{"id":181465,"date":"2023-02-07T23:05:06","date_gmt":"2023-02-08T02:05:06","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=181465"},"modified":"2023-02-07T23:05:08","modified_gmt":"2023-02-08T02:05:08","slug":"como-pode-o-garimpo-provocar-mortes-por-desnutricao-2","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2023\/02\/07\/181465-como-pode-o-garimpo-provocar-mortes-por-desnutricao-2.html","title":{"rendered":"Como pode o garimpo provocar mortes por desnutri\u00e7\u00e3o?"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a><\/figure>\n\n\n\n

Crise que atinge os yanomami \u00e9 consequ\u00eancia da explora\u00e7\u00e3o ilegal do ouro. Atividade afeta suas pr\u00e1ticas alimentares, facilita a transmiss\u00e3o de doen\u00e7as e os contamina com merc\u00fario.<\/p>\n\n\n\n

Em meados de janeiro, o presidente\u00a0Luiz In\u00e1cio Lula da Silva\u00a0acusou seu antecessor, Jair Bolsonaro, de facilitar um\u00a0genoc\u00eddio\u00a0na Terra Ind\u00edgena (TI) Yanomami, nos confins da Floresta Amaz\u00f4nica, pr\u00f3xima \u00e0 fronteira com a Venezuela.<\/p>\n\n\n\n

Os\u00a0yanomami\u00a0viviam em isolamento quase total at\u00e9 os anos 1980, quando foi encontrado ouro em seu territ\u00f3rio. Nas d\u00e9cadas seguintes, cerca de 40 mil garimpeiros ilegais invadiram a regi\u00e3o, levando doen\u00e7as como tuberculose e mal\u00e1ria e poluindo os rios com o merc\u00fario utilizado na procura por ouro.<\/p>\n\n\n\n

Em 20 de Janeiro, a ministra da Sa\u00fade, N\u00edsia Trindade, declarou\u00a0emerg\u00eancia m\u00e9dica\u00a0no territ\u00f3rio. Relatos apontam que 570 crian\u00e7as morreram de desnutri\u00e7\u00e3o e doen\u00e7as evit\u00e1veis durante os quatro anos do\u00a0governo Bolsonaro, a quem Lula acusa de ignorar as atividades do garimpo ilegal e a situa\u00e7\u00e3o de emerg\u00eancia humanit\u00e1ria. \u00a0<\/p>\n\n\n\n

Uma s\u00e9rie de estudos realizados desde os anos 1990 aumentaram a conscientiza\u00e7\u00e3o a respeito dos efeitos negativos da extra\u00e7\u00e3o ilegal de ouro sobe a popula\u00e7\u00e3o yanomami, de cerca de 30 mil pessoas.<\/p>\n\n\n\n

Esses estudos demonstram como o\u00a0garimpo\u00a0est\u00e1 associado a tuberculose, mal\u00e1ria, envenenamento por merc\u00fario e desnutri\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Tuberculose<\/h2>\n\n\n\n

Por centenas de anos, o isolamento dos yanomami os deixou livres de muitas das pragas do mundo “civilizado”, incluindo a tuberculose. <\/p>\n\n\n\n

Um estudo de 1997, publicado por pesquisadores brasileiros na revista cient\u00edfica Pnas<\/em>, revelou que a tuberculose, que avan\u00e7ou pela Europa e Estados Unidos no s\u00e9culo 18, somente come\u00e7ou a se espalhar no territ\u00f3rio yanomami ap\u00f3s pessoas de outras regi\u00f5es entrarem em contato com os ind\u00edgenas, na metade do s\u00e9culo 20.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a pesquisa, o primeiro caso registrado de tuberculose entre os yanomami ocorreu em 1965, com um pequeno n\u00famero de casos observados nos anos 1970. Foi somente a partir dos anos 1980, com a descoberta do ouro e o grande fluxo de pessoas para a regi\u00e3o, que as infec\u00e7\u00f5es se espalharam a ponto de se tornarem epid\u00eamicas.<\/p>\n\n\n\n

Mal\u00e1ria<\/h2>\n\n\n\n

Nas d\u00e9cadas seguintes ao in\u00edcio da explora\u00e7\u00e3o do ouro \u2013 e da extra\u00e7\u00e3o ilegal de madeira \u2013 e, em particular, nos \u00faltimos anos, os pesquisadores observaram um aumento not\u00e1vel nos casos de mal\u00e1ria entre os yanomami.<\/p>\n\n\n\n

Em um estudo publicado no Malaria Journal <\/em>no final de 2022, pesquisadores descrevem duas raz\u00f5es para o aumento de casos da doen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Em primeiro lugar, a dificuldade das autoridades de sa\u00fade em controlar o v\u00edrus nas regi\u00f5es de fronteira, o que p\u00f4de ser observado por meio dos casos vindos da Venezuela. <\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, o estudo aponta o extrativismo na regi\u00e3o, incluindo o garimpo ilegal, como o respons\u00e1vel pela maior transmiss\u00e3o da doen\u00e7a. As altera\u00e7\u00f5es feitas pelo garimpo a c\u00e9u aberto e a escava\u00e7\u00e3o do leito dos rios produzem locais abundantes para a procria\u00e7\u00e3o dos mosquitos, afirmam os pesquisadores.<\/p>\n\n\n\n

De 2016 a 2020, o n\u00famero de garimpeiros aumentou na regi\u00e3o. Ao mesmo tempo, o n\u00famero de casos de mal\u00e1ria subiu 1.090% nas \u00e1reas ind\u00edgenas e 75.576% em \u00e1reas de garimpo, diz o estudo.<\/p>\n\n\n\n

Envenenamento por merc\u00fario <\/h2>\n\n\n\n

Os garimpeiros utilizam\u00a0merc\u00fario l\u00edquido\u00a0para encontrar ouro no sedimento escavado dos rios da Amaz\u00f4nia. O dep\u00f3sito ilegal desse merc\u00fario no ambiente natural polui\u00a0as \u00e1reas normalmente utilizadas pelos yanomami para ca\u00e7ar, pescar e colher, al\u00e9m de resultar na devasta\u00e7\u00e3o de amplas regi\u00f5es de floresta.<\/p>\n\n\n\n

Uma pesquisa liderada por Paulo Basta, m\u00e9dico e cientista da Escola Nacional de Sa\u00fade P\u00fablica da Funda\u00e7\u00e3o Osvaldo Cruz (Fiocruz), apresentou provas de que essa pr\u00e1tica tem resultado em n\u00edveis excepcionalmente altos de merc\u00fario nas popula\u00e7\u00f5es yanomami pr\u00f3ximas aos garimpos.<\/p>\n\n\n\n

Outro estudo publicado por Basta em maio de 2019 revelou que o d\u00e9ficit nutricional das crian\u00e7as yanomami era “o mais grave j\u00e1 registrado entre as comunidades ind\u00edgenas no continente americano”. “O predom\u00ednio de crescimento retardado, falta de peso e desgaste muscular por n\u00f3s relatado n\u00e3o tem precedentes na literatura especializada.”<\/p>\n\n\n\n

Os resultados tamb\u00e9m sugerem que essas condi\u00e7\u00f5es estariam sendo transmitidas entre as gera\u00e7\u00f5es dos yanomami. A pesquisa sobre a potencial associa\u00e7\u00e3o entre a polui\u00e7\u00e3o de merc\u00fario e o crescimento retardado ainda est\u00e1 em andamento.<\/p>\n\n\n\n

Desnutri\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

Historicamente, os yanomami tiram seu sustento da terra. Eles comem animais selvagens \u2013 aves, mam\u00edferos e peixes \u2013 e frutas por eles plantadas, como bananas.<\/p>\n\n\n\n

“O problema \u00e9 que os garimpeiros realmente destru\u00edram a floresta”, afirma Cristina Haverkamp, uma ativista alem\u00e3 dos direitos humanos que trabalha com os yanomami h\u00e1 mais de 30 anos, em depoimento gravado \u00e0 DW diretamente da regi\u00e3o amaz\u00f4nica.<\/p>\n\n\n\n

“[Os garimpeiros] deixam os locais sem vegeta\u00e7\u00e3o e alagados, onde os yanomami n\u00e3o conseguem construir nada. Nessas \u00e1reas, toda a ca\u00e7a desapareceu e os peixes est\u00e3o contaminados pelo merc\u00fario. Em Papiu (no territ\u00f3rio yanomami), tivemos de levar nossa pr\u00f3pria \u00e1gua pot\u00e1vel. N\u00e3o se pode beber \u00e1gua do rio por causa do risco de envenenamento por merc\u00fario.”<\/p>\n\n\n\n

Em muitas partes do territ\u00f3rio yanomami, os garimpeiros n\u00e3o apenas interromperam, mas tamb\u00e9m destru\u00edram a cadeia alimentar, tornando imposs\u00edvel a subsist\u00eancia dos ind\u00edgenas a partir da terra, da maneira que est\u00e3o habituados, diz Haverkamp.<\/p>\n\n\n\n

Ela conta que a chegada dos garimpeiros, h\u00e1 cerca de 30 anos, foi uma verdadeira invas\u00e3o. Nos anos seguintes, o n\u00famero de invasores come\u00e7ou a cair, mas voltou a aumentar durante o governo Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

“Para os garimpeiros, [o territ\u00f3rio yanomami] \u00e9 como uma \u00e1rea livre onde eles podem, mais ou menos, fazer o que querem, porque est\u00e3o todos armados”, afirma a ativista.<\/p>\n\n\n\n

“Os yanomami n\u00e3o t\u00eam chance de combater os garimpeiros. Se tentarem, ser\u00e3o mortos. Esse tamb\u00e9m \u00e9 o motivo pelo qual alguns grupos de yanomami come\u00e7aram a colaborar com os garimpeiros e a trabalhar com eles \u2013 porque eles n\u00e3o tiveram nenhuma ajuda externa para que pudessem se defender.”<\/p>\n\n\n\n

Em troca desse trabalho, esses ind\u00edgenas costumam receber dos garimpeiros alimentos ultraprocessados, diz Haverkamp.<\/p>\n\n\n\n

Falta de assist\u00eancia m\u00e9dica<\/h2>\n\n\n\n

Um relat\u00f3rio da ONG Instituto Socioambiental intitulado Yanomami sob Ataque<\/em> destaca que muitos dos males que afligem os yanomami s\u00e3o evit\u00e1veis e podem ser tratados com medicamentos e acesso a cuidados m\u00e9dicos.<\/p>\n\n\n\n

No documento, eles afirmam que o garimpo ilegal bloqueou v\u00e1rias das pistas de pouso tradicionalmente utilizadas para levar assist\u00eancia m\u00e9dica e medicamentos por meio de avi\u00f5es e helic\u00f3pteros.<\/p>\n\n\n\n

“No ano passado, estive em Papiu para ajudar a reformar um posto de sa\u00fade constru\u00eddo h\u00e1 19 anos”, diz Haverkamp. “Os garimpeiros iam at\u00e9 o local para receber tratamento, na grande maioria dos casos, contra a mal\u00e1ria. Isso, naturalmente, era muito dif\u00edcil para mim, ver os garimpeiros recebendo cuidados [na esta\u00e7\u00e3o erguida pelos yanomami], mas a enfermeira disse que, por lei, eles devem ajudar a todos.”<\/p>\n\n\n\n

A correspondente da DW N\u00e1dia Pontes relatou que, em dezembro, garimpeiros e madeireiros incendiaram um posto de sa\u00fade no territ\u00f3rio yanomami, colocando em risco a vida de pelo menos 700 pessoas. Dias antes, a equipe m\u00e9dica tinha abandonado o local em raz\u00e3o de rumores de que eles iriam atacar a unidade de sa\u00fade.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"