurar fontes alternativas para obter \u00f3leo comest\u00edvel por necessidade, diz Philipp Arbter, biotecn\u00f3logo da Universidade T\u00e9cnica de Hamburgo, na Alemanha.<\/p>\n\n\n\n

Quando a manteiga e a banha eram escassas na Primeira Guerra Mundial, pesquisadores alem\u00e3es descobriram que certos tipos de fermento tamb\u00e9m produziam lip\u00eddios oleosos. As autoridades logo estabeleceram duas f\u00e1bricas dedicadas a fazer uma pasta com alto teor de gordura que era usada \u201cna produ\u00e7\u00e3o\u00a0de p\u00e3es ou como substituto da manteiga\u201d. Esses esfor\u00e7os desapareceram assim que a guerra terminou, quando havia novamente suprimento suficiente de plantas e animais, diz Arbter.<\/p>\n\n\n\n

Mas o interesse em \u00f3leos microbianos \u2013 aqueles feitos de levedura, bem como outros microrganismos como algas \u2013 ressurgiu nos \u00faltimos anos como um substituto ecologicamente correto para o \u00f3leo de palma, que parece mais vi\u00e1vel do que outros \u00f3leos vegetais.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA tecnologia \u00e9 realmente muito antiga, mas nunca foi estabelecida na ind\u00fastria, e sempre me perguntei o motivo, porque h\u00e1 um grande potencial\u201d, diz Arbter. Por exemplo, diz ele, os micr\u00f3bios podem ser cultivados rapidamente em um espa\u00e7o interno compacto e com clima controlado para produzir quantidades potencialmente altas de \u00f3leo. No in\u00edcio deste ano, ele cofundou\u00a0a Colipi, uma das poucas startups emergentes que est\u00e3o cultivando e aprimorando micr\u00f3bios para produzir uma vers\u00e3o sint\u00e9tica do \u00f3leo de palma.<\/p>\n\n\n\n

A palma \u00e9 dif\u00edcil de ser superada. Para come\u00e7ar, \u00e9 uma colheita extremamente eficiente \u2013 raz\u00e3o pela qual \u00e9 t\u00e3o barata em compara\u00e7\u00e3o com outros \u00f3leos. Meio hectare de palma pode produzir mais de\u00a01,35 toneladas de \u00f3leo anualmente, pelo menos seis vezes mais do que outros \u00f3leos comest\u00edveis. Al\u00e9m disso, o \u00f3leo de palma prospera o ano todo nos tr\u00f3picos, cresce em uma grande variedade de solos e \u00e9 perene (dura at\u00e9 25 anos), tornando-o \u201cmais produtivo do que culturas anuais como amendoim, soja e outras produtoras de \u00f3leo\u201d, diz o cientista de conserva\u00e7\u00e3o Erik Meijaard, co-presidente da\u00a0For\u00e7a-Tarefa de Culturas Oleaginosas da Uni\u00e3o Internacional para a Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza (IUCN, na sigla em ingl\u00eas).<\/p>\n\n\n\n

O \u00f3leo de palma tamb\u00e9m \u00e9 \u00fanico por conter partes aproximadamente iguais de gorduras saturadas e insaturadas, o que o torna extremamente est\u00e1vel quimicamente. Isso confere uma longa vida \u00fatil aos alimentos embalados.<\/p>\n\n\n\n

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Vista a\u00e9rea de uma planta\u00e7\u00e3o de \u00f3leo de palma. Essas planta\u00e7\u00f5es s\u00e3o uma das principais causas do desmatamento nos tr\u00f3picos.
FOTO DE\u00a0PASCAL MAITRE\u00a0NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Esses atributos fazem com que encontrar um substituto adequado seja uma esp\u00e9cie de santo graal, embora o \u00f3leo microbiano, com um perfil lip\u00eddico semelhante ao \u00f3leo de palma, possa estar \u00e0 altura da tarefa.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 agora, os cientistas identificaram mais de 40 algas e 70 linhagens de leveduras conhecidas como oleaginosas, ou ricas em \u00f3leo. Para colher esse \u00f3leo no laborat\u00f3rio, os micr\u00f3bios s\u00e3o cultivados primeiro, geralmente em placas de Petri antes de serem transferidos para frascos de vidro ou tanques de infus\u00e3o de a\u00e7o inoxid\u00e1vel. Eles s\u00e3o alimentados com oxig\u00eanio e a\u00e7\u00facar \u2013 qualquer coisa, desde cana-de-a\u00e7\u00facar a mela\u00e7o \u2013 que inicia a fermenta\u00e7\u00e3o e faz com que as c\u00e9lulas se multipliquem. Quando os micr\u00f3bios atingem uma massa cr\u00edtica, o que leva alguns dias, eles s\u00e3o abertos para liberar o \u00f3leo de dentro. A parte complicada \u00e9 otimizar o processo para extrair o m\u00e1ximo de \u00f3leo.<\/p>\n\n\n\n

Seraphim Papanikolaou, da Universidade Agr\u00edcola de Atenas, Gr\u00e9cia, l\u00edder no campo da pesquisa de leveduras oleaginosas, diz que h\u00e1 muitos pontos a serem levados em conta: cepa microbiana, temperatura da cultura, velocidade de agita\u00e7\u00e3o, quantidade de aera\u00e7\u00e3o, tipo de mat\u00e9ria-prima e frequ\u00eancia de alimenta\u00e7\u00e3o e m\u00e9todo cell lysis, s\u00f3 para citar alguns.<\/p>\n\n\n\n

Se bem feito, as recompensas podem ser muitas. Papanikolaou j\u00e1 havia alcan\u00e7ado rendimentos de \u00f3leo de at\u00e9\u00a083%, ou 8,3 gramas de \u00f3leo para cada 10 gramas de fermento \u2013 o \u201cmelhor j\u00e1 relatado\u201d, diz ele. Mas, em geral, \u201cn\u00e3o \u00e9 muito dif\u00edcil conseguir quantidades de 50 a 55%\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Micr\u00f3bios como pequenas f\u00e1bricas<\/h2>\n\n\n\n

Esses rendimentos potencialmente altos s\u00e3o, em parte, o que torna o \u00f3leo microbiano t\u00e3o atraente como uma alternativa ao \u00f3leo de palma. Al\u00e9m disso, os \u00f3leos microbianos prometem ser mais ecol\u00f3gicos do que o de palma. Os microrganismos podem ser cultivados independentemente das condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e sem a necessidade de grandes extens\u00f5es de terra, diz o cientista de alimentos William Chen, da Universidade Tecnol\u00f3gica de Nanyang, em Cingapura. \u201cBasicamente, voc\u00ea precisa de um biorreator\u201d, resume.<\/p>\n\n\n\n

A cria\u00e7\u00e3o de micr\u00f3bios que se alimentam de res\u00edduos pode aumentar ainda mais a sustentabilidade, diz Chen. Sua equipe, por exemplo, est\u00e1 explorando se os meios de cultura tradicionais usados \u200b\u200bpara o cultivo de microalgas podem ser substitu\u00eddos por res\u00edduos de gr\u00e3os ou res\u00edduos de soja. Da mesma forma, pesquisadores da NextVegOil na Alemanha est\u00e3o\u00a0produzindo \u00f3leo\u00a0do fungo\u00a0Ustilago maydis,<\/em>\u00a0alimentado com sobras da colheita de milho, enquanto o \u00f3leo da\u00a0NoPalm, com sede na Holanda, \u00e9 derivado de levedura que fermenta cascas de batata e vegetais rejeitados.<\/p>\n\n\n\n

Christopher Chuck, engenheiro qu\u00edmico da Universidade de Bath, na Inglaterra, que passou quase uma d\u00e9cada trabalhando com \u00f3leo microbiano, diz que eles obt\u00eam \u201cos melhores resultados, do ponto de vista de sustentabilidade e efici\u00eancia\u201d, usando res\u00edduos de alimentos, como pontas de p\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Talvez um dos maiores atrativos do \u00f3leo microbiano seja que os organismos que os produzem podem ser redesenhados usando as ferramentas de engenharia e computa\u00e7\u00e3o da biologia sint\u00e9tica. Embora a propor\u00e7\u00e3o de gorduras saturadas para insaturadas deva ser mantida pr\u00f3xima a 50-50 para imitar as propriedades do \u00f3leo de palma, os pesquisadores t\u00eam liberdade para brincar com os tipos de gorduras dentro de cada categoria. Eles poderiam, por exemplo, trocar o \u00e1cido palm\u00edtico indutor de colesterol por um \u00e1cido graxo saturado relativamente mais saud\u00e1vel, como o \u00e1cido este\u00e1rico, criando assim um \u00f3leo mais desej\u00e1vel para o mercado consumidor. Mais rapidamente tamb\u00e9m, j\u00e1 que tudo acontece em quest\u00e3o de semanas em um laborat\u00f3rio.<\/p>\n\n\n\n

O caminho para as prateleiras das lojas<\/h2>\n\n\n\n

A maioria das startups de \u00f3leo microbiano pretende que seus primeiros produtos estejam no setor de beleza e cosm\u00e9ticos, em vez de alimentos, devido a uma maior lucratividade e menos regulamenta\u00e7\u00f5es envolvidas. Quando perguntado se o novo \u00f3leo pode igualar os pre\u00e7os do \u00f3leo de palma, especialmente quando \u00e9 usado em alimentos, Chuck diz: \u201cDevemos estar pr\u00f3ximos do mercado de \u00f3leo comest\u00edvel\u201d, desde que a produ\u00e7\u00e3o aconte\u00e7a em uma escala grande o suficiente para reduzir o pre\u00e7o.<\/p>\n\n\n\n

\u201cTodos temos que descobrir como mover melhor a tecnologia \u2013 do laborat\u00f3rio para a escala mais rapidamente\u201d, diz Shara Ticku, CEO e cofundadora da\u00a0C16 Biosciences, uma startup de \u00f3leo microbiano com sede em Nova York apoiada por Bill Gates, que at\u00e9 agora est\u00e1 mais pr\u00f3xima da produ\u00e7\u00e3o em larga escala. A C16 atingiu um marco de fermenta\u00e7\u00e3o de 50 mil litros em novembro e, no in\u00edcio de 2023, lan\u00e7ar\u00e1 nos Estados Unidos um\u00a0bio-\u00f3leo hidratante\u00a0destinado a cosm\u00e9ticos \u2013 uma das primeiras empresas a trazer um \u00f3leo microbiano para o mercado.<\/p>\n\n\n\n

A incurs\u00e3o n\u00e3o poderia vir em breve; at\u00e9 2050, a produ\u00e7\u00e3o de \u00f3leo de palma deve triplicar para\u00a0240 milh\u00f5es de toneladas. Com a previs\u00e3o de aumento da popula\u00e7\u00e3o mundial para quase\u00a010 bilh\u00f5es\u00a0\u00a0nesse per\u00edodo, e tamb\u00e9m a estimativa de aumento de tr\u00eas a quatro vezes da demanda por lip\u00eddios, Ticku diz sobre os \u00f3leos microbianos: \u201cTemos que agir rapidamente para introduzir essas solu\u00e7\u00f5es no mundo.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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