{"id":28077,"date":"2006-11-28T00:00:00","date_gmt":"2006-11-28T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2006-11-28T00:00:00","modified_gmt":"2006-11-28T00:00:00","slug":"caboclo-da-amazonia-esta-no-limiar-da-subnutricao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2006\/11\/28\/28077-caboclo-da-amazonia-esta-no-limiar-da-subnutricao.html","title":{"rendered":"Caboclo da Amaz\u00f4nia est\u00e1 no limiar da subnutri\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"
Algumas controv\u00e9rsias cient\u00edficas se resolvem n\u00e3o em semanas, meses ou anos, mas em d\u00e9cadas – ou n\u00e3o se resolvem, como a da capacidade de suporte de popula\u00e7\u00f5es humanas pela floresta amaz\u00f4nica. Seus lances n\u00e3o envolvem artigos em peri\u00f3dicos especializados como “Nature” ou “Science”, e sim livros como “Sociedades Caboclas Amaz\u00f4nicas, Modernidade e Invisibilidade”, que lan\u00e7ado nesta segund-feira (27) em S\u00e3o Paulo.<\/p>\n
O volume editado pelos antrop\u00f3logos Cristina Adams, Rui Murrieta e Walter Neves traz dados novos sobre a vida na imensid\u00e3o verde, por\u00e9m \u00e9 duvidoso que possa abolir a pol\u00eamica. Seus termos foram ditados por outro livro, um cl\u00e1ssico de 1971 do pensamento arqueoantropol\u00f3gico sobre florestas tropicais: “Amaz\u00f4nia, a Ilus\u00e3o de um Para\u00edso” (editado no Brasil pela Itatiaia em 1987), da arque\u00f3loga americana Betty Meggers, uma interpreta\u00e7\u00e3o das escava\u00e7\u00f5es que realizou na regi\u00e3o com seu marido, Clifford Evans, nos anos 1950.<\/p>\n
A imagem de para\u00edso amaz\u00f4nico era ilus\u00f3ria, sustentava Meggers, porque a floresta exuberante na realidade oculta uma cr\u00f4nica escassez de nutrientes. Somente grupos humanos pequenos e dispersos poderiam sobreviver naquela contrafa\u00e7\u00e3o do \u00c9den. Para ela e Evans, essa era a realidade evidente no panorama oferecido por povos ind\u00edgenas atuais e pelo registro arqueol\u00f3gico.<\/p>\n
Determinante – <\/strong>“Sociedades Caboclas Amaz\u00f4nicas” – entre os 13 estudos que re\u00fane – traz novo apoio para a tese ecologicamente determinante (“determinista”, diriam outros), s\u00f3 que com base noutro tipo de popula\u00e7\u00e3o: camponeses e ribeirinhos, descendentes de colonizadores europeus e de \u00edndios que se espalharam pela metade norte do Brasil, principalmente no \u00faltimo par de s\u00e9culos. Pode ser considerado o primeiro esfor\u00e7o de s\u00edntese do conhecimento antropol\u00f3gico sobre o caboclo e seu territ\u00f3rio. Gente e lugares para os quais o resto do pa\u00eds virou as costas, em que predomina o h\u00e1bito de se alimentar \u00e0 base de peixe e de mandioca.<\/p>\n “O P\u00e3o da Terra”, ensaio assinado pelos editores mais Andr\u00e9a Siqueira e Rosely Sanches, pode ser lido como um elogio \u00e0 subestimada Manihot esculenta. Cultivada h\u00e1 mais de 5.000 anos nas Am\u00e9ricas Central e do Sul, a planta terminou associada em meados do s\u00e9culo 20 com subdesenvolvimento e desnutri\u00e7\u00e3o, por for\u00e7a de obras como “Geografia da Fome”, de Josu\u00e9 de Castro. No que respeita \u00e0 Amaz\u00f4nia, um equ\u00edvoco: nenhum outro cultivo se adapta t\u00e3o bem \u00e0s condi\u00e7\u00f5es da regi\u00e3o Norte do pa\u00eds, com muitos solos pobres e cheias fenomenais em seus rios.<\/p>\n Subnutri\u00e7\u00e3o – <\/strong>Apesar da mandioca e do pescado, o caboclo vive no limiar da subnutri\u00e7\u00e3o, revela o estudo, mas somente no que diz respeito a calorias (alimentos que fornecem energia para o organismo consumir, como a\u00e7\u00facares e gordura). No quesito prote\u00ednas (nutrientes importantes para a estrutura do corpo), est\u00e1 bem servido com os peixes, que tamb\u00e9m fornecem caloria na forma de gordura. Foram pesquisadas cinco comunidades paraenses, tr\u00eas na ilha de Maraj\u00f3 e duas na ilha de Ituqui (regi\u00e3o de Santar\u00e9m).<\/p>\n Os autores n\u00e3o deixam de dar raz\u00e3o a Meggers, mas criticam, ao mesmo tempo, o determinismo ecol\u00f3gico de linhas de pesquisa sobre a ocupa\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia que se originaram a partir dela. Analisando diferen\u00e7as na dieta em cada comunidade e at\u00e9 entre fam\u00edlias de um mesmo local, assinalam a import\u00e2ncia de fatores sociais e culturais para explic\u00e1-las.<\/p>\n “Apesar de a antropologia cl\u00e1ssica ter exclu\u00eddo o ambiente f\u00edsico, esta exclus\u00e3o radical \u00e9 para n\u00f3s obsoleta”, escrevem os autores. “O grande desafio (…) \u00e9 suplantar as barreiras impostas pelas ci\u00eancias sociais de tradi\u00e7\u00e3o cl\u00e1ssica sem correr o risco de cair novamente em determinismos ambientais e biol\u00f3gicos”, continuam.<\/p>\n Segundo Meggers, por\u00e9m, “a controv\u00e9rsia est\u00e1 longe de terminar”. Consultada a respeito do livro, a pesquisadora do Instituto Smithsonian, em Washington, de 87 anos, respondeu que “Walter Neves est\u00e1 entre os poucos que ap\u00f3iam a exist\u00eancia de limita\u00e7\u00f5es ambientais \u00e0 agricultura intensiva sustent\u00e1vel” na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n “O mais destacado oponente (dessa vis\u00e3o) \u00e9 Eduardo Neves, da Universidade de S\u00e3o Paulo, que tem escavado na regi\u00e3o entre o Baixo Rio Negro e o Solim\u00f5es e afirma ter sido (aquela regi\u00e3o) sede de popula\u00e7\u00f5es densas e sedent\u00e1rias”, afirmou Meggers, por e-mail. “Reivindica\u00e7\u00f5es similares v\u00eam sendo publicadas recentemente por Michael Heckenberger, para o Alto Xingu, Clark Erickson, para Llanos de Mojos, e Anna Roosevelt, para Maraj\u00f3 e Santar\u00e9m.” (Marcelo Leite\/ Folha Online)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Segundo um estudo, apesar da mandioca e do pescado, o caboclo vive no limiar da subnutri\u00e7\u00e3o, mas somente no que diz respeito a calorias. 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