{"id":41001,"date":"2008-09-30T01:00:00","date_gmt":"2008-09-30T01:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2008-09-30T01:00:00","modified_gmt":"2008-09-30T01:00:00","slug":"exclusivo-fisico-jose-goldemberg-questiona-pontos-do-plano-nacional-de-mudancas-do-clima","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/exclusivas\/2008\/09\/30\/41001-exclusivo-fisico-jose-goldemberg-questiona-pontos-do-plano-nacional-de-mudancas-do-clima.html","title":{"rendered":"EXCLUSIVO: F\u00edsico Jos\u00e9 Goldemberg questiona pontos do Plano Nacional de Mudan\u00e7as do Clima"},"content":{"rendered":"
M\u00f4nica Pinto \/ AmbienteBrasil<\/strong><\/p>\n

O f\u00edsico Jos\u00e9 Goldemberg, 80, professor do Instituto de Eletrot\u00e9cnica e Energia (IEE) da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP), foi o primeiro latino-americano agraciado com o pr\u00eamio Planeta Azul, oferecido h\u00e1 17 anos pela Asahi Glass Foundation, do Jap\u00e3o, a pessoas que se destacam em pesquisa e formula\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas na \u00e1rea ambiental. <\/p>\n

Reconhecidamente capaz nos meandros acad\u00eamicos, o professor n\u00e3o tem se furtado a opinar nas pol\u00eamicas em que, eventualmente, mergulha a gest\u00e3o ambiental brasileira, dando contribui\u00e7\u00f5es abalizadas que, como \u00e9 justo, aprimoram os debates. <\/p>\n

Um dos respons\u00e1veis pela cria\u00e7\u00e3o do Pro\u00e1lcool, autor do livro \u201cEnergia Nuclear em quest\u00e3o\u201d, Goldemberg ajudou a traduzir para a opini\u00e3o p\u00fablica an\u00e1lises quanto \u00e0s usinas nucleares, fazendo o contraponto entre as necessidades de pa\u00edses pobres em outros recursos para gera\u00e7\u00e3o de energia e o Brasil. \u201cO Brasil ainda n\u00e3o precisa da energia nuclear. Temos outras op\u00e7\u00f5es\u201d, disse \u00e0 revista \u00c9poca, numa entrevista em junho passado cujo cerne foi a cr\u00edtica aos investimentos do Governo Federal no programa at\u00f4mico.<\/p>\n

Mais recentemente, o olhar l\u00facido de Goldemberg voltou-se a outro grave problema de ordem ambiental e social: as mudan\u00e7as no clima. AmbienteBrasil <\/strong>teve acesso \u00e0 mensagem enviada por ele ao professor Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tamb\u00e9m f\u00edsico e coordenador geral do F\u00f3rum Brasileiro de Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas, \u00f3rg\u00e3o ligado \u00e0 Casa Civil da Presid\u00eancia da Rep\u00fablica. <\/p>\n

Na mensagem, depois de louvar \u201co enorme trabalho realizado nas consultas p\u00fablicas que envolveram um grande n\u00famero de participantes\u201d na constru\u00e7\u00e3o do Plano Nacional de Mudan\u00e7as do Clima, ele salienta que, \u201capesar de uma boa pr\u00e1tica democr\u00e1tica\u201d, elas n\u00e3o podem ser o \u00fanico elemento usado pelo Governo para a defini\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas visando o enfrentamento do problema.<\/p>\n

\u201cNo que se refere a a\u00e7\u00f5es objetivas como as preconizadas na Confer\u00eancia de Bali (redu\u00e7\u00f5es volunt\u00e1rias, quantitativas e verific\u00e1veis), o documento (compilado de sugest\u00f5es obtidas nas consultas<\/em>) n\u00e3o diz nada nem sobre a \u00f3bvia necessidade de reduzir o desmatamento da Amaz\u00f4nia\u201d, colocou Goldemberg a Pinguelli. \u201cEle (o documento<\/em>) basicamente repete a ret\u00f3rica das \u2018responsabilidades comuns, por\u00e9m diferenciadas´, sem especificar quais s\u00e3o elas, o que, no fundo, \u00e9 uma desculpa para a ina\u00e7\u00e3o\u201d.<\/p>\n

AmbienteBrasil<\/strong> conversou com o professor e fez a ele duas perguntas. <\/p>\n

AmbienteBrasil – O Plano Nacional de Mudan\u00e7as do Clima, apresentado na quinta-feira 25, em Bras\u00edlia, fez com que o Brasil se comprometa pela primeira vez a possuir m\u00e9dias decrescentes de desmatamento em todos os biomas, mensur\u00e1veis a cada quatro anos, at\u00e9 atingir o chamado desmatamento ilegal zero. Isso contempla sua preocupa\u00e7\u00e3o nesse sentido? <\/p>\n

Jos\u00e9 Goldemberg –<\/strong> O que o Plano diz sobre o desmatamento \u00e9 \u201cbuscar a redu\u00e7\u00e3o sustentada das taxas de desmatamento, em sua m\u00e9dia quadrianual, em todos os biomas brasileiros, at\u00e9 que se atinja o desmatamento ilegal zero\u201d.<\/p>\n

Esta \u00e9 uma manifesta\u00e7\u00e3o de inten\u00e7\u00f5es. O instrumento usado pelo Governo Federal \u00e9 o PPCDAM (Plano de A\u00e7\u00e3o para a Preven\u00e7\u00e3o e Controle do Desmatamento na Amaz\u00f4nia Legal), que envolve um conjunto de medidas de efici\u00eancia question\u00e1vel, uma vez que as taxas de desmatamento continuam muito elevadas – acima de 10.000 km2 por ano. <\/p>\n

Concordo que, se de fato o que o Plano diz fosse cumprido, o Brasil estaria dando um grande passo \u00e0 frente e contemplaria minhas preocupa\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

AmbienteBrasil \u2013 O senhor classificou como “insuficientes” as “atuais pol\u00edticas que o Governo Federal tem conduzido para enfrentar a gravidade do problema das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas tanto no pa\u00eds como no mundo”. O que deveria ser feito desde j\u00e1?<\/p>\n

Goldemberg – <\/strong>Elas n\u00e3o s\u00e3o s\u00f3 insuficientes, como tamb\u00e9m violam os compromissos assumidos pelo Brasil na Confer\u00eancia de Bali, segundo os quais os pa\u00edses em desenvolvimento adotariam medidas volunt\u00e1rias, quantific\u00e1veis e verific\u00e1veis. <\/p>\n

As medidas contidas no Plano n\u00e3o t\u00eam, de modo geral, este car\u00e1ter. Por exemplo: as medidas propostas na \u00e1rea de efici\u00eancia energ\u00e9tica t\u00eam tido um desempenho muito decepcionante at\u00e9 o presente. O Procel (Programa Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o de Energia El\u00e9trica<\/em>) levou \u00e0 economia de apenas 2 Terawatts\/hora (menos de 1% do consumo de eletricidade) de 2001 a 2008.<\/p>\n

Esta \u00e9 uma \u00e1rea em que Plano poderia ter sido criativo. O Minist\u00e9rio de Minas e Energia est\u00e1 come\u00e7ando a publicar portarias estabelecendo o consumo m\u00e1ximo de aparelhos dom\u00e9sticos – como geladeiras e muitos outros -, o que decorre da Lei 10.295, aprovada pelo Congresso em 2001, que prev\u00ea inclusive um cronograma para seu cumprimento. Bastaria seguir firmemente este caminho para repetir o exemplo da Calif\u00f3rnia, onde o consumo de eletricidade per capita n\u00e3o cresce desde 1980.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"