{"id":181621,"date":"2023-03-13T18:36:55","date_gmt":"2023-03-13T21:36:55","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=181621"},"modified":"2023-03-13T18:36:57","modified_gmt":"2023-03-13T21:36:57","slug":"como-a-lua-esta-tornando-dias-na-terra-mais-longos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2023\/03\/13\/181621-como-a-lua-esta-tornando-dias-na-terra-mais-longos.html","title":{"rendered":"Como a Lua est\u00e1 tornando dias na Terra mais longos"},"content":{"rendered":"\n
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Bilh\u00f5es de anos atr\u00e1s, o dia m\u00e9dio na Terra durava menos de 13 horas. A varia\u00e7\u00e3o se deve \u00e0 rela\u00e7\u00e3o entre a Lua e os nossos oceanos – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ao longo da hist\u00f3ria humana, a Lua sempre foi uma presen\u00e7a misteriosa e insepar\u00e1vel sobre a Terra. Sua suave for\u00e7a gravitacional define o ritmo das mar\u00e9s e sua p\u00e1lida luz ilumina os rituais nupciais noturnos de muitas esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n

Civiliza\u00e7\u00f5es inteiras definiram seus calend\u00e1rios pela Lua, conforme ela surgia e desaparecia. Alguns animais, como os besouros-do-esterco, usam a luz do Sol refletida na superf\u00edcie da Lua para ajudar na sua orienta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Mais fundamentalmente, algumas teorias afirmam que a Lua pode ter ajudado a criar as condi\u00e7\u00f5es que possibilitaram a vida no nosso planeta e at\u00e9 a dar in\u00edcio \u00e0 vida na Terra, desde o primeiro momento.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m se acredita que a sua exc\u00eantrica \u00f3rbita em torno do nosso planeta influencie alguns dos importantes sistemas meteorol\u00f3gicos que dominam nossa vida hoje em dia.<\/p>\n\n\n\n

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A for\u00e7a gravitacional da Lua sobre os oceanos da Terra cria as mar\u00e9s, que arrastam a Lua para uma \u00f3rbita mais alta – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
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Imagem \u00e0 direita mostra o lado oculto da Lua a partir da nossa perspectiva na Terra<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mas a Lua tamb\u00e9m est\u00e1 se afastando de n\u00f3s. A cada volta do seu bal\u00e9 espacial extraordinariamente equilibrado em volta da Terra \u2013 em c\u00edrculos, mas sempre sem piruetas, o que explica porque n\u00f3s sempre vemos o mesmo lado da Lua \u2013, ela vai gradualmente se afastando do nosso planeta, em um processo conhecido como \u201crecess\u00e3o lunar\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Disparando lasers em dire\u00e7\u00e3o a refletores instalados sobre a superf\u00edcie lunar pelos astronautas da miss\u00e3o Apolo, cientistas conseguiram recentemente medir com absoluta precis\u00e3o a velocidade exata de afastamento da Lua. Eles confirmaram que a Lua est\u00e1 se afastando \u00e0 velocidade de 3,8 cm por ano. E, conforme isso acontece, nossos dias v\u00e3o ficando cada vez mais longos.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 tudo quest\u00e3o de mar\u00e9s\u201d, afirma David Waltham, professor de geof\u00edsica da Universidade de Londres Royal Holloway, que estuda a rela\u00e7\u00e3o entre a Lua e a Terra.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA for\u00e7a da mar\u00e9 na Terra reduz sua rota\u00e7\u00e3o e a Lua recebe essa energia na forma de impulso angular\u201d, acrescenta.<\/p>\n\n\n\n

Basicamente, \u00e0 medida que a Terra gira, a gravidade da Lua em \u00f3rbita do nosso planeta impulsiona os oceanos para criar a mar\u00e9 alta e a mar\u00e9 baixa. Essas mar\u00e9s, na verdade, s\u00e3o \u201cvolumes\u201d de \u00e1gua que se estendem em forma el\u00edptica, contra ou a favor da gravidade da Lua.<\/p>\n\n\n\n

Mas a Terra gira sobre o seu eixo em velocidade muito maior que a \u00f3rbita da Lua, o que significa que a fric\u00e7\u00e3o das bacias oce\u00e2nicas em movimento no nosso planeta tamb\u00e9m arrasta a \u00e1gua com ela. Com isso, o volume de \u00e1gua move-se levemente \u00e0 frente da Lua na sua \u00f3rbita, que tenta pux\u00e1-la de volta.<\/p>\n\n\n\n

Este processo suga lentamente a energia de rota\u00e7\u00e3o do nosso planeta, reduzindo sua velocidade, enquanto a Lua ganha energia, fazendo com que ela se mova para uma \u00f3rbita mais alta.<\/p>\n\n\n\n

Esta redu\u00e7\u00e3o cont\u00ednua da velocidade de rota\u00e7\u00e3o do nosso planeta significa que a dura\u00e7\u00e3o do dia m\u00e9dio na Terra aumentou em cerca de 1,09 milissegundo por s\u00e9culo desde o final dos anos 1600, segundo a \u00faltima an\u00e1lise dispon\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

Outras estimativas indicam um n\u00famero um pouco mais alto, de 1,78 ms por s\u00e9culo, com base em observa\u00e7\u00f5es de eclipses mais antigos.<\/p>\n\n\n\n

Nenhum desses n\u00fameros parece preocupante, mas, ao longo dos 4,5 bilh\u00f5es de anos de hist\u00f3ria do planeta, a mudan\u00e7a acumulada \u00e9 muito significativa.<\/p>\n\n\n\n

Acredita-se que a Lua tenha se formado cerca de 50 milh\u00f5es de anos ap\u00f3s o nascimento do Sistema Solar.<\/p>\n\n\n\n

A teoria mais aceita \u00e9 que uma colis\u00e3o entre a Terra em forma\u00e7\u00e3o e outro objeto com o tamanho aproximado do planeta Marte, conhecido como Theia, tenha arrancado um peda\u00e7o de material e fragmentos que se agregaram para formar o que hoje chamamos de Lua.<\/p>\n\n\n\n

Dist\u00e2ncia maior e dias mais longos<\/h2>\n\n\n\n

O que fica claro a partir de dados geol\u00f3gicos preservados em faixas rochosas na Terra \u00e9 que a Lua ficava muito mais perto da Terra no passado, em rela\u00e7\u00e3o a hoje.<\/p>\n\n\n\n

Atualmente, a Lua fica a 384.400 km da Terra. Mas um estudo recente indica que, cerca de 3,2 bilh\u00f5es de anos atr\u00e1s \u2013 quando as placas tect\u00f4nicas da Terra come\u00e7avam a se mover e micro-organismos oce\u00e2nicos estavam devorando nitrog\u00eanio \u2013, a Lua ficava a apenas 270.000 km da Terra, ou cerca de 70% da sua dist\u00e2ncia atual.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA rota\u00e7\u00e3o mais r\u00e1pida da Terra reduziu a dura\u00e7\u00e3o do dia, de forma que [em um per\u00edodo de 24 horas], o Sol nascia e se punha duas vezes, n\u00e3o apenas uma, como acontece hoje\u201d, explica o geof\u00edsico Tom Eulenfeld, que liderou o estudo da Universidade Friedrich Schiller em Jena, na Alemanha.<\/p>\n\n\n\n

\u201cIsso pode ter reduzido a diferen\u00e7a de temperatura entre o dia e a noite e afetado a bioqu\u00edmica dos organismos fotossint\u00e9ticos\u201d, segundo Eulenfeld.<\/p>\n\n\n\n

O que estudos como o dele revelam \u00e9 que a velocidade da recess\u00e3o lunar tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 constante \u2013 ela j\u00e1 aumentou e diminuiu ao longo do tempo.<\/p>\n\n\n\n

Um estudo da ge\u00f3loga Vanina L\u00f3pez de Azarevich, da Universidade Nacional de Salta, na Argentina, indica que, cerca de 550-625 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, a Lua talvez estivesse se afastando em at\u00e9 7 cm por ano.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA velocidade em que a Lua se afasta da Terra definitivamente se alterou ao longo do tempo e ir\u00e1 se alterar no futuro\u201d, afirma Eulenfeld. Mas, em grande parte da hist\u00f3ria, a Lua se afastou em velocidade muito menor que a atual.<\/p>\n\n\n\n

De fato, vivemos atualmente em um per\u00edodo em que a velocidade de recess\u00e3o \u00e9 anormalmente alta.<\/p>\n\n\n\n

A Lua precisaria ter se afastado \u00e0 sua velocidade atual por apenas 1,5 bilh\u00e3o de anos para atingir a posi\u00e7\u00e3o onde se encontra hoje. Mas esse processo vem ocorrendo desde a forma\u00e7\u00e3o da Lua, 4,5 bilh\u00f5es de anos atr\u00e1s. Claramente, seu afastamento era muito mais lento no passado.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA for\u00e7a da mar\u00e9, atualmente, \u00e9 tr\u00eas vezes maior do que o esperado\u201d, afirma Waltham. O motivo pode ser o tamanho do Oceano Atl\u00e2ntico.<\/p>\n\n\n\n

A configura\u00e7\u00e3o atual dos continentes faz com que a bacia do Atl\u00e2ntico Norte casualmente tenha propor\u00e7\u00f5es exatas para gerar um efeito de resson\u00e2ncia, de forma que a sua \u00e1gua se movimente de um lado para o outro em velocidade pr\u00f3xima \u00e0 das mar\u00e9s. Com isso, as mar\u00e9s s\u00e3o mais acentuadas do que seriam normalmente.<\/p>\n\n\n\n

Waltham explica que \u00e9 como empurrar uma crian\u00e7a no balan\u00e7o. Ela ir\u00e1 chegar mais alto se cada impulso for coordenado com o movimento existente.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSe o Atl\u00e2ntico Norte fosse um pouco mais largo ou mais estreito, isso n\u00e3o aconteceria\u201d, afirma Waltham. \u201cOs modelos parecem mostrar que, se voc\u00ea voltar alguns milh\u00f5es de anos, a for\u00e7a da mar\u00e9 era menor porque os continentes estavam em posi\u00e7\u00f5es diferentes.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Mas \u00e9 prov\u00e1vel que essa mudan\u00e7a continue no futuro. Modelos preveem que uma nova resson\u00e2ncia da mar\u00e9 ir\u00e1 surgir daqui a 150 milh\u00f5es de anos. E um novo \u201csupercontinente\u201d s\u00f3 ser\u00e1 formado daqui a cerca de 250 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Podemos ent\u00e3o esperar que, um dia, a Terra n\u00e3o tenha mais a Lua?<\/p>\n\n\n\n

Mesmo na velocidade atual de afastamento, n\u00e3o \u00e9 prov\u00e1vel que a Lua chegue a abandonar totalmente a Terra. O tr\u00e1gico fim do Sol provavelmente ocorrer\u00e1 muito antes, daqui a cerca de 5-10 bilh\u00f5es de anos. E a humanidade provavelmente ter\u00e1 sido extinta muito antes disso.<\/p>\n\n\n\n

Mas, no curto prazo, a pr\u00f3pria humanidade pode ajudar a tornar os dias um pouco mais longos, reduzindo a quantidade de \u00e1gua capturada nas geleiras e as coberturas de gelo, devido ao derretimento causado pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cO gelo, basicamente, suprime as mar\u00e9s\u201d, explica Waltham. Ele observa que, cerca de 600-900 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, acredita-se que o nosso planeta tenha entrado em um per\u00edodo particularmente congelante, conhecido como Era do Gelo. E, naquela \u00e9poca, a velocidade de afastamento da Lua foi dramaticamente reduzida.<\/p>\n\n\n\n

Mas \u00e9 dif\u00edcil prever o impacto futuro, que ser\u00e1 parcialmente compensado pelas massas de terra que ser\u00e3o recuperadas \u00e0 medida que o peso das placas de gelo for retirado delas e por outras complica\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Teoricamente, o pr\u00f3ximo grupo de astronautas que ir\u00e1 voar para a Lua no programa Artemis, da Nasa, vai poder verificar se observou seu planeta natal a uma dist\u00e2ncia maior do que a que viram seus predecessores do programa Apolo, 60 anos atr\u00e1s \u2013 embora o ponto da sua chegada durante a \u00f3rbita el\u00edptica da Lua provavelmente seja mais determinante, j\u00e1 que a dist\u00e2ncia entre o apogeu e o perigeu varia em 43 mil quil\u00f4metros a cada 29 dias.<\/p>\n\n\n\n

E, para quem fica por aqui, nossas vidas s\u00e3o breves demais para observar os picossegundos que s\u00e3o acrescentados \u00e0 dura\u00e7\u00e3o de cada dia que passa. Se voc\u00ea piscar os olhos, eles j\u00e1 se foram.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"