{"id":36692,"date":"2008-02-29T00:00:00","date_gmt":"2008-02-29T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2008-02-29T00:00:00","modified_gmt":"2008-02-29T00:00:00","slug":"em-tailandiapa-milhares-buscam-cesta-basica-gratuita-na-casa-do-prefeito","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2008\/02\/29\/36692-em-tailandiapa-milhares-buscam-cesta-basica-gratuita-na-casa-do-prefeito.html","title":{"rendered":"Em Tail\u00e2ndia\/PA, milhares buscam cesta b\u00e1sica gratuita na casa do prefeito"},"content":{"rendered":"
Antes das 9h de quinta-feira (28), em Tail\u00e2ndia, \u00e0s margens da Rodovia PA-150, milhares de homens, mulheres e crian\u00e7as formam filas imensas em frente da casa do prefeito Paulo Jasper, 56 anos, popularmente conhecido como “Macarr\u00e3o”. Alguns enfrentaram mais de 5 quil\u00f4metros a p\u00e9 ou 10 quil\u00f4metros de bicicleta para chegar ali e disputar 3.500 cestas b\u00e1sicas distribu\u00eddas gratuitamente pela Secretaria de A\u00e7\u00e3o Social do munic\u00edpio. Na fila, o discurso \u00e9 unificado: cr\u00edticas \u00e0 Opera\u00e7\u00e3o Arco de Fogo, que combate a explora\u00e7\u00e3o ilegal de madeira na cidade e muitos elogios ao que chamam de “bondade” do prefeito e de sua fam\u00edlia.<\/p>\n

“Os pais de fam\u00edlia que trabalham com madeira e crian\u00e7as est\u00e3o morrendo de fome. A gente sempre vem na casa do prefeito, e quando ele pode, ajuda a gente”, disse a dom\u00e9stica Josefa Cunha, 58 anos.<\/p>\n

Quando a distribui\u00e7\u00e3o de comida efetivamente come\u00e7a, come\u00e7am a sair do estacionamento da casa um micro\u00f4nibus e v\u00e1rias caminhonetes. Na comitiva, o prefeito segue com deputados estaduais e federais que representam a regi\u00e3o e foram ao munic\u00edpio debater com lideran\u00e7as locais as a\u00e7\u00f5es da opera\u00e7\u00e3o que combate o desmatamento. Macarr\u00e3o, ap\u00f3s 15 dias longe do munic\u00edpio, desce de seu ve\u00edculo, ergue os bra\u00e7os, acena para os que aguardam a comida, \u00e9 aplaudido e sai sem falar com a imprensa.<\/p>\n

Alguns funcion\u00e1rios de madeireiras permanecem pacientemente na fila. \u00c9 o caso de Zulmiro Soares, 60 anos, tr\u00eas filhos. O sal\u00e1rio m\u00e9dio da categoria \u00e9 de R$ 600, segundo o sindicato dos trabalhadores . \u201cO servi\u00e7o aqui est\u00e1 todo parado n\u00e3o tem como sustentar os filhos. Vou arrumar renda da onde?\u201d, questiona Soares. \u201cA empresa p\u00e1ra e n\u00f3s tamb\u00e9m. O homem sempre dava comida, at\u00e9 antes de ser prefeito.\u201d<\/p>\n

Com uma filha de 6 meses no colo, Socorro Nascimento, 25 anos, ainda consegue carregar sua cesta com a m\u00e3o que sobra. Ele diz que a Opera\u00e7\u00e3o Arco de Fogo est\u00e1 provocando desemprego e fome na regi\u00e3o. “Eles t\u00eam que pegar a madeira, vender, trocar em rancho (comida) e dar para o pessoal desempregado”, defendeu.<\/p>\n

Silas de Almeida, 43 anos, trabalhava fazia cinco meses no setor madeireiro de Tail\u00e2ndia. Ele disse saber da exist\u00eancia ilegalidade, mas avaliou que o combate \u00e0 situa\u00e7\u00e3o exige um per\u00edodo de transi\u00e7\u00e3o: “A coisa tem quer modificada devagar para ningu\u00e9m passar necessidade”.<\/p>\n

Na coordena\u00e7\u00e3o da distribui\u00e7\u00e3o, ao lado do caminh\u00e3o, quem manda \u00e9 a esposa do prefeito, H\u00edgia Frota, titular da Secretaria de A\u00e7\u00e3o Social de Tail\u00e2ndia e dona da resid\u00eancia onde os populares se concentram. Ela confirmou que os alimentos foram adquiridos com recursos da prefeitura e contou que pessoas est\u00e3o h\u00e1 mais de uma semana batendo na sua porta em fun\u00e7\u00e3o do desemprego. Mas disse ainda confiar que as autoridades estaduais e federais apontem uma solu\u00e7\u00e3o para a crise instalada no setor madeireiro local: “Temos que ter emprego para esse povo. \u00c9 injusto \u00e9 um pai de fam\u00edlia ficar desempregado. O munic\u00edpio n\u00e3o pode ficar a vida toda desse jeito”.<\/p>\n

Algumas horas depois, j\u00e1 no in\u00edcio da tarde, o prefeito Macarr\u00e3o aceitou conceder entrevista. Questionado sobre o porqu\u00ea da distribui\u00e7\u00e3o de alimentos comprados com dinheiro p\u00fablico na porta de sua casa, alegou ser uma tradi\u00e7\u00e3o local: “\u00c9 quase um folclore, toda a popula\u00e7\u00e3o me procura todo dia. Eles n\u00e3o tem a quem recorrer, e por isso pedem ao prefeito”. O prefeito ainda comentou o risco de pessoas se juntarem \u00e0 beira de uma rodovia movimentada em busca de comida: “Acho tudo perigoso, precisamos \u00e9 resolver o problema da comunidade”.<\/p>\n

Antes da entrevista, em pronunciamento a lideran\u00e7as locais, o prefeito disse estar ciente de que n\u00e3o basta distribuir comida ao povo. “A cesta b\u00e1sica no Nordeste \u00e9 um bote salva-vida, mas na nossa regi\u00e3o \u00e9 uma \u00e2ncora no pesco\u00e7o de um funcion\u00e1rio. \u00c9 a retirada da dignidade, pois ele tem compromisso no com\u00e9rcio e em todos os lugares”, comparou.<\/p>\n

Nem toda popula\u00e7\u00e3o avalia positivamente o gesto e as inten\u00e7\u00f5es do prefeito. A agricultora Ant\u00f4nia Pereira, 46 anos, comentou que, como os alimentos foram comprados pela a\u00e7\u00e3o social do munic\u00edpio, a entrega tinha de ser na prefeitura. “Isso \u00e9 movimento pol\u00edtico e quem faz tem que ser punido”, defendeu. “Nossa sociedade n\u00e3o pode viver do assistencialismo. Temos que viver produzindo e trabalhando”, refor\u00e7ou outro agricultor, Valdinei Palhares.<\/p>\n

Na secretaria do F\u00f3rum do munic\u00edpio, a informa\u00e7\u00e3o \u00e9 de que representantes do Minist\u00e9rio P\u00fablico v\u00e3o averiguar poss\u00edveis irregularidades na a\u00e7\u00e3o da manh\u00e3 de quinta-feira. (Ag\u00eancia Brasil)<\/em>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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