{"id":27757,"date":"2006-11-09T00:00:00","date_gmt":"2006-11-09T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2011-02-22T17:24:27","modified_gmt":"2011-02-22T20:24:27","slug":"valorizacao-dos-recursos-geneticos-e-novo-olhar-para-a-industriabiotecnologia-inedita-para-a-saude-do-homem-e-da-natureza","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/artigos\/2006\/11\/09\/27757-valorizacao-dos-recursos-geneticos-e-novo-olhar-para-a-industriabiotecnologia-inedita-para-a-saude-do-homem-e-da-natureza.html","title":{"rendered":"Valoriza\u00e7\u00e3o dos Recursos Gen\u00e9ticos e novo olhar para a Ind\u00fastria: Biotecnologia in\u00e9dita para a sa\u00fade do Homem e da Natureza"},"content":{"rendered":"

Mario Christian Meyer (*)<\/strong><\/p>\n

A m\u00eddia internacional vem dando manchetes ao desaparecimento da biodiversidade Amaz\u00f4nica e dos conhecimentos ind\u00edgenas associados. A imprensa nacional alerta para o fato de que os lucros gerados pelos recursos gen\u00e9ticos Amaz\u00f4nicos e Atl\u00e2nticos s\u00f3 beneficiaram grupos estrangeiros.<\/p>\n

A origem desses dois problemas prov\u00e9m das formas de aproveitamento dos recursos gen\u00e9ticos da biodiversidade brasileira que sempre passou por duas vias incompat\u00edveis com a preserva\u00e7\u00e3o da natureza e com o desenvolvimento socioecon\u00f4mico do pa\u00eds:<\/p>\n

1) Extra\u00e7\u00e3o dos produtos naturais diretamente da biomassa da floresta (ex: extratos), o que pode provocar a extin\u00e7\u00e3o de certas esp\u00e9cies de grande valor no mercado internacional (ex: pau rosa). Por conseq\u00fc\u00eancia, esta via n\u00e3o preserva a natureza.<\/p>\n

2) C\u00f3pia das mol\u00e9culas valiosas da floresta atrav\u00e9s de procedimentos de s\u00edntese qu\u00edmica, o que concentra o lucro no exterior do pa\u00eds, onde se encontram as grandes ind\u00fastrias qu\u00edmicas, farmac\u00eauticas…. Por conseq\u00fc\u00eancia, esta via n\u00e3o traz desenvolvimento socioecon\u00f4mico para a regi\u00e3o de rica biodiversidade.<\/p>\n

Hoje desenvolvemos uma biotecnologia que pode solucionar parte desses problemas, permitindo valorizar o que h\u00e1 de mais precioso nas nossas florestas: os recursos gen\u00e9ticos e os conhecimentos ind\u00edgenas associados.<\/p>\n

Por mais de 15 anos, vimos buscando incessantemente \u2013 em parceria com institui\u00e7\u00f5es\/organiza\u00e7\u00f5es Internacionais, como a UNESCO, Europ\u00e9ias como a Comiss\u00e3o Europ\u00e9ia, Francesas como o Coll\u00e8ge de France ou a Sorbonne, Brasileiras como o INPA ou o Centro de Biotecnologia da Amaz\u00f4nia, com Organiza\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas como a FEPI, bem como com ind\u00fastrias de ponta \u2013 encontrar a forma mais pragm\u00e1tica de salvaguardar e valorizar a rica biodiversidade Amaz\u00f4nica e Atl\u00e2ntica e o que resta do valioso conhecimento ind\u00edgena brasileiro amea\u00e7ado de extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Como resultado destes esfor\u00e7os, conclu\u00edmos que a forma mais vi\u00e1vel de salvaguardar essas riquezas \u00fanicas do planeta, oferecendo ao mesmo tempo condi\u00e7\u00f5es dignas de exist\u00eancia as popula\u00e7\u00f5es nativas da floresta, consiste em criarmos uma alian\u00e7a inovadora e revolucion\u00e1ria entre os conhecimentos tradicionais e as biotecnologias. Os conhecimentos tradicionais: porque representam o primeiro passo, in situ<\/em>, do conhecimento ancestral dos recursos gen\u00e9ticos da floresta. As biotecnologias: porque constituem o instrumento ideal que o mundo moderno desenvolveu para valorizar a biodiversidade.<\/p>\n

Poder\u00e1 o \u00cdndio utilizar uma biotecnologia para criar bio-produtos?<\/strong><\/p>\n

Muitos se perguntam: ser\u00e1 o \u00cdndio capaz de utilizar uma tecnologia avan\u00e7ada? Temos constatado que muitas autoridades pol\u00edticas e empresariais de alto porte, com quem tivemos in\u00fameras e veementes discuss\u00f5es e que certamente se reconhecer\u00e3o na leitura deste artigo, t\u00eam um conhecimento parcial da realidade ind\u00edgena e consideram que os \u00cdndios j\u00e1 perderam o conhecimento que tinham da Natureza, das plantas medicinais…<\/p>\n

Muitos dos que est\u00e3o lendo estas linhas pensam da mesma forma. Torna-se assim vital pontuar! \u00c9 verdade que a maioria dos \u00cdndios que se encontram nas proximidades das cidades j\u00e1 est\u00e3o aculturados e que, face ao poder da cultura dominante, n\u00e3o est\u00e3o mais em condi\u00e7\u00f5es de \u201cexercer\u201d a sua identidade \u00cdndia. Por\u00e9m, \u00e9 fundamental lembrar que os \u00cdndios, antes da chegada dos Conquistadores, j\u00e1 viviam aqui h\u00e1 pelo menos 11 mil anos. E sobreviveram, por mil\u00eanios, sem a ajuda de quem quer que seja, num dos meios mais arriscados e hostis do planeta, em grande parte pelo conhecimento afinado das plantas medicinais que lhes permitiram sanar as incont\u00e1veis agress\u00f5es que o meio lhes infligia.<\/p>\n

Hoje ainda, estima-se que 10% dos cerca de 358 000 \u00cdndios do Brasil (1)<\/strong> (estimativas ISA: 350 a 550 mil) ainda vivem sem contato com o homem branco e em perfeita harmonia com a Natureza, mantendo a integridade de seus conhecimentos tradicionais: s\u00e3o os \u201c\u00cdndios isolados\u201d, verdadeiros \u201cPr\u00edncipes da Floresta\u201d. \u00c9 um caso \u00fanico no mundo! Provavelmente, outros 30%, com contatos ocasionais com os \u201cbrancos\u201d, guardam um conhecimento preservado da Natureza, conforme invent\u00e1rio que fizemos para UNESCO (2)<\/strong>.<\/p>\n

Os \u00cdndios isolados podem ainda merecer a denomina\u00e7\u00e3o de \u201cPr\u00edncipes da Floresta\u201d. As comunidades ind\u00edgenas que mant\u00eam um alto grau de preserva\u00e7\u00e3o psico-cultural t\u00eam por voca\u00e7\u00e3o tornarem-se os \u201cGuardi\u00f5es da Biodiversidade\u201d no contexto da PNB – Pol\u00edtica Nacional de Biodiversidade, e poder\u00e3o aspirar a manter a denomina\u00e7\u00e3o de \u201cDoutores da Natureza\u201d (n\u00e3o h\u00e1 espa\u00e7o aqui para citarmos o invent\u00e1rio que fizemos de todas as contribui\u00e7\u00f5es do \u00cdndio \u00e0 ci\u00eancia, como a crepitina, pilocarpina, quinina, tubocurarina, emitina, captopril…ou \u00e0 ind\u00fastria, como a borracha da hevea…).<\/p>\n

Mas, para tanto \u00e9 necess\u00e1rio agir rapidamente, pois o contato com os mais perigosos representantes da nossa esp\u00e9cie (madeireiros ilegais, garimpeiros com merc\u00fario…) \u00e9 inexor\u00e1vel!<\/p>\n

Neste sentido, tudo indica que a \u00fanica forma de preservar o que resta da inestim\u00e1vel cultura ind\u00edgena, consiste em fornecer ao \u00cdndio os instrumentos da tecnologia moderna que lhes servir\u00e1 de escudo protetor ao mesmo tempo em que lhes fornecer\u00e1 a possibilidade de exercer uma fun\u00e7\u00e3o digna dentro da sociedade contempor\u00e2nea: em troca, o seu saber enriquecer\u00e1 certos aspectos da biotecnologia e ele se tornar\u00e1 mestre em alguns tipos de bio-produtos que correspondem aos anseios e demandas da sociedade contempor\u00e2nea.<\/p>\n

Esses bio-produtos ter\u00e3o, pelas nossas parcerias com centros de excel\u00eancia tecnol\u00f3gicos e com organiza\u00e7\u00f5es como a UNESCO, um selo de qualidade, de respeito da propriedade intelectual e de partilha eq\u00fcitativa dos benef\u00edcios. Para efetivar esse interc\u00e2mbio e a bio-produ\u00e7\u00e3o pelo \u00cdndio, criamos uma metodologia pr\u00e1tica denominada Cogni\u2019\u00cdndios, que associa determinadas pr\u00e1ticas da mitologia ind\u00edgena relacionadas \u00e0 biodiversidade com determinados processos da biotecnologia.<\/p>\n

Biotecnologia in\u00e9dita ao alcance do \u00cdndio e com alto valor agregado para a bio-produ\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n

Hoje conseguimos, com o Instituto Nacional Polit\u00e9cnico de Loraine – Fran\u00e7a, adaptar uma biotecnologia que nos permite formar um grupo de \u00cdndios selecionados capazes de assegurar a aplica\u00e7\u00e3o desse novo procedimento biotecnol\u00f3gico at\u00e9 a fase de produ\u00e7\u00e3o de extratos vegetais semi-purificados, com alto valor agregado… Trata-se da PAT (Plantes \u00e0 Traire = Planta a ordenhar). Assim, pela primeira vez da hist\u00f3ria, criamos um \u201cprocedimento pr\u00e1tico\u201d que permite aos Empres\u00e1rios\/Industriais e \u00e0s Comunidades da floresta falarem a mesma linguagem e terem o mesmo objetivo: produzir resultados econ\u00f4micos \u2013 e sociais \u2013 preservando a natureza: o beneficio ficando em grande parte no Brasil.<\/p>\n

A nova biotecnologia que estamos trazendo ao Brasil permitir\u00e1 ao mesmo tempo preservar e valorizar a biodiversidade, no pr\u00f3prio pa\u00eds assegurando benef\u00edcios para as comunidades locais. De fato, ela permite extrair, sem danificar a natureza, o que h\u00e1 de mais valioso nas plantas: os seus princ\u00edpios ativos, que chamamos o \u201couro verde\u201d. Ela opera com plantas em hidroponia.<\/p>\n

As ra\u00edzes das plantas selecionadas na floresta, que mergulham num l\u00edquido com nutrientes, ser\u00e3o \u201cprovocadas\u201d atrav\u00e9s de subst\u00e2ncias especiais para que se defendam. A planta viva se defende excretando princ\u00edpios ativos que ser\u00e3o liberados pelas ra\u00edzes. Atrav\u00e9s de uma t\u00e9cnica inovadora, esses princ\u00edpios ativos ser\u00e3o capturados numa coluna contendo resinas que fixam as mol\u00e9culas de interesse farmacol\u00f3gico, cosm\u00e9tico… Numa segunda fase, passa-se por essa coluna uma solu\u00e7\u00e3o que vai liberar os princ\u00edpios ativos para que possam ser concentrados, por destila\u00e7\u00e3o, na forma de um extrato semi-purificado, com alto valor comercial. Como ilustra\u00e7\u00e3o, o valor atual do taxol, subst\u00e2ncia anti-c\u00e2ncer extra\u00edda da planta americana Pacific Yew<\/em>, \u00e9 de U$ 500 000 \/ kg.<\/p>\n

Ind\u00fastrias europ\u00e9ias j\u00e1 assinaram acordos com o PISAD comprometendo-se a transferir outras tecnologias e reverter benef\u00edcios eq\u00fcitativos \u00e0s Comunidades locais. Empres\u00e1rios brasileiros, interessados no desenvolvimento sustent\u00e1vel, associar-se-\u00e3o \u00e0s comunidades da floresta para viabilizar a bio-produ\u00e7\u00e3o a n\u00edvel internacional. Desta forma, eles se diferenciar\u00e3o das demais concorrentes nacionais e internacionais. Desenvolvemos assim uma ponte de coopera\u00e7\u00e3o equilibrada e justa.<\/p>\n

(1) <\/strong>http:\/\/www.ibge.gov.br\/ibgeteen\/datas\/indio\/numeros.html
\n(2)<\/strong> MEYER, M. C., Amerindian Communication and Sustainable Economic Development Programme for a Culture of Peace in Brazilian Amaz\u00f4nia, Report of Activities and Evaluation, UNESCO, Participation Programme 00 BRA 603, 2000-2003, 250p.<\/p>\n

(*) Presidente do PISAD EUROPE (Programa Internacional de Salvaguarda da Amaz\u00f4nia, Mata Atl\u00e2ntica e Amer\u00edndios para o Desenvolvimento Sustent\u00e1vel) \u2013 Paris, em parceria institucional e financeira com a UNESCO – Programa 00 BRA 603: Amerindian Communication and Sustainable Economic Development Programme for a Culture of Peace<\/em>; professor Convidado junto \u00e0 Universit\u00e9s de Paris – Sorbonne e membro titular da Soci\u00e9t\u00e9 de M\u00e9decine de Paris<\/em>.
\n<\/strong><\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"