{"id":181515,"date":"2023-02-15T19:47:40","date_gmt":"2023-02-15T22:47:40","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=181515"},"modified":"2023-02-15T19:47:43","modified_gmt":"2023-02-15T22:47:43","slug":"garimpeiros-relatam-tensao-para-deixar-territorio-yanomami","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2023\/02\/15\/181515-garimpeiros-relatam-tensao-para-deixar-territorio-yanomami.html","title":{"rendered":"Garimpeiros relatam tens\u00e3o para deixar territ\u00f3rio yanomami"},"content":{"rendered":"\n
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Diante de opera\u00e7\u00e3o o Ibama para remover cerca de 20 mil garimpeiros ilegais, invasores tentam deixar a terra ind\u00edgena. Governo federal estendeu at\u00e9 o dia 6 de maio prazo para sa\u00edda volunt\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n

No interior da Terra Ind\u00edgena (TI) Yanomami, em Roraima, a dois dias de barco da cidade mais pr\u00f3xima, Juliana* diz estar com medo de seguir viagem. Ela pilota embarca\u00e7\u00f5es que transportam comida e pessoas para o garimpo e afirma que muitos querem sair dali.<\/p>\n\n\n\n

O motivo \u00e9 a\u00a0opera\u00e7\u00e3o em curso\u00a0para a retirada de cerca de 20 mil garimpeiros ilegais da TI, realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov\u00e1veis (Ibama), com apoio da Funda\u00e7\u00e3o Nacional dos Povos Ind\u00edgenas (Funai) e da For\u00e7a Nacional de Seguran\u00e7a P\u00fablica.<\/p>\n\n\n\n

Sem prazo para acabar, a opera\u00e7\u00e3o\u00a0de combate \u00e0 extra\u00e7\u00e3o ilegal de ouro no territ\u00f3rio\u00a0\u2013 o qual,\u00a0segundo a Constitui\u00e7\u00e3o, \u00e9 de uso exclusivo dos ind\u00edgenas\u00a0\u2013 tem autoriza\u00e7\u00e3o para apreender e at\u00e9 destruir equipamentos usados na atividade, como m\u00e1quinas, tratores, barcos e avi\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

“Os agentes do Ibama est\u00e3o transitando no rio Uraricoera. Estamos com medo”, diz Juliana. Ela afirma que h\u00e1 uma semana est\u00e1 parada no mesmo lugar, com receio.<\/p>\n\n\n\n

O governo federal estendeu at\u00e9 o dia 6 de maio o prazo para a sa\u00edda volunt\u00e1ria dos garimpeiros da TI Yanomami. Est\u00e1 autorizada\u00a0a circula\u00e7\u00e3o de aeronaves e barcos privados para esse fim, que podem transportar apenas as pessoas \u2013 e n\u00e3o as cargas.<\/p>\n\n\n\n

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Agentes do Ibama inspecionam jangada de dragagem no rio Uraricoera<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“A situa\u00e7\u00e3o aqui n\u00e3o \u00e9 boa”<\/h2>\n\n\n\n

“Ainda tem muita gente em todo lugar”, escreve Juliana, adicionando que muitas mulheres fazem parte do grupo. “A situa\u00e7\u00e3o aqui n\u00e3o \u00e9 boa. A alimenta\u00e7\u00e3o est\u00e1 ficando pouca, combust\u00edvel n\u00e3o h\u00e1”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Do meio da Floresta Amaz\u00f4nica, ela responde \u00e0s perguntas da DW via um aplicativo de mensagens. Questionada sobre como consegue acesso \u00e0 internet, ela diz que \u00e9 via r\u00e1dio ou sat\u00e9lite.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o muito longe dali, os yanomami enfrentam uma grave\u00a0crise humanit\u00e1ria\u00a0que matou ao menos 570 crian\u00e7as nos \u00faltimos quatro anos. V\u00edtimas de\u00a0desnutri\u00e7\u00e3o\u00a0e de doen\u00e7as como mal\u00e1ria, os ind\u00edgenas sofrem o impacto direto do garimpo e da contamina\u00e7\u00e3o da \u00e1gua por\u00a0merc\u00fario.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 de conhecimento p\u00fablico que tem muita gente grande envolvida no garimpo, com muito poder financeiro. S\u00e3o empres\u00e1rios, pol\u00edticos locais, pessoas com influ\u00eancia no estado, empresas sediadas em S\u00e3o Paulo que compram ouro e exportam”, comenta Ivo Macuxi, advogado e membro do Conselho Ind\u00edgena de Roraima (CIR), que acaba de completar 50 anos.<\/p>\n\n\n\n

Controle de quem entra e quem sai<\/h2>\n\n\n\n

Na sede do Ibama em Boa Vista, capital de Roraima, alguns barqueiros buscam informa\u00e7\u00f5es sobre como entrar na TI para retirar garimpeiros. Segundo uma decis\u00e3o conjunta das For\u00e7as Armadas, Funai, Ibama e Minist\u00e9rio dos Povos Ind\u00edgenas, barcos podem trafegar no territ\u00f3rio desde que fa\u00e7am um cadastro pr\u00e9vio.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o \u00e9 autoriza\u00e7\u00e3o, \u00e9 s\u00f3 um cadastro. \u00c9 para termos um controle de quem entra. Quem estiver l\u00e1 dentro e n\u00e3o tiver cadastrado, a gente entende que est\u00e1 na terra ind\u00edgena dando apoio ao garimpo”, explica \u00e0 DW Givanildo dos Santos Lima, coordenador das a\u00e7\u00f5es de fiscaliza\u00e7\u00e3o do Ibama no local.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m da identifica\u00e7\u00e3o, o barqueiro deve fornecer informa\u00e7\u00f5es b\u00e1sicas, como tipo de barco e motor, percurso a ser feito, quantidade de combust\u00edvel transportada, n\u00famero de garimpeiros que pretende retirar.<\/p>\n\n\n\n

As embarca\u00e7\u00f5es devem ser vistoriadas na entrada e na sa\u00edda da TI. Qualquer item localizado que n\u00e3o seja de uso pessoal deve ser apreendido, como equipamentos, min\u00e9rio extra\u00eddo e armas. Os detalhes de como ser\u00e1 feito o controle est\u00e3o em discuss\u00e3o pelas autoridades envolvidas na opera\u00e7\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

Jailson Mesquita, servidor p\u00fablico que diz fazer uma interlocu\u00e7\u00e3o pol\u00edtica em prol dos garimpeiros por meio do movimento “Garimpo \u00e9 legal”, diz que os barqueiros t\u00eam medo de fazer o cadastro e, mais tarde, serem intimados a depor.<\/p>\n\n\n\n

“Tem viagem de canoa que demora sete dias para buscar o garimpeiro em \u00e1rea mais remota. Tem que levar alimento e combust\u00edvel para todo esse per\u00edodo e para muitas pessoas”, argumenta.<\/p>\n\n\n\n

Garimpeiros em Roraima<\/h2>\n\n\n\n

Cleiton Alves, radialista que, junto com Mesquita, atua no lobby pr\u00f3-garimpo em Boa Vista, diz que mais da metade dos garimpeiros que atuavam ilegalmente no territ\u00f3rio yanomami j\u00e1 teriam deixado a \u00e1rea. Alves diz que a estimativa foi feita com base no tr\u00e1fego intenso de canoas que chegam a Alto Alegre, munic\u00edpio pr\u00f3ximo \u00e0 TI.<\/p>\n\n\n\n

Para Givanildo dos Santos Lima, do Ibama, essa informa\u00e7\u00e3o n\u00e3o procede.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Mesquita, cerca de 30 mil pessoas trabalham no garimpo no estado. “Tem ainda as pessoas que trabalham com frete, com as canoas, o supermercado vende muito para garimpeiros, quem vende combust\u00edvel tamb\u00e9m ganha, \u00e9 muita gente envolvida”, resume.<\/p>\n\n\n\n

Questionado sobre o fato de esses garimpeiros serem invasores do territ\u00f3rio Yanomami, j\u00e1 que a atividade \u00e9 proibida em terras ind\u00edgenas, Mesquita diz ser a favor da retirada. “T\u00eam que sair, \u00e9 indiscut\u00edvel. \u00c9 irregular, n\u00e3o tinha como continuar”, opina, afirmando defender o trabalho regularizado fora da \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n

Alves diz ter atuado em garimpo em outras regi\u00f5es, um trabalho que considera dif\u00edcil e que, segundo ele, muitas vezes n\u00e3o compensa. “Os ganhos dependem muito da forma como as pessoas trabalham, como elas repartem”, explica quando questionado sobre o lucro, negando a exist\u00eancia de “patr\u00f5es” que financiariam a atividade.<\/p>\n\n\n\n

Uma investiga\u00e7\u00e3o da Pol\u00edcia Federal (PF) apontou a atua\u00e7\u00e3o de organiza\u00e7\u00f5es criminosas no garimpo. Uma delas, com c\u00e9lulas em pelo menos tr\u00eas estados, Roraima, S\u00e3o Paulo e Goi\u00e1s, movimentou R$ 422 milh\u00f5es em cinco anos no com\u00e9rcio de ouro vindo de garimpos ilegais em Roraima, segundo a PF. Entre os investigados est\u00e3o empres\u00e1rios, advogados e at\u00e9 um servidor p\u00fablico de Boa Vista.<\/p>\n\n\n\n

“Discurso pr\u00f3-garimpo desumaniza ind\u00edgenas”<\/h2>\n\n\n\n

Nas ruas de Boa Vista, selos de apoio ao garimpo s\u00e3o vistos por todo o com\u00e9rcio. Para as lideran\u00e7as ind\u00edgenas que denunciam h\u00e1 tempos o aumento da invas\u00e3o em suas terras, especialmente nos\u00a0anos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a tens\u00e3o \u00e9 constante.<\/p>\n\n\n\n

“Estamos buscando proteger as lideran\u00e7as para n\u00e3o sofrerem ataques por conta das opera\u00e7\u00f5es em curso”, comenta o advogado Ivo Macuxi.<\/p>\n\n\n\n

Eriki Aleixo, pesquisador ind\u00edgena, diz que \u00e9 dif\u00edcil estar na capital nesse contexto. “O garimpo movimenta muito a economia local e tem esse discurso de que traz riqueza. \u00c9 dif\u00edcil enfrentar. \u00c9 um discurso que n\u00e3o considera os ind\u00edgenas como parte da sociedade brasileira, \u00e9 uma perspectiva que desumaniza os ind\u00edgenas”, afirma o antrop\u00f3logo.<\/p>\n\n\n\n

Ao mesmo tempo, as a\u00e7\u00f5es de fiscaliza\u00e7\u00e3o s\u00e3o mais que bem-vindas. “Elas nos trazem esperan\u00e7a de que o governo federal agora est\u00e1 agindo para combater o crime dentro da terra ind\u00edgena. Mas essa opera\u00e7\u00e3o, por si s\u00f3, n\u00e3o garante a prote\u00e7\u00e3o do territ\u00f3rio. \u00c9 preciso um plano integrado dos \u00f3rg\u00e3os para garantir a prote\u00e7\u00e3o dos povos”, analisa Ivo Macuxi.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 h\u00e1 den\u00fancias de que muitos garimpeiros que deixam a TI Yanomami seguem agora para territ\u00f3rios ind\u00edgenas vizinhos em busca da explora\u00e7\u00e3o de\u00a0ouro de forma ilegal.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"