{"id":33463,"date":"2007-09-13T00:00:00","date_gmt":"2007-09-13T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2007-09-13T00:00:00","modified_gmt":"2007-09-13T00:00:00","slug":"grupo-acha-fossil-de-mamifero-gigante-no-rj","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2007\/09\/13\/33463-grupo-acha-fossil-de-mamifero-gigante-no-rj.html","title":{"rendered":"Grupo acha f\u00f3ssil de mam\u00edfero gigante no RJ"},"content":{"rendered":"
Uma expedi\u00e7\u00e3o paleontol\u00f3gica \u00e0 regi\u00e3o serrana do Rio de Janeiro encontrou restos de um gigante da Era do Gelo – o primeiro f\u00f3ssil de vertebrado a aparecer no estado ap\u00f3s 25 anos, e o primeiro a ser achado numa caverna. Trata-se de um Toxodon platensis<\/em>, um grande herb\u00edvoro que lembra os hipop\u00f3tamos modernos e que desapareceu da Am\u00e9rica do Sul h\u00e1 cerca de 10 mil anos. <\/p>\n

A descoberta aconteceu no \u00faltimo final de semana, depois que uma equipe da Unirio – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro vasculhou uma s\u00e9rie de cavernas no munic\u00edpio fluminense de Sumidouro. Por enquanto, os achados se resumem a dentes – al\u00e9m do T. platensis<\/em>, ou toxodonte, h\u00e1 tamb\u00e9m restos de um roedor ainda n\u00e3o identificado -, mas os pesquisadores se dizem animados com o potencial da regi\u00e3o.<\/p>\n

“Foi s\u00f3 uma primeira sondagem. A nossa inten\u00e7\u00e3o agora \u00e9 fazer um trabalho detalhado, usando t\u00e9cnicas de arqueologia (que envolvem um levantamento minucioso e delicado dos s\u00edtios, diferente das t\u00e9cnicas normalmente usadas para escavar f\u00f3sseis)”, contou ao G1 o paleont\u00f3logo Leonardo Santos Avilla, que coordena os trabalhos. O dente de toxodonte, provavelmente um molar, d\u00e1 s\u00f3 uma p\u00e1lida id\u00e9ia do corpanzil de 3 m de comprimento e 1,5 m de altura que o bicho tinha em vida, mas talvez ajude a explicar como ele morreu.<\/p>\n

“Parece que h\u00e1 sinais de preda\u00e7\u00e3o nele. A caverna, que n\u00f3s batizamos de Toca do Toxodonte, provavelmente era usada por carn\u00edvoros como local de alimenta\u00e7\u00e3o – eles carregavam parte da presa at\u00e9 l\u00e1 e s\u00f3 ent\u00e3o a comiam”, conta Avilla, que chefia o Laborat\u00f3rio de Mastozoologia (zoologia de mam\u00edferos) da Unirio.<\/p>\n

O pesquisador diz acreditar, no entanto, que o pobre toxodonte talvez n\u00e3o tenha sofrido uma morte das mais glamurosas. Embora a criatura tenha convivido com o Smilodon populator, o maior dente-de-sabre que j\u00e1 existiu, com tamanho 50% maior que o de um le\u00e3o moderno, \u00e9 mais prov\u00e1vel que tenha sido devorada por predadores mais prosaicos, como uma on\u00e7a-pintada ou uma su\u00e7uruana. Isso porque os dentes-de-sabre, com suas enormes presas, talvez n\u00e3o fossem capazes de transportar restos de suas v\u00edtimas para l\u00e1 e para c\u00e1 – suas bocas n\u00e3o seriam h\u00e1beis o suficiente para isso. <\/p>\n

Na trilha do mestre – <\/strong>Avilla explica que ele e seus colegas chegaram \u00e0 regi\u00e3o de Sumidouro inspirados pelo trabalho de Carlos de Paula Couto (1910-1982), um dos patronos da paleontologia brasileira e o primeiro a achar resqu\u00edcios dos mam\u00edferos da Era do Gelo na regi\u00e3o serrana do Rio. Mas Paula Couto mal chegou a arranhar o potencial fossil\u00edfero da regi\u00e3o, que ainda continua quase totalmente inexplorada.<\/p>\n

As cavernas da regi\u00e3o em geral s\u00e3o formadas por rochas de origem vulc\u00e2nica, peda\u00e7os de morros que se quebraram, rolaram para baixo e acabaram gerando os abrigos. Muitas est\u00e3o cobertas de guano (esterco semifossilizado) de morcego ou s\u00e3o muito \u00edngremes, dificultando o acesso dos pesquisadores e exigindo o uso de equipamentos de rapel.<\/p>\n

Al\u00e9m da Toca do Toxodonte, os pesquisadores exploraram com sucesso a caverna conhecida como “Ceci e Peri”, localizada \u00e0s margens do rio Paquequer e considerada uma das inspira\u00e7\u00f5es para o romance “O Guarani”, do escritor rom\u00e2ntico brasileiro Jos\u00e9 de Alencar (a jovem branca Ceci e o \u00edndio Peri s\u00e3o personagens da trama). Foi da caverna Ceci e Peri que veio o dente fossilizado de roedor, provavelmente pertencente a uma esp\u00e9cie viva ainda hoje.<\/p>\n

Os toxodontes pertencem a um grupo de ungulados (mam\u00edferos com casco) que evoluiu de forma isolada na Am\u00e9rica do Sul durante dezenas de milh\u00f5es de anos, quando a regi\u00e3o era uma gigantesca ilha. Quando o nosso continente finalmente se uniu \u00e0 Am\u00e9rica do Norte com a forma\u00e7\u00e3o do istmo do Panam\u00e1, alguns toxodontes conseguiram “invadir” a Am\u00e9rica Central. “Foi um dos poucos mam\u00edferos sul-americanos a fazer isso”, diz Avilla. H\u00e1 controv\u00e9rsias entre os pesquisadores, mas \u00e9 poss\u00edvel que a mesma esp\u00e9cie estivesse presente dos pampas argentinos \u00e0 Am\u00e9rica Central.<\/p>\n

Seus dentes, como o achado pela equipe da Unirio, t\u00eam uma curiosa adapta\u00e7\u00e3o para cortar a grama da qual o bicho se alimentava. Eles tinham crescimento cont\u00ednuo, quase como se os toxodontes fossem coelhos tamanho-fam\u00edlia, mas alternavam camadas de esmalte e dentina que podiam ser desgastadas constantemente. Assim, a ponta do dente mantinha sempre uma l\u00e2mina afiada de esmalte, pronta para enfrentar a grama, muito abrasiva.<\/p>\n

A equipe de pesquisa deve voltar em breve \u00e0 regi\u00e3o, em busca de mais f\u00f3sseis. Os trabalhos est\u00e3o sendo apoiados pela prefeitura de Sumidouro, que tem inten\u00e7\u00e3o de explorar o potencial tur\u00edstico dos achados. (Globo Online)\n<\/p><\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"