{"id":31028,"date":"2004-03-19T00:00:00","date_gmt":"2004-03-19T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2004-03-19T00:00:00","modified_gmt":"2004-03-19T00:00:00","slug":"jeca-tatu-e-seu-cigarro-de-palha","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/artigos\/2004\/03\/19\/31028-jeca-tatu-e-seu-cigarro-de-palha.html","title":{"rendered":"Jeca Tatu e seu cigarro de palha"},"content":{"rendered":"

Efraim Rodrigues (*)<\/strong>\n<\/p>\n

H\u00e1 anos atr\u00e1s, o Jeca Tatu chupava uma laranja e jogava a casca no pomar.<\/p>\n

Meses depois, aquela casca teria liberado seus nutrientes para o solo, que terminariam de novo no p\u00e9 de laranja e mais laranjas seriam produzidas. Ciclagem perfeita, sem desperd\u00edcio de nutrientes ou gasto de energia. Parab\u00e9ns para o Jeca Tatu e seu p\u00e9 de laranja lima.<\/p>\n

Igualmente, quando o nosso her\u00f3i brasileiro ficava apertado, qualquer moita servia e quando ficava feliz, ele podia sair gritando pasto afora. Era um Jeca Tatu por fazenda. N\u00e3o havia ningu\u00e9m por perto para se incomodar.<\/p>\n

Gera\u00e7\u00f5es mais tarde, o nosso her\u00f3i se muda do s\u00edtio para a cidade. Agora a embalagem da comida n\u00e3o \u00e9 mais biodegrad\u00e1vel como a casca da laranja, nem o ch\u00e3o \u00e9 de terra, como no pomar.<\/p>\n

Cidades tem muita gente, e elas s\u00e3o do jeito que s\u00e3o, para fornecer recursos para esta gente. As ruas t\u00eam que ser asfaltadas porque muita gente passa nelas, e a comida tem que ser embalada porque tem que se conservar at\u00e9 chegar \u00e0 mesa, e as pessoas n\u00e3o podem sair gritando quando queiram, porque elas podem incomodar algu\u00e9m.<\/p>\n

Seguir regras de conviv\u00eancia faz a cidade ficar melhor para todos. A nossa popula\u00e7\u00e3o saiu da zona rural h\u00e1 relativamente pouco tempo, e n\u00f3s (a na\u00e7\u00e3o toda) ainda n\u00e3o percebeu estes fatos b\u00e1sicos.<\/p>\n

De todos os porcalh\u00f5es urbanos, os fumantes s\u00e3o os piores.<\/p>\n

Os fumantes inventaram uma grande coisa, que \u00e9 a fonte de polui\u00e7\u00e3o pessoal. N\u00e3o existem computadores pessoais? Treinadores pessoais? O fumante inventou uma fonte de polui\u00e7\u00e3o s\u00f3 para si. At\u00e9 a\u00ed tudo bem. Este \u00e9 um pa\u00eds livre. Voc\u00ea pode at\u00e9 se suicidar de uma vez, se voc\u00ea quiser.<\/p>\n

O problema \u00e9 querer se atirar de um pr\u00e9dio levando o bombeiro junto. A voc\u00ea, que talvez um dia venha ao meu escrit\u00f3rio na universidade, eu j\u00e1 aviso: Sim, eu me incomodo de voc\u00ea fumar perto de mim. Sim, eu me incomodo tamb\u00e9m de voc\u00ea fumar no corredor, e sim, eu trabalho em um \u00f3rg\u00e3o p\u00fablico onde \u00e9 proibido fumar. E isto inclui tamb\u00e9m o estacionamento!<\/p>\n

Com algumas exce\u00e7\u00f5es, os fumantes t\u00eam tamb\u00e9m um prazer especial de jogar as guimbas em qualquer lugar. No ch\u00e3o, na x\u00edcara de caf\u00e9, em um lixo junto com pap\u00e9is inflam\u00e1veis.<\/p>\n

Eu at\u00e9 compreendo este desleixo com espa\u00e7os p\u00fablicos, vindos de pessoas que n\u00e3o se importam em ingerir fuma\u00e7a pura. Se a pr\u00f3pria vida n\u00e3o interessa muito para uma pessoa, que dir\u00e1 a vida dos outros?<\/p>\n

Falando em vida dos outros, o mercado de tabaco tem uma dimens\u00e3o ainda mais maligna.<\/p>\n

Ingerir fuma\u00e7a n\u00e3o faz parte dos interesses de ningu\u00e9m, a n\u00e3o ser que exista algum outro aspecto envolvido nisto. Ainda hoje, uma estrat\u00e9gia de m\u00eddia muito bem montada, vende a id\u00e9ia que fumar \u00e9 bom.<\/p>\n

Qualquer coisa repetida \u00e0 exaust\u00e3o vira verdade, e esta \u00e9 uma delas.<\/p>\n

Outro argumento que eu ou\u00e7o freq\u00fcentemente em prol da ind\u00fastria do tabaco, \u00e9 que ela gera empregos e movimenta a economia. Quantos bares n\u00e3o vivem da venda de cigarros? Quanto imposto n\u00e3o se arrecada?<\/p>\n

Oficializemos o crack, ent\u00e3o! Vamos substituir a produ\u00e7\u00e3o de tabaco por papoula e vamos gerar muito mais empregos e riqueza!<\/p>\n

Um outro aspecto do Jeca Tatu, al\u00e9m de n\u00e3o dar a m\u00ednima para quem vive ao seu redor, \u00e9 tamb\u00e9m n\u00e3o se preocupar com o fruto do seu trabalho. O sinhozinho mandou, a gente faz, depois recebe o sal\u00e1rio no fim do m\u00eas e ponto final. Se eu fa\u00e7o bem ou mal para quem est\u00e1 ao meu redor, n\u00e3o importa. S\u00f3 interessa quanto eu acumulo. O mundo parece estar se globalizando, mas na verdade est\u00e1 se individualizando.<\/p>\n

* \u00c9 Ph.D. em Ecologia pela Harvard University, professor adjunto de Recursos Naturais da UEL e autor do Livro Biologia da Conserva\u00e7\u00e3o. <\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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