{"id":21666,"date":"2005-11-13T00:00:00","date_gmt":"2005-11-13T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2005-11-13T00:00:00","modified_gmt":"2005-11-13T00:00:00","slug":"maternidade-um-alento-para-portadoras-de-hiv","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2005\/11\/13\/21666-maternidade-um-alento-para-portadoras-de-hiv.html","title":{"rendered":"Maternidade, um alento para portadoras de HIV"},"content":{"rendered":"
Embora cause uma s\u00e9rie de preocupa\u00e7\u00f5es, a maternidade tamb\u00e9m \u00e9 um grande alento para as mulheres portadoras de HIV\/Aids. A constata\u00e7\u00e3o \u00e9 da psic\u00f3loga Eliana Maria Hebling, que acaba de defender tese de doutorado sobre o assunto na Faculdade de Ci\u00eancias M\u00e9dicas (FCM) da Unicamp. De acordo com a pesquisadora, ao mesmo tempo em que sofrem muito por associarem a gravidez com a orfandade dos filhos, as soropositivas tamb\u00e9m encontram na oportunidade de ser m\u00e3e um est\u00edmulo para cuidar ainda mais da pr\u00f3pria sa\u00fade.<\/p>\n
Doze mulheres deram depoimento<\/p>\n
Para desenvolver a pesquisa, Eliana Hebling colheu o depoimento de 12 mulheres portadoras de HIV\/Aids, com idades entre 20 e 39 anos e diferentes n\u00edveis de escolaridade. Destas, quatro estavam gr\u00e1vidas quando receberam o diagn\u00f3stico e quatro decidiram ter filhos ap\u00f3s tomarem conhecimento da contamina\u00e7\u00e3o. As outras quatro optaram por n\u00e3o engravidar, porque temiam transmitir o v\u00edrus para os beb\u00eas. Estas \u00faltimas, todavia, j\u00e1 tinham pelo menos um filho. Conforme a pesquisadora, a maioria era casada ou vivia uma uni\u00e3o est\u00e1vel durante o estudo.<\/p>\n
Um dos aspectos identificados pela psic\u00f3loga junto \u00e0s mulheres que estavam gr\u00e1vidas ou que planejaram ter um filho ap\u00f3s o diagn\u00f3stico \u00e9 que todas encaravam a maternidade como uma extens\u00e3o da pr\u00f3pria vida. Ademais, elas se sentiram estimuladas a cuidar melhor da sa\u00fade, como forma de prolongar a vida e acompanhar o crescimento dos filhos. \u201cA maioria procurava n\u00e3o pensar na morte, pois isso, segundo elas, seria uma forma de apressar o pr\u00f3prio fim. Al\u00e9m disso, grande parte seguiu as recomenda\u00e7\u00f5es m\u00e9dicas e se submeteu a tratamentos para a redu\u00e7\u00e3o da carga viral, iniciativa que reduz o risco da transmiss\u00e3o do v\u00edrus para o feto\u201d, afirma. Todas as crian\u00e7as nasceram soronegativas.<\/p>\n
Eliana Hebling conta que a despeito de procurarem n\u00e3o pensar na morte, essas mulheres evidentemente consideravam a possibilidade de os filhos ficarem \u00f3rf\u00e3os. Diante disso, elas estabeleceram estrat\u00e9gias que visavam a proteger as crian\u00e7as. Uma delas foi a aproxima\u00e7\u00e3o dos familiares. \u201cElas passaram a estabelecer acordos com irm\u00e3os, pais e padrinhos para que estes viessem a cuidar do filho caso elas morressem. Esse dado mostra o quanto \u00e9 importante que os servi\u00e7os de sa\u00fade que atendem essas mulheres tamb\u00e9m trabalhem na orienta\u00e7\u00e3o dos seus familiares\u201d, diz. Um outro ponto detectado pela autora da tese foi o fato da maioria das mulheres n\u00e3o receber apoio do parceiro, que n\u00e3o conseguiu lidar com a situa\u00e7\u00e3o de soropositividade da companheira. Assim, muitas acabaram se separando, mas depois encontraram algu\u00e9m que as aceitasse e incentivasse. Em poucos casos houve estreitamento no relacionamento original.<\/p>\n
Uma das mulheres que participou da pesquisa viveu uma situa\u00e7\u00e3o bastante interessante, na opini\u00e3o da psic\u00f3loga. Antes de ter conhecimento de que era portadora de HIV, ela come\u00e7ou a enfrentar problemas no casamento. Algum tempo depois, a rela\u00e7\u00e3o mostrou-se de fato invi\u00e1vel. Entretanto, enquanto os procedimentos para a separa\u00e7\u00e3o estavam sendo adotados, o marido adoeceu. Posteriormente, foi constatada a sua soropositividade. Na seq\u00fc\u00eancia, ela tamb\u00e9m tomou conhecimento de que era portadora do v\u00edrus. \u201cEsse acontecimento serviu para reaproximar o casal, que decidiu ter um filho. Ambos passaram a tomar ainda mais cuidado com a sa\u00fade e a se apoiarem mutuamente. O resultado foi que o filho deles nasceu soronegativo\u201d, afirma a psic\u00f3loga.<\/p>\n
Segundo Eliana Hebling, as mulheres que tiveram filhos ap\u00f3s tomarem ci\u00eancia de que eram soropositivas viveram um drama em comum: a quest\u00e3o da amamenta\u00e7\u00e3o. Para elas, se a maternidade era a ess\u00eancia da feminilidade, a amamenta\u00e7\u00e3o era a ess\u00eancia da maternidade. O fato de n\u00e3o poderem oferecer o seio aos filhos, como medida de preven\u00e7\u00e3o contra a transmiss\u00e3o do v\u00edrus aos beb\u00eas, sempre foi motivo de tristeza para elas. \u201cIsso sem falar na press\u00e3o que a sociedade exerce sobre ato da amamenta\u00e7\u00e3o. Ao serem questionadas por desconhecidos do motivo de n\u00e3o amamentarem seus filhos, essas mulheres se viam num beco sem sa\u00edda: ou passavam por relapsas ou expunham a sua condi\u00e7\u00e3o de soropositivas\u201d, esclarece a autora da tese.<\/p>\n
Um exemplo que ajuda a explicar a import\u00e2ncia da maternidade para essas mulheres vem de outra personagem entrevistada por Eliana Hebling. Essa mulher, conforme a psic\u00f3loga, ficou sabendo que era portadora de HIV\/Aids ao abrir imediatamente o resultado do exame que fora buscar no posto de sa\u00fade. Entretanto, quando foi pegar o exame para saber se o filho era ou n\u00e3o soropositivo, ela n\u00e3o teve coragem de l\u00ea-lo antes de estar na presen\u00e7a do m\u00e9dico. \u201cA preocupa\u00e7\u00e3o com o bem-estar da crian\u00e7a, para essas mulheres, come\u00e7a antes da gravidez, passa pelo parto e segue pelo resto da vida\u201d.<\/p>\n
Justamente para evitar todas essas dores, d\u00favidas e preocupa\u00e7\u00f5es \u00e9 que algumas das mulheres ouvidas pela autora da tese escolheram n\u00e3o engravidar. Entretanto, todas elas j\u00e1 tinham pelo menos um filho quando receberam o diagn\u00f3stico de que eram portadoras de HIV. \u201cPara estas, o desejo da maternidade j\u00e1 havia sido preenchido. Mas fiquei com a n\u00edtida impress\u00e3o de que se elas j\u00e1 n\u00e3o fossem m\u00e3es, possivelmente teriam optado pela gravidez, mesmo sabendo que eram soropositivas\u201d, arrisca. A orientadora de Eliana Hebling foi a professora Ellen Elizabeth Hardy, professora do Departamento de Tocoginecologia da FCM. (Manuel Alves Filho \/ Jornal da Unicamp)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"