{"id":181594,"date":"2023-03-03T18:40:55","date_gmt":"2023-03-03T21:40:55","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=181594"},"modified":"2023-03-03T18:41:02","modified_gmt":"2023-03-03T21:41:02","slug":"por-que-estamos-perdendo-nosso-olfato-desde-antes-da-covid","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2023\/03\/03\/181594-por-que-estamos-perdendo-nosso-olfato-desde-antes-da-covid.html","title":{"rendered":"Por que estamos perdendo nosso olfato desde antes da covid"},"content":{"rendered":"\n
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Baixos n\u00edveis de exposi\u00e7\u00e3o \u00e0 polui\u00e7\u00e3o do ar tamb\u00e9m podem prejudicar nossas capacidades olfativas – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Para muitas pessoas, contrair covid-19 ofereceu uma no\u00e7\u00e3o do que \u00e9 perder o sentido do olfato. Conhecida como \u201canosmia\u201d, a perda do olfato pode prejudicar substancialmente o nosso bem estar e qualidade de vida em geral.<\/p>\n\n\n\n

O sentido do olfato \u00e9 uma das janelas mais ricas e abrangentes para o mundo \u00e0 nossa volta. Seu papel \u00e9 fundamental para a nossa alimenta\u00e7\u00e3o e nossas intera\u00e7\u00f5es sociais. Ele at\u00e9 nos ajuda a detectar poss\u00edveis perigos.<\/p>\n\n\n\n

Uma infec\u00e7\u00e3o respirat\u00f3ria s\u00fabita como a covid-19 pode gerar perda tempor\u00e1ria deste sentido importante, mas o nosso olfato pode muito bem estar diminuindo gradualmente h\u00e1 anos por outro motivo: a polui\u00e7\u00e3o do ar.<\/p>\n\n\n\n

A exposi\u00e7\u00e3o a PM2,5 \u2014 nome coletivo que designa pequenas part\u00edculas de polui\u00e7\u00e3o suspensas no ar, causadas, em grande parte, pela queima de combust\u00edvel nos ve\u00edculos, usinas de produ\u00e7\u00e3o de energia e nas resid\u00eancias \u2014 j\u00e1 foi relacionada a \u201cdist\u00farbios olfativos\u201d, mas tipicamente apenas em ambientes industriais ou ocupacionais.<\/p>\n\n\n\n

Mas novas pesquisas agora come\u00e7am a revelar a real escala e os potenciais danos causados pela polui\u00e7\u00e3o que respiramos no dia a dia \u2013 e suas descobertas s\u00e3o importantes para todos n\u00f3s.<\/p>\n\n\n\n

No lado inferior do nosso c\u00e9rebro, pouco acima das cavidades nasais, fica o bulbo olfat\u00f3rio. Este conjunto sens\u00edvel de cerdas de tecidos com termina\u00e7\u00f5es nervosas \u00e9 essencial para o quadro imensamente variado que o mundo nos envia atrav\u00e9s do nosso olfato.<\/p>\n\n\n\n

E o bulbo olfat\u00f3rio \u00e9 tamb\u00e9m a nossa primeira linha de defesa contra v\u00edrus e poluentes que entram no c\u00e9rebro. Mas, com a exposi\u00e7\u00e3o constante, essas defesas lentamente se desgastam ou s\u00e3o invadidas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cNossos dados demonstram que existe um aumento de 1,6 a 1,7 vezes [do risco] de desenvolver anosmia com a polui\u00e7\u00e3o cont\u00ednua de part\u00edculas\u201d, afirma Murugappan Ramanathan Jr., rinologista da Faculdade de Medicina Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

Ramanathan passou a ser um dos poucos especialistas neste campo, depois que come\u00e7ou a imaginar se haveria uma rela\u00e7\u00e3o entre os grandes n\u00fameros de pacientes que ele encontrava com anosmia e as condi\u00e7\u00f5es ambientais onde eles viviam.<\/p>\n\n\n\n

Ele se fazia uma simples pergunta: existe um n\u00famero desproporcional de pacientes com anosmia morando em \u00e1reas com maiores \u00edndices de polui\u00e7\u00e3o por PM2,5?<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 recentemente, as poucas pesquisas cient\u00edficas sobre este tema inclu\u00edam um estudo mexicano de 2006, que usou odores fortes de laranja e caf\u00e9 para mostrar uma tend\u00eancia: os moradores da Cidade do M\u00e9xico (que enfrenta problemas frequentes com a polui\u00e7\u00e3o do ar) possuem, em m\u00e9dia, olfato mais fraco que as pessoas que moram nas regi\u00f5es rurais do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Ramanathan contou com a ajuda de colegas, como o epidemiologista ambiental Zhenyu Zhang, que criou um mapa de dados hist\u00f3ricos da polui\u00e7\u00e3o do ar na regi\u00e3o de Baltimore. Este apoio permitiu a realiza\u00e7\u00e3o de um estudo de controle de casos, usando dados de 2.690 pacientes do Hospital Johns Hopkins em um per\u00edodo de quatro anos. Cerca de 20% deles sofriam de anosmia e a maioria n\u00e3o fumava \u2014 um h\u00e1bito conhecido por prejudicar o sentido do olfato.<\/p>\n\n\n\n

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Estudo realizado em S\u00e3o Paulo mostrou que pessoas morando em regi\u00f5es com concentra\u00e7\u00e3o mais alta de part\u00edculas t\u00eam o sentido do olfato reduzido – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Confirmando a hip\u00f3tese, os n\u00edveis de PM2,5 encontrados eram \u201csignificativamente mais altos\u201d nos bairros onde moravam os pacientes com anosmia, em compara\u00e7\u00e3o com participantes controle saud\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo ajustando os resultados com rela\u00e7\u00e3o \u00e0 idade, sexo, etnia, \u00edndice de massa corporal e uso de \u00e1lcool ou fumo, as conclus\u00f5es foram as mesmas. \u201cAt\u00e9 pequenos aumentos da exposi\u00e7\u00e3o a PM2,5 no ambiente podem ser associados \u00e0 anosmia\u201d, segundo o estudo.<\/p>\n\n\n\n

Estes resultados foram confirmados em outras partes do mundo, em estudos publicados neste ano. Um estudo recente, realizado em Br\u00e9scia, no norte da It\u00e1lia, concluiu que os narizes dos adolescentes e jovens adultos ficavam menos sens\u00edveis a odores, quanto mais eles fossem expostos a di\u00f3xido de nitrog\u00eanio \u2014 outro poluente produzido pela queima de combust\u00edveis f\u00f3sseis, particularmente por motores de ve\u00edculos.<\/p>\n\n\n\n

No Brasil, um estudo que durou um ano em S\u00e3o Paulo tamb\u00e9m indicou que as pessoas que moram em regi\u00f5es com concentra\u00e7\u00e3o mais alta de part\u00edculas possuem o sentido do olfato reduzido.<\/p>\n\n\n\n

Por qu\u00ea?<\/h2>\n\n\n\n

De que forma, exatamente, a polui\u00e7\u00e3o est\u00e1 arruinando nossa capacidade de sentir cheiros?<\/p>\n\n\n\n

Segundo Ramanathan, existem duas respostas poss\u00edveis. Uma \u00e9 que parte das part\u00edculas de polui\u00e7\u00e3o est\u00e1 passando pelo bulbo olfat\u00f3rio e chegando diretamente ao c\u00e9rebro, causando inflama\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u201cOs nervos olfat\u00f3rios est\u00e3o no c\u00e9rebro, mas t\u00eam pequenos orif\u00edcios na base do cr\u00e2nio por onde pequenas fibras v\u00e3o at\u00e9 o nariz, quase como pequenos peda\u00e7os de macarr\u00e3o cabelo de anjo\u201d, afirma Ramanathan. \u201cElas ficam expostas.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Em 2016, uma equipe de pesquisadores brit\u00e2nicos encontrou min\u00fasculas part\u00edculas met\u00e1licas em tecido do c\u00e9rebro humano, que aparentemente passaram atrav\u00e9s do bulbo olfat\u00f3rio.<\/p>\n\n\n\n

A professora de ci\u00eancias ambientais Barbara Maher, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, liderou o estudo. Ela contou, na \u00e9poca, que as part\u00edculas eram \u201csurpreendentemente similares\u201d \u00e0 polui\u00e7\u00e3o suspensa no ar, encontrada perto de rodovias movimentadas. Outras poss\u00edveis fontes eram as lareiras dom\u00e9sticas e fog\u00f5es a lenha.<\/p>\n\n\n\n

O estudo de Maher indica que essas part\u00edculas met\u00e1licas em nanoescala poderiam, ao chegar ao c\u00e9rebro, tornar-se t\u00f3xicas, contribuindo com les\u00f5es oxidativas do c\u00e9rebro que prejudicam os caminhos neurais, mas esta ainda \u00e9 uma teoria.<\/p>\n\n\n\n

O outro poss\u00edvel mecanismo, segundo Ramanathan, pode nem mesmo precisar que as part\u00edculas de polui\u00e7\u00e3o cheguem ao c\u00e9rebro. Atingindo o bulbo olfat\u00f3rio quase todos os dias, as part\u00edculas causam inflama\u00e7\u00f5es e danos diretamente aos nervos e os desgastam lentamente.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 algo similar \u00e0 eros\u00e3o litor\u00e2nea, que ocorre quando as ondas salgadas levam a areia embora da costa. Basta substituir as ondas pelo ar carregado de polui\u00e7\u00e3o e a costa pelos nossos nervos nasais.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o surpreende, portanto, que a anosmia afete desproporcionalmente as pessoas mais idosas, pois seus narizes foram atacados pela polui\u00e7\u00e3o do ar por mais tempo.<\/p>\n\n\n\n

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A queima de combust\u00edveis f\u00f3sseis pelos ve\u00edculos modernos produz nanopart\u00edculas poluentes, t\u00e3o pequenas que podem entrar no nosso c\u00e9rebro – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O surpreendente \u00e9 que nenhum dos pacientes do Hospital Johns Hopkins morava em \u00e1reas com polui\u00e7\u00e3o do ar excessivamente alta. Muitos deles viviam em \u00e1reas verdes de Maryland e nenhum morava em pontos conhecidos por serem polu\u00eddos.<\/p>\n\n\n\n

Isso sugere que at\u00e9 baixos n\u00edveis de polui\u00e7\u00e3o do ar podem causar problemas, se o per\u00edodo de exposi\u00e7\u00e3o for suficiente.<\/p>\n\n\n\n

Outro estudo recente foi conduzido separadamente pelo Centro de Pesquisas do Envelhecimento do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Su\u00e9cia.<\/p>\n\n\n\n

A pesquisadora de p\u00f3s-doutorado Ingrid Ekstr\u00f6m ficou intrigada com as descobertas do in\u00edcio dos anos 2000, que demonstravam que mais de 5,8% dos adultos da Su\u00e9cia sofriam de anosmia e 19,1% apresentavam alguma forma de dist\u00farbio olfativo.<\/p>\n\n\n\n

Como as taxas de anosmia s\u00e3o mais altas em pacientes mais idosos, Ekstr\u00f6m e seus colegas projetaram um estudo com 3.363 pacientes com 60 anos de idade ou mais. Utilizando \u201cpalitos de cheiro\u201d fortemente aromatizados com 16 aromas dom\u00e9sticos comuns, os participantes foram avaliados conforme a quantidade que eles conseguiam identificar corretamente.<\/p>\n\n\n\n

Como ocorreu com o estudo de Baltimore, os endere\u00e7os de resid\u00eancia dos participantes foram mapeados e comparados com as leituras de polui\u00e7\u00e3o do ar do munic\u00edpio. E, como em Baltimore, houve forte correla\u00e7\u00e3o entre n\u00edveis mais altos de polui\u00e7\u00e3o e pior capacidade olfativa.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEles foram submetidos \u00e0 polui\u00e7\u00e3o por toda a vida\u201d, afirma Ekstr\u00f6m. \u201cN\u00e3o sabemos exatamente quando suas capacidades olfativas come\u00e7aram a diminuir.\u201d Mas ela est\u00e1 \u201cconfiante\u201d que a causa foi a exposi\u00e7\u00e3o \u00e0 polui\u00e7\u00e3o por longo prazo, mesmo que em n\u00edveis baixos.<\/p>\n\n\n\n

As consequ\u00eancias da perda de audi\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

Em 2021, a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade (OMS) alterou sua orienta\u00e7\u00e3o de exposi\u00e7\u00e3o m\u00e1xima anual m\u00e9dia a PM2,5, reduzindo-a de 10 para 5 microgramas por metro c\u00fabico (\u00b5g\/m3).<\/p>\n\n\n\n

A capital sueca, Estocolmo, \u00e9 uma das poucas cidades importantes do mundo que consegue ficar abaixo desse n\u00edvel, com m\u00e9dia anual de 4,2 \u00b5g\/m3. Comparativamente, Islamabad, no Paquist\u00e3o, possui n\u00edveis m\u00e9dios anuais de PM2,5 de 41,1 \u00b5g\/m3, enquanto Bloemfontein, na \u00c1frica do Sul, tem 42,3 \u00b5g\/m3.<\/p>\n\n\n\n

Isso certamente faz com que as descobertas de Estocolmo sejam ainda mais relevantes. Afinal, se at\u00e9 os moradores da capital sueca est\u00e3o tendo seus sentidos destru\u00eddos pelos n\u00edveis baixos de polui\u00e7\u00e3o, qual ser\u00e1 a situa\u00e7\u00e3o nas regi\u00f5es com altos \u00edndices?<\/p>\n\n\n\n

E \u00e9 tamb\u00e9m um lembrete de como a polui\u00e7\u00e3o pode ser altamente localizada, em ambientes internos e externos. M\u00e9todos de cozimento e op\u00e7\u00f5es de aquecimento podem expor as pessoas a n\u00edveis de polui\u00e7\u00e3o mais altos do que os seus vizinhos.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto isso, os m\u00e9todos modernos de combust\u00e3o dos motores de ve\u00edculos e os recentes fog\u00f5es a lenha \u201cecol\u00f3gicos\u201d podem criar nanopart\u00edculas t\u00e3o finas que mal s\u00e3o registradas nas leituras de PM2,5, mas s\u00e3o suficientemente pequenas para entrar diretamente no nosso fluxo sangu\u00edneo e no tecido cerebral.<\/p>\n\n\n\n

Sabe-se que a polui\u00e7\u00e3o do ar causa um quarto de todas as mortes por doen\u00e7as card\u00edacas e AVCs e cerca da metade das mortes por doen\u00e7as pulmonares. Por isso, comparativamente, talvez nosso sentido do olfato pare\u00e7a estar bem abaixo na lista de preocupa\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Mas Ramanathan e Ekstr\u00f6m advertem que n\u00f3s subestimamos a import\u00e2ncia do olfato como fator de risco.<\/p>\n\n\n\n

A especialidade de pesquisa de Ekstr\u00f6m \u00e9 a dem\u00eancia. E a anosmia pode ser um sinal de aviso precoce.<\/p>\n\n\n\n

\u201cCom a dem\u00eancia e, especialmente, o mal de Alzheimer, n\u00f3s consideramos que a progress\u00e3o da doen\u00e7a, na verdade, come\u00e7a v\u00e1rias d\u00e9cadas antes de podermos observar os primeiros sintomas\u201d, afirma Ekstr\u00f6m.<\/p>\n\n\n\n

E a anosmia \u00e9 um dos primeiros sintomas. Quando o Alzheimer \u00e9 diagnosticado, \u201cquase 90% dos pacientes sofrem de anosmia\u201d, segundo Ekstr\u00f6m.<\/p>\n\n\n\n

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A anosmia pode parecer algo trivial em compara\u00e7\u00e3o com outros efeitos da polui\u00e7\u00e3o do ar para a sa\u00fade, mas, perdendo o olfato, tamb\u00e9m perdemos partes importantes das nossas vidas – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A rela\u00e7\u00e3o exata ainda \u00e9 desconhecida, mas uma teoria \u00e9 que \u201cas toxinas ambientais entram no sistema nervoso central por meio do bulbo olfat\u00f3rio e causam les\u00f5es, acionando esse efeito cascata que, por fim, pode levar \u00e0 neurodegenera\u00e7\u00e3o\u201d, explica ela.<\/p>\n\n\n\n

O estudo de Maher Lancaster, por exemplo, concluiu que nanopart\u00edculas met\u00e1licas foram diretamente associadas \u00e0 forma\u00e7\u00e3o de \u201cplacas senis\u201d \u2014 as les\u00f5es do c\u00e9rebro que formam um dos marcos neuropatol\u00f3gicos do mal de Alzheimer e de outros tipos de dem\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Mas, apesar dessas fortes rela\u00e7\u00f5es, Ekstr\u00f6m argumenta que os pesquisadores apenas recentemente \u201cabriram seus olhos para o sentido do olfato\u201d e seu papel na doen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Em diversos estudos, a perda do olfato foi relacionada ao aumento da possibilidade de depress\u00e3o e ansiedade. Sabe-se tamb\u00e9m que ela colabora com a obesidade, perda de peso, desnutri\u00e7\u00e3o e em casos de envenenamento alimentar.<\/p>\n\n\n\n

Os motivos talvez sejam \u00f3bvios \u2013 nossos narizes desempenham papel fundamental na nossa experi\u00eancia do mundo \u00e0 nossa volta, afetando nossa capacidade de provar alimentos, e nos ajudam a evitar o consumo de alimentos estragados.<\/p>\n\n\n\n

As pessoas que sofrem redu\u00e7\u00e3o do olfato podem buscar consumir alimentos com aroma mais forte, que costumam ser mais salgados e gordurosos. J\u00e1 a perda total do olfato pode fazer as pessoas perderem o prazer dos alimentos e se afastar deles, o que causa perda de peso \u2014 o que \u00e9 um problema, particularmente entre os mais idosos.<\/p>\n\n\n\n

Ramanathan j\u00e1 observou muitos pacientes que \u201cn\u00e3o conseguem provar a comida, n\u00e3o conseguem sentir o aroma do vinho, as coisas que d\u00e3o prazer a elas na vida\u201d. Ele relembra um paciente que era sommelier profissional. Para ele, o desenvolvimento da anosmia foi devastador, pessoal e profissionalmente.<\/p>\n\n\n\n

O sabor e o aroma tamb\u00e9m est\u00e3o relacionados \u00e0 mem\u00f3ria. \u201cAs pessoas n\u00e3o se lembram da apar\u00eancia das massas que comeram na Fran\u00e7a, mas se lembram do cheiro da loja\u201d, segundo Ramanathan.<\/p>\n\n\n\n

Experimentar novamente um aroma espec\u00edfico pode transportar nossa mem\u00f3ria de volta \u00e0quele momento, na casa de massas. Isso levanta a quest\u00e3o, que ainda precisa ser adequadamente estudada, se o inverso tamb\u00e9m pode ser verdade \u2014 se n\u00e3o conseguir mais sentir cheiros pode prejudicar nossa capacidade de criar novas mem\u00f3rias.<\/p>\n\n\n\n

A anosmia tamb\u00e9m pode ser um indicador de outras quest\u00f5es de sa\u00fade mais amplas. Diversos estudos, tipicamente entre fumantes (para quem as dificuldades de olfato persistem at\u00e9 15 anos depois de parar de fumar), demonstraram que os dist\u00farbios olfativos s\u00e3o significativamente associados ao aumento da mortalidade entre adultos mais idosos.<\/p>\n\n\n\n

Um estudo espec\u00edfico chegou a especular que a anosmia poderia ser usada para prever a maior probabilidade de morte, por qualquer causa, entre adultos mais idosos ao longo de um per\u00edodo de cinco anos.<\/p>\n\n\n\n

Em um estudo com 3.005 adultos norte-americanos com 57 a 85 anos de idade, os portadores de anosmia foram considerados quatro vezes mais propensos a morrer do que os que tinham o olfato perfeito, cinco anos depois. Os pesquisadores conclu\u00edram que a deteriora\u00e7\u00e3o do olfato pode ser um sinal de alarme para o ac\u00famulo de toxinas do ambiente ou a redu\u00e7\u00e3o da regenera\u00e7\u00e3o celular.<\/p>\n\n\n\n

Com tudo isso, ser\u00e1 que precisamos nos preocupar com os preju\u00edzos causados ao olfato pela polui\u00e7\u00e3o do ar, a que todos n\u00f3s somos expostos? Claramente, a resposta \u00e9 \u201c\u00f3bvio que sim\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Para Murugappan Ramanathan Jr., a polui\u00e7\u00e3o veicular e os incineradores de res\u00edduos s\u00e3o as principais preocupa\u00e7\u00f5es com a polui\u00e7\u00e3o local em Baltimore. Ele afirma que \u201ca qualidade do ar \u00e9 importante\u201d.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAcho que precisamos de controle e regulamenta\u00e7\u00f5es rigorosas\u201d, segundo ele.<\/p>\n\n\n\n

Muitas pessoas nem mesmo percebem a polui\u00e7\u00e3o a que est\u00e3o expostas e confiam que a regulamenta\u00e7\u00e3o elaborada pelos pol\u00edticos ir\u00e1 proteger a popula\u00e7\u00e3o nas redondezas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEsta \u00e9 uma das muitas condi\u00e7\u00f5es [relativas \u00e0 polui\u00e7\u00e3o]\u201d, segundo Ramanathan. \u201cMas esta \u00e9 meio que especial, sabe? Se voc\u00ea tiver DPOC [doen\u00e7a pulmonar obstrutiva cr\u00f4nica], provavelmente ainda apreciar\u00e1 sua ta\u00e7a de vinho. Mas n\u00e3o com esta aqui.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Ingrid Ekstr\u00f6m relembra que lidar com a polui\u00e7\u00e3o do ar n\u00e3o \u00e9 nada simples. E eventos mundiais tamb\u00e9m podem causar mudan\u00e7as de comportamento inesperadas.<\/p>\n\n\n\n

Ela conta que o consumo de lenha no inverno aumentou em Estocolmo, pois os moradores ficaram preocupados e deixaram de usar o g\u00e1s russo. Mas at\u00e9 o baixo n\u00edvel de polui\u00e7\u00e3o do ar a que somos expostos todos os dias \u201cdeveria ser levado mais a s\u00e9rio\u201d, afirma ela.<\/p>\n\n\n\n

E, segundo Ekstr\u00f6m, tamb\u00e9m \u201cas dificuldades olfativas certamente deveriam ser levadas mais a s\u00e9rio\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"