{"id":18364,"date":"2005-03-14T00:00:00","date_gmt":"2005-03-14T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2005-03-14T00:00:00","modified_gmt":"2005-03-14T00:00:00","slug":"mapeamento-via-satelite-facilita-grilagem-no-para","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2005\/03\/14\/18364-mapeamento-via-satelite-facilita-grilagem-no-para.html","title":{"rendered":"Mapeamento via sat\u00e9lite facilita grilagem no Par\u00e1"},"content":{"rendered":"

Os m\u00e9todos para assegurar ilegalmente a posse da terra em uma das \u00faltimas fronteiras da Amaz\u00f4nia ganharam uma face assustadoramente tecnol\u00f3gica. Grileiros e madeireiras ilegais mapeiam as \u00e1reas-alvo com a ajuda de imagens de sat\u00e9lite e aparelhos de GPS, limpam \u00e1reas com milhares de hectares em quest\u00e3o de poucos dias e escolhem \u00e9pocas diferentes das tradicionais para desmatar.<\/p>\n

Por outro lado, a grilagem de \u00faltima gera\u00e7\u00e3o na Terra do Meio (PA), descrita num relat\u00f3rio do Minist\u00e9rio da Ci\u00eancia e Tecnologia, obtido pela Folha de S. Paulo, tem pelo menos um ponto importante em comum com o que sempre aconteceu em fronteiras agr\u00edcolas da Amaz\u00f4nia. Para quem avan\u00e7a sobre terras p\u00fablicas e reservas, o interesse \u00e9 assegurar a posse do m\u00e1ximo de terra poss\u00edvel -e s\u00f3 depois tratar de dar a ela alguma utilidade econ\u00f4mica.<\/p>\n

“N\u00f3s quer\u00edamos caracterizar o que estava acontecendo l\u00e1 na Terra do Meio, quais eram os processos de apropria\u00e7\u00e3o da terra no Par\u00e1”, diz Gilberto C\u00e2mara, pesquisador do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e vice-coordenador do Geoma (Rede Tem\u00e1tica de Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amaz\u00f4nia).<\/p>\n

“Descobrimos que o que move tudo \u00e9 a busca pelo direito de propriedade sobre terras p\u00fablicas”, afirma o cientista. O relat\u00f3rio do Geoma sobre a Terra do Meio e seus arredores, feito com base numa miss\u00e3o de campo do ano passado, mostra como e onde esse processo tem avan\u00e7ado e algumas poss\u00edveis tend\u00eancias.<\/p>\n

Processo acelerado –<\/b> Segundo Peter Mann de Toledo, coordenador do Geoma e diretor do Museu Paraense Em\u00edlio Goeldi, a “voracidade” desse processo aumentou nos \u00faltimos tr\u00eas anos. “O conhecimento da tecnologia de sat\u00e9lite por parte dos grileiros acaba tornando isso mais r\u00e1pido”, afirma ele. “\u00c9 claro que eles t\u00eam acesso a tais dados, at\u00e9 pela pol\u00edtica de transpar\u00eancia do governo, que os t\u00eam colocado \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o do p\u00fablico”, diz C\u00e2mara.<\/p>\n

“Eles s\u00e3o muito bem equipados, \u00e0s vezes mais modernos que a gente”, ironiza Philip Fearnside, ec\u00f3logo do Inpa – Instituto Nacional de Pesquisas da Amaz\u00f4nia, outro membro da equipe do relat\u00f3rio. Os programas de informa\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica por sat\u00e9lite permitem localizar \u00e1reas de interesse para a apropria\u00e7\u00e3o ilegal, verificar poss\u00edveis conflitos com reservas ind\u00edgenas ou ambientais e escolher trechos de mata em terras pertencentes \u00e0 Uni\u00e3o.<\/p>\n

Depois, com a ajuda de aparelhos de GPS (sistema de posicionamento global, na sigla inglesa), fica f\u00e1cil mapear e delimitar a \u00e1rea para o desmatamento. “Tudo isso ajuda a minimizar os custos de fazer a grilagem”, diz Fearnside. O pesquisador recorda o caso de um madeireiro que chegou a Apu\u00ed, no Amazonas (fora da Terra do Meio, portanto) de olho numa \u00e1rea isolada de floresta. “Com o GPS, a filha dele viu que a \u00e1rea estava inclu\u00edda numa reserva criada pelo Estado do Amazonas, e ele acabou desistindo.”<\/p>\n

Desnecess\u00e1rio dizer que o desfecho desse tipo de iniciativa nem sempre \u00e9 t\u00e3o animador. Outro trecho de mata completamente isolado, ao sul do rio Iriri, perdeu, em duas semanas, cerca de 6.200 hectares. Sugestivamente, conta Fearnside, o pol\u00edgono desmatado ganhou o apelido de “Rev\u00f3lver”, por causa de seu formato. Seu surgimento foi acompanhado pelo sistema Deter – Detec\u00e7\u00e3o do Desmatamento em Tempo Real.<\/p>\n

“O que nos pareceu estranho nesse caso foi a rapidez e a dist\u00e2ncia -o fato de estar bem no meio da Terra do Meio, no meio do nada”, diz C\u00e2mara. “\u00c9 dif\u00edcil imaginar por que algu\u00e9m ia abrir uma clareira t\u00e3o grande, a n\u00e3o ser que n\u00e3o soubesse que a gente ia “pegar” isso com o sat\u00e9lite.” A l\u00f3gica do desmatamento r\u00e1pido de grandes \u00e1reas, facilitada pelo mapeamento eletr\u00f4nico, \u00e9 a de criar um fato consumado. Fica mais f\u00e1cil conseguir a posse de uma suposta \u00e1rea de preserva\u00e7\u00e3o que j\u00e1 perdeu boa parte da floresta.<\/p>\n

A necessidade de escapar da vigil\u00e2ncia tamb\u00e9m est\u00e1 mudando as \u00e9pocas do ano escolhidas para grandes derrubadas, contam os pesquisadores. “Eles come\u00e7am a fazer coisas fora do padr\u00e3o, como desmatar na \u00e9poca das chuvas, e n\u00e3o na estiagem”, afirma Toledo. Para quem olha de fora, a \u00e1rea continua verde e o processo pode prosseguir com facilidade.<\/p>\n

Apesar de todas as mudan\u00e7as, uma coisa continua igual ao que sempre aconteceu em outras fronteiras agr\u00edcolas do pa\u00eds. “Por enquanto, voc\u00ea v\u00ea que a explora\u00e7\u00e3o madeireira, por exemplo, \u00e9 m\u00ednima”, diz Toledo. “O interesse deles \u00e9 conquistar terras o mais rapidamente poss\u00edvel e s\u00f3 depois utiliz\u00e1-las economicamente. Esse \u00e9 o mesmo padr\u00e3o que j\u00e1 foi dominante em Rond\u00f4nia, em Mato Grosso ou no Acre.” (Folha Online)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Grileiros e madeireiras ilegais mapeiam as \u00e1reas-alvo com a ajuda de imagens de sat\u00e9lite e aparelhos de GPS, limpam \u00e1reas com milhares de hectares em quest\u00e3o de poucos dias e escolhem \u00e9pocas diferentes das tradicionais para desmatar. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[32],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18364"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=18364"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18364\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=18364"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=18364"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=18364"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}