{"id":29868,"date":"2007-03-06T01:00:00","date_gmt":"2007-03-06T01:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2007-03-06T01:00:00","modified_gmt":"2007-03-06T01:00:00","slug":"exclusivo-deficit-de-natureza-e-mais-um-mal-a-prejudicar-criancas-nos-centros-urbanos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/exclusivas\/2007\/03\/06\/29868-exclusivo-deficit-de-natureza-e-mais-um-mal-a-prejudicar-criancas-nos-centros-urbanos.html","title":{"rendered":"EXCLUSIVO: “Deficit de natureza” \u00e9 mais um mal a prejudicar crian\u00e7as nos centros urbanos"},"content":{"rendered":"
M\u00f4nica Pinto \/ AmbienteBrasil<\/strong><\/p>\n

Qualquer pessoa de intelig\u00eancia mediana pode – e deve – compreender que o modelo de desenvolvimento hoje vigente no planeta o est\u00e1 claramente devastando. <\/p>\n

A exist\u00eancia nos centros urbanos, com seus deturpados h\u00e1bitos de consumo e os problemas que deles adv\u00e9m direta ou indiretamente – por exemplo, a criminalidade -, prioriza aparentes confortos. Mas, num paradoxo, decai visivelmente a qualidade de vida nas grandes cidades. <\/p>\n

Gera\u00e7\u00f5es das chamadas “crian\u00e7as de play-ground” n\u00e3o t\u00eam qualquer conviv\u00eancia com fauna e flora em seus ambientes naturais. Vivem cercadas de cinza, respirando ar polu\u00eddo, ouvindo os sons do tr\u00e1fego e vendo outdoors por todos os lados. <\/p>\n

N\u00e3o admira que, neste cen\u00e1rio, seja hoje fruto de preocupa\u00e7\u00e3o em quase todo o mundo o aumento de casos em crian\u00e7as de depress\u00e3o, stress e outras mazelas antes circunscritas ao universo adulto. <\/p>\n

Conforme dados da Sociedade Brasileira de Hipertens\u00e3o, esta doen\u00e7a afeta 5% dos 70 milh\u00f5es de crian\u00e7as e adolescentes no Brasil. S\u00e3o 3,5 milh\u00f5es de crian\u00e7as e adolescentes que precisam de tratamento. <\/p>\n

A falta de oportunidade em coexistir num macro-ambiente saud\u00e1vel imp\u00f5e \u00e0s crian\u00e7as mais um transtorno: o “d\u00e9ficit de natureza”. A express\u00e3o tornou-se conhecida no Brasil ap\u00f3s ter sido t\u00edtulo, na revista \u00c9poca, da coluna assinada pela psic\u00f3loga e monja iogue Susan Andrews, na edi\u00e7\u00e3o de 03 de fevereiro passado. <\/p>\n

Segundo ela, pesquisas realizadas na Universidade Cornell, em Nova York, mostraram que crian\u00e7as com mais natureza perto de casa t\u00eam menos dist\u00farbios de comportamento, menos ansiedade e depress\u00e3o e mais auto-estima. “Nosso estudo revela que os eventos estressantes parecem n\u00e3o causar tanto transtorno psicol\u00f3gico nas crian\u00e7as que vivem em condi\u00e7\u00f5es em que a natureza \u00e9 mais presente, quando comparadas \u00e0quelas que vivem em lugares com menos \u00e1reas verdes”, diz a professora Nancy Wells, na mesma coluna. “Ao refor\u00e7ar os recursos de aten\u00e7\u00e3o das crian\u00e7as, os espa\u00e7os verdes podem ajud\u00e1-las a pensar mais claramente, e com isso capacit\u00e1-las a lidar mais eficazmente com o estresse”, completou. <\/p>\n

Al\u00e9m destas vantagens que o conv\u00edvio em ambientes naturais proporciona \u00e0 sa\u00fade infantil, h\u00e1 outra, de ordem ideol\u00f3gica. Pessoas cujas inf\u00e2ncias incluem contato direto com p\u00e1ssaros e \u00e1rvores, por exemplo, tendem a demonstrar por eles, no futuro, mais respeito. S\u00e3o menos afeitas aos entendimentos puramente antropocentristas. <\/p>\n

Sa\u00fade mental <\/strong>– No campo da psiqu\u00ea, a rela\u00e7\u00e3o crian\u00e7a-natureza tamb\u00e9m se mostra extremamente valiosa na formacao da subjetividade. <\/p>\n

“O processo de individua\u00e7\u00e3o da crian\u00e7a pequena passa primordialmente na relacao com o ‘Outro’. Este ‘Outro’, num contexto ambiental, pode ser entendido como ‘Vida’. Agora, em que momento se percebe essa ‘Vida’ nos grandes centros?”, questiona a psic\u00f3loga paranaense Luana Beal. <\/p>\n

Ela cita o exemplo da necessidade dessa rela\u00e7\u00e3o a partir de uma crian\u00e7a do pr\u00f3prio conv\u00edvio. Na casa onde o menino mora, n\u00e3o h\u00e1 um s\u00f3 pedacinho de grama, mas, na dos av\u00f3s, um pequeno quintal tornou-se o lugar preferido do pequeno. “Por consequ\u00eancia, toda a fam\u00edlia pareceu se lembrar de como aquele cantinho da casa \u00e9 agrad\u00e1vel. As reuni\u00f5es familiares tamb\u00e9m aumentaram consideravelmente”, diz. <\/p>\n

A psic\u00f3loga corrobora que crian\u00e7as a crescerem num ambiente de natureza abundante desenvolvem-se de maneira mais saud\u00e1vel, tanto f\u00edsica quanto emocionalmente. <\/p>\n

“Num mundo onde cada vez mais se \u00e9 exigido produtividade, e agora tamb\u00e9m produtividade ecologicamente correta, \u00e9 imprescind\u00edvel que as nossas crian\u00e7as cres\u00e7am com um minimo de contato com aquilo que vem se tornando de sua responsabilidade conservar”.<\/p>\n

Durante dois anos desenvolvendo um trabalho com fam\u00edlias de pequenos agricultores rurais, Luana diz que deparou-se com crian\u00e7as sadias no f\u00edsico, no intelecto e na emo\u00e7\u00e3o. “A despeito da completa falta de recursos materiais e educacionais, a criatividade gerada por esse contato com a natureza supre lindamente muitas das defasagens advindas do desequil\u00edbrio social”, atesta. <\/p>\n

Diante disso, \u00e9 bom alvitre que administra\u00e7\u00f5es estaduais e municipais incluam, no seu rol de prioridades, a implanta\u00e7\u00e3o de parques e jardins, medida que, de quebra, ajuda a atenuar o aquecimento global.\n<\/p><\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"