Tornar sustent\u00e1vel a produ\u00e7\u00e3o de ferro gusa, a principal mat\u00e9ria-prima do a\u00e7o, nos estados do Maranh\u00e3o e do Par\u00e1 \u00e9 o objetivo do SBF – Servi\u00e7o Florestal Brasileiro com a proposta de cria\u00e7\u00e3o do Distrito Florestal Sustent\u00e1vel do P\u00f3lo Caraj\u00e1s. A id\u00e9ia foi discutida nesta ter\u00e7a-feira (27) em semin\u00e1rio realizado em Bel\u00e9m (PA). Participaram representantes da ind\u00fastria sider\u00fargica da regi\u00e3o, do governo do estado, organiza\u00e7\u00f5es n\u00e3o-governamentais, Minist\u00e9rio P\u00fablico e do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov\u00e1veis.<\/p>\n
Segundo o diretor do SFB, Tasso Azevedo, o objetivo \u00e9 estimular o reflorestamento e a recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas. \u201cA principal atividade (do Distrito Florestal Sustent\u00e1vel) ter\u00e1 de ser o reflorestamento e a recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas com esp\u00e9cies e sistemas que permitam abastecer a ind\u00fastria sider\u00fargica, com uma fonte sustent\u00e1vel de carv\u00e3o\u201d, disse. Azevedo destacou que, para tornar o p\u00f3lo realidade, ser\u00e1 preciso criar linhas de financiamento espec\u00edficas, prestar assist\u00eancia t\u00e9cnica aos produtores de carv\u00e3o vegetal e ter um canal de interlocu\u00e7\u00e3o com os assentamentos rurais para acompanhar a atividade.<\/p>\n
\u201cA id\u00e9ia \u00e9 criar uma cadeira de produ\u00e7\u00e3o que desloque quem hoje trabalha com o desmatamento para produzir carv\u00e3o, para que essas mesmas pessoas passem a trabalhar com o plantio de florestas para produzir o carv\u00e3o\u201d, explicou. Hoje, 15 empresas sider\u00fargicas operam no chamado P\u00f3lo de Caraj\u00e1s, na produ\u00e7\u00e3o do ferro gusa, segundo a Associa\u00e7\u00e3o das Sider\u00fargicas de Caraj\u00e1s. Os fornos dessas sider\u00fargicas s\u00e3o movidos a carv\u00e3o vegetal que, em Caraj\u00e1s, t\u00eam quatro fontes principais: madeira proveniente de \u00e1reas desmatadas ilegalmente, de res\u00edduos de serrarias, do plantio de florestas ou do manejo da floresta nativa.<\/p>\n
\u201cHoje, grande parte dessa madeira est\u00e1 vindo do desmatamento e, na maioria das vezes, de desmatamento ilegal\u201d, afirmou Azevedo. O diretor do SFB, \u00f3rg\u00e3o do minist\u00e9rio do Meio Ambiente respons\u00e1vel por criar condi\u00e7\u00f5es favor\u00e1veis para o desenvolvimento florestal sustent\u00e1vel, disse que n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel avaliar o quanto \u00e9 desmatado por ano para produzir o carv\u00e3o vegetal usado na siderurgia da regi\u00e3o de Caraj\u00e1s, porque depende do tipo de vegeta\u00e7\u00e3o. Ele, no entanto, se arrisca a fazer uma proje\u00e7\u00e3o. \u201cN\u00e3o \u00e9 uma boa conta para fazer. Mas \u00e9 poss\u00edvel afirmar que esse n\u00famero, para aquela regi\u00e3o, possa chegar a 100 mil hectares por ano\u201d, estimou.<\/p>\n
O volume anual de madeira que abastece as sider\u00fargicas da regi\u00e3o \u00e9 avaliado em cerca de 14 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos. \u00c9 mais da metade do que consomem todas as serrarias da Amaz\u00f4nia. \u201cAs serrarias da Amaz\u00f4nia, que s\u00e3o mais de 3 mil, consomem 25 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos. E as guseiras de Caraj\u00e1s consomem o equivalente a 14 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos de madeira, que se transforma em carv\u00e3o\u201d, observou Azevedo.<\/p>\n
Com a cria\u00e7\u00e3o do Distrito Florestal Sustent\u00e1vel, o SFB pretende atacar tamb\u00e9m problemas sociais e trabalhistas associados \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o vegetal. \u201cAl\u00e9m do desmatamento ilegal, a produ\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o est\u00e1, em geral, associada a pr\u00e1ticas sociais inadequadas como situa\u00e7\u00f5es de trabalho an\u00e1logas \u00e0 escravid\u00e3o, problemas de seguran\u00e7a no trabalho, falta de registro em carteira. Esses complicadores sociais e ambientais t\u00eam que ser superados para que a cadeia da siderurgia seja uma cadeia com bases mais sustent\u00e1veis\u201d, destacou.<\/p>\n
De acordo com o diretor de Florestas do Ibama, Antonio Carlos Hummel, a institui\u00e7\u00e3o realizou um estudo em 2005 que identificou na produ\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o vegetal a principal causa da insustentabilidade da produ\u00e7\u00e3o de ferro gusa no p\u00f3lo de Caraj\u00e1s. \u201cHistoricamente, houve um erro estrat\u00e9gico ao n\u00e3o pensar na sustentabilidade do p\u00f3lo sider\u00fargico de Caraj\u00e1s. O p\u00f3lo foi instalado no inicio da d\u00e9cada de 90, sem pensar na quest\u00e3o ambiental. Sem imaginar que ia necessitar de uma boa quantidade de florestas para alimentar os fornos sider\u00fargicos. A partir da\u00ed, houve um processo forte de press\u00e3o em cima da floresta nativa. De forma indireta, a produ\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o vegetal para a siderurgia do P\u00f3lo de Caraj\u00e1s acabou fomentando o desmatamento e o uso predat\u00f3rio naquela regi\u00e3o\u201d, contou Hummel.<\/p>\n
Hummel disse ainda que, em fun\u00e7\u00e3o do levantamento do Ibama sobre a associa\u00e7\u00e3o entre o desmatamento e a siderurgia em Caraj\u00e1s, as empresas dever\u00e3o assinar um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta onde v\u00e3o se comprometer a plantar mat\u00e9ria-prima suficiente para dar sustentabilidade \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de ferro gusa na regi\u00e3o. \u201cPor ocasi\u00e3o da renova\u00e7\u00e3o da licen\u00e7a de opera\u00e7\u00e3o, as empresas devem assinar esse termo\u201d, explicou Hummel. Ele disse que o TAC \u00e9 um compromisso assumido diante do Ibama, das secretarias estaduais de meio ambiente e do Minist\u00e9rio P\u00fablico.<\/p>\n
Hummel reconhece que a siderurgia \u00e9 uma atividade econ\u00f4mica essencial para o desenvolvimento da regi\u00e3o, que gera centenas de empregos, mas enfatizou a necessidade de achar uma solu\u00e7\u00e3o negociada para alcan\u00e7ar a sustentabilidade. \u201cFiscalizar na Amaz\u00f4nia n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil. Em Caraj\u00e1s, s\u00e3o mais de 30 mil pessoas envolvidas na cadeia de produ\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o. \u00c9 o lado social do problema. Mas o que n\u00e3o pode acontecer \u00e9 a gente continuar perdendo floresta em grande quantidade\u201d, registrou. (Lana Cristina\/ Ag\u00eancia Brasil)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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