{"id":36112,"date":"2008-01-31T01:00:00","date_gmt":"2008-01-31T01:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2008-01-31T01:00:00","modified_gmt":"2008-01-31T01:00:00","slug":"exclusivo-outra-hidreletrica-no-sul-pode-repetir-os-erros-de-barra-grande","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/exclusivas\/2008\/01\/31\/36112-exclusivo-outra-hidreletrica-no-sul-pode-repetir-os-erros-de-barra-grande.html","title":{"rendered":"EXCLUSIVO: Outra Hidrel\u00e9trica no Sul pode repetir os erros de Barra Grande"},"content":{"rendered":"\n
M\u00f4nica Pinto \/ AmbienteBrasil<\/strong><\/p>\n

Como foi amplamente divulgado na ocasi\u00e3o, o licenciamento da Usina Hidrel\u00e9trica de Barra Grande, no rio Pelotas, divisa entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, baseou-se numa fraude no EIA\/Rima do empreendimento. O documento simplesmente \u201cesqueceu\u201d de mencionar que a Usina destruiria fauna e flora de singular import\u00e2ncia, inclusive remanescentes de Floresta com Arauc\u00e1ria com popula\u00e7\u00f5es de esp\u00e9cies amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O irrevers\u00edvel dano ambiental se consumou sob o benepl\u00e1cito da Justi\u00e7a, cujo entendimento foi o de que terceiro setor e academia denunciaram a fraude tarde demais, quando o muro da barragem j\u00e1 teria custado ao empreendedor 1,2 bilh\u00f5es de reais. <\/p>\n

Agora, uma hidrel\u00e9trica prevista no Programa de Acelera\u00e7\u00e3o do Crescimento (PAC) do Governo Federal, a de Pai Quer\u00ea, tamb\u00e9m no rio Pelotas, preocupa ambientalistas \u2013 e qualquer pessoa de bom senso \u2013 por raz\u00f5es semelhantes. Primeiro, porque a usina, se viabilizada, vai novamente submeter a regi\u00e3o a um impacto desastroso. Segundo, porque quem est\u00e1 mensurando esse impacto \u00e9 a mesma Engevix envolvida nas irregularidades do EIA\/Rima de Barra Grande. <\/p>\n

\u00c9 uma hist\u00f3ria triste que se repete, mas cujo desfecho pode ser bem diferente, j\u00e1 que, dessa vez, a Justi\u00e7a n\u00e3o poder\u00e1 alegar que a grita do terceiro setor e da academia em rela\u00e7\u00e3o a Pai Quer\u00ea demorou. \u201cUm belo vale, quase um c\u00e2nion, riqu\u00edssimo em biodiversidade, ficaria condenado. Pereceriam 3.940 hectares de florestas com arauc\u00e1ria, o que equivaleria \u00e0 morte de cerca de tr\u00eas milh\u00f5es de \u00e1rvores, sendo destas pelo menos 180 mil arauc\u00e1rias. Al\u00e9m disso, outras centenas de esp\u00e9cies da flora e fauna, v\u00e1rias amea\u00e7adas, seriam afetadas\u201d, antecipa o professor Paulo Brack, do Instituto de Bioci\u00eancias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em artigo enviado a AmbienteBrasil<\/strong>.<\/p>\n

“As matas, sujeitas \u00e0 inunda\u00e7\u00e3o, s\u00e3o as \u00faltimas onde ocorre o queixada, Tayassu pecar, esp\u00e9cie criticamente amea\u00e7ada no RS. O mesmo risco sofrem o puma, a jaguatirica, o gavi\u00e3o-de-penacho, cada vez mais raros pelo avan\u00e7o do pinus e da agricultura na regi\u00e3o dos Campos de Cima da Serra\u201d, informa ele, registrando ainda que, no que concerne a aves, 225 esp\u00e9cies j\u00e1 foram catalogadas na \u00e1rea. <\/p>\n

Ainda segundo o professor, o endemismo de peixes de corredeiras \u00e9 muito elevado e as \u00e1guas paradas da represa afetariam, irreversivelmente, popula\u00e7\u00f5es j\u00e1 atingidas pelo avan\u00e7o dos impactos de outras hidrel\u00e9tricas na bacia e pelo uso crescente de agrot\u00f3xicos associados a monoculturas.<\/p>\n

E registra Paulo Brack: \u201cA UHE de Pai Quer\u00ea, com uma extens\u00e3o de mais de 80 km, localiza-se justamente em plena Zona N\u00facleo da Reserva da Biosfera da Mata Atl\u00e2ntica, patrim\u00f4nio da Unesco\u201d.
\nOs dados apresentados pelo Governo no dia 22 passado, dentro do monitoramento das obras previstas no PAC, revelaram que a Usina Pai Quer\u00ea mudou da classifica\u00e7\u00e3o vermelha (andamento preocupante) para amarela (em aten\u00e7\u00e3o). O motivo para a altera\u00e7\u00e3o, alegado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi a retomada da an\u00e1lise dos estudos de licenciamento pelo Ibama, em novembro passado, e o encaminhamento da Avalia\u00e7\u00e3o Ambiental Integrada (AAI) da Bacia do Rio Uruguai, pelo Minist\u00e9rio do Meio Ambiente, em 28 de dezembro. A expectativa da ministra Dilma \u00e9 que a licen\u00e7a-pr\u00e9via para o empreendimento saia at\u00e9 31 de mar\u00e7o pr\u00f3ximo. <\/p>\n

Mas a AAI da Bacia do Rio Uruguai tampouco \u00e9 vista pela comunidade ambientalista como um documento que, legitimamente, possa corroborar investimentos dessa natureza na regi\u00e3o. Em setembro de 2006, AmbienteBrasil j\u00e1 registrava o descontentamento do terceiro setor em rela\u00e7\u00e3o ao estudo, na mat\u00e9ria EXCLUSIVO: ONGS ga\u00fachas questionam Avalia\u00e7\u00e3o Ambiental Integrada \u2013 AAI \u2013 da bacia do rio Uruguai<\/a><\/strong>. <\/p>\n

Na ocasi\u00e3o, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a ONG Ing\u00e1 Estudos Ambientais e o N\u00facleo Amigos da Terra Brasil assinaram a chamada \u201cCarta de Erechim\u201d \u2013 cidade onde foram apresentados os primeiros resultados do estudo -, na qual oficializaram n\u00e3o reconhecer a validade do processo. <\/p>\n

Alegaram, em primeiro lugar, que as empresas Andrade e Canellas, Bourscheid e Themag, respons\u00e1veis pela an\u00e1lise, \u201cn\u00e3o t\u00eam isen\u00e7\u00e3o para dimensionar os impactos e definir diretrizes para a bacia do rio Uruguai, pois v\u00eam trabalhando para as hidrel\u00e9tricas, seja em Estudos de Impacto Ambiental ou na implanta\u00e7\u00e3o de programas ambientais para as empresas do setor el\u00e9trico\u201d.<\/p>\n

A Carta de Erechim argumentou ainda que \u201cgrande parte das hidrel\u00e9tricas incidem nas \u00faltimas \u00e1reas n\u00facleo da Reserva da Biosfera da Mata Atl\u00e2ntica na regi\u00e3o, e em \u00e1reas priorit\u00e1rias para a conserva\u00e7\u00e3o pelo pr\u00f3prio Ibama, e amea\u00e7am com o deslocamento de dezenas de milhares de fam\u00edlias, produzindo-se assim energia de elevad\u00edssimo custo ambiental (extin\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies de peixes e plantas) e injustific\u00e1vel custo social, principalmente a pequenos agricultores que s\u00e3o reconhecidos como modelo de sustentabilidade\u201d.<\/p>\n

(Na foto da p\u00e1gina inicial, paisagem do rio Pelotas amea\u00e7ada de inunda\u00e7\u00e3o pela UHE Pai Quer\u00ea, de autoria de Adriano Becker (setembro\/2006), retirada do portal do N\u00facleo Amigos da Terra Brasil<\/a><\/strong>).<\/em> <\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"