{"id":41582,"date":"2008-10-28T00:00:00","date_gmt":"2008-10-28T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2008-10-28T00:00:00","modified_gmt":"2008-10-28T00:00:00","slug":"rota-do-desmatamento-cresce-no-para","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2008\/10\/28\/41582-rota-do-desmatamento-cresce-no-para.html","title":{"rendered":"Rota do desmatamento cresce no Par\u00e1"},"content":{"rendered":"
Estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaz\u00f4nia (Imazon) comprovou o que grande parte dos moradores da Amaz\u00f4nia j\u00e1 sabe: a regi\u00e3o est\u00e1 tomada por estradas clandestinas. A pesquisa mostra que os Estados do Par\u00e1, Rond\u00f4nia e Mato Grosso concentram 90% de todos os ramais abertos sem qualquer autoriza\u00e7\u00e3o dos \u00f3rg\u00e3os competentes. Os sat\u00e9lites indicam uma malha com 300 mil quil\u00f4metros de vias ilegais, que crescem na mesma velocidade do desmatamento. Um caminho aberto para a devasta\u00e7\u00e3o da floresta e por onde quase sempre sai a riqueza retirada tamb\u00e9m de forma ilegal.<\/p>\n
Estima-se que a rede ilegal cres\u00e7a 1.890 quil\u00f4metros por ano. O coordenador do estudo e ge\u00f3grafo Carlos Souza J\u00fanior afirma que a abertura de estradas clandestinas desemboca em uma rede de irregularidades e destrui\u00e7\u00e3o, iniciada principalmente por madeireiros e grileiros. ‘Os madeireiros v\u00e3o em busca de madeira de lei e os grileiros visam a especula\u00e7\u00e3o fundi\u00e1ria. H\u00e1 tamb\u00e9m casos de estradas que s\u00e3o abertas a partir de assentamentos. Nesse caso, o objetivo \u00e9 o assentamento de novas fam\u00edlias. Por \u00faltimo, algumas foram abertas para acessar garimpos’, explica.<\/p>\n
Mapeamento<\/strong><\/p>\n Em 1990, quando a pesquisa come\u00e7ou, foram identificados pouco mais de 5.042 quil\u00f4metros no centro-oeste do Par\u00e1. Progressivamente, em 1995, esse n\u00famero pulou para 8.679 quil\u00f4metros, e, em 2001, j\u00e1 totalizava 20.796, quando as estradas clandestinas j\u00e1 representavam 82% do total existente no Estado. ‘Iniciamos as pesquisas no in\u00edcio da d\u00e9cada de 1990 com muito trabalho de campo, para documentar os problemas ambientais ocasionados pelo uso insustent\u00e1vel dos recursos naturais. Mas foi a partir de 2004 que decidimos mapear essas estradas por sat\u00e9lites. Os primeiros estudos foram publicados em 2005 para a regi\u00e3o da Terra do Meio’, afirma.<\/p>\n O estudo, ampliado para a toda a regi\u00e3o e baseado no uso de sat\u00e9lites, passou a fazer o mapeamento anual da situa\u00e7\u00e3o, fechando o ano de 2003 com um total de 300 mil quil\u00f4metros de estradas abertas clandestinamente. ‘Estamos prestes a concluir o mapeamento para 2007, o que permitir\u00e1 estimar a taxa de expans\u00e3o dessas estradas no per\u00edodo de 2003 a 2007’, diz o pesquisador.<\/p>\n Reservas<\/strong><\/p>\n No Par\u00e1, os dados mostram que as estradas da ilegalidade s\u00e3o in\u00fameras e desafiam at\u00e9 mesmo a presen\u00e7a do governo, n\u00e3o distinguindo entre reservas ecol\u00f3gicas ou \u00e1reas ind\u00edgenas. Um exemplo disso pode ser visto na reserva Terra Ind\u00edgena do Ba\u00fa, em Altamira, sudoeste do Par\u00e1, onde vivem \u00edndios Kayap\u00f3s. Os ramais abertos por madeireiras clandestinas para escoar o mogno retirado de forma ilegal da \u00e1rea j\u00e1 chegaram a descaracterizar o espa\u00e7o, obrigando a uma nova demarca\u00e7\u00e3o em 2003.Os caminhos que levam at\u00e9 a Esta\u00e7\u00e3o Ecol\u00f3gica da Terra do Meio, tamb\u00e9m em Altamira, considerada a segunda maior unidade de conserva\u00e7\u00e3o do Pa\u00eds, com 3,3 milh\u00f5es de hectares, criada pelo governo federal em 2005, n\u00e3o est\u00e3o todos dentro da malha da regularidade. Caminhos rasgados em meio a mata por especuladores de terras indicam que ali \u00e9 uma \u00e1rea livre.<\/p>\n ‘Infelizmente, as terras ind\u00edgenas Menkragnoti, Kayap\u00f3, Trincheira Bacaj\u00e1 e Apyterewa, perto de S\u00e3o F\u00e9lix do Xingu, e outras \u00e1reas protegidas, como a Floresta Nacional (Flona) do Tapaj\u00f3s e a Reserva Extrativista do Arapiuns, perto de Santar\u00e9m, s\u00e3o exemplos de \u00e1reas protegidas no Par\u00e1 onde foram detectadas estradas clandestinas’, cita Carlos Souza. O mapa do Imazon mostra ainda que \u00e0s margens da rodovia BR-163, a Cuib\u00e1-Santar\u00e9m, minam estradas ilegais. Na regi\u00e3o de Santar\u00e9m, no Baixo Amazonas, tem crescido o n\u00famero de vias irregulares nos \u00faltimos anos, acompanhando o avan\u00e7o do cultivo da soja. O mesmo ocorre na BR-230, a Transamaz\u00f4nica.<\/p>\n ‘Nos \u00faltimos dez anos, as regi\u00f5es do oeste do Par\u00e1 e a Terra do Meio s\u00e3o as que tiveram um ritmo mais acelerado de crescimento de estradas clandestinas. A especula\u00e7\u00e3o fundi\u00e1ria, abertura de novas fazendas para pecu\u00e1ria e a corrida pela madeira s\u00e3o as principais causas para abertura dessas estradas’, afirma Souza.<\/p>\n Aberturas na mata s\u00e3o feitas para escoar produ\u00e7\u00e3o florestal irregular<\/strong><\/p>\n Os impactos da abertura de estradas clandestinas na regi\u00e3o amaz\u00f4nica s\u00e3o enormes, especialmente para o meio ambiente, resultando no desmatamento e na degrada\u00e7\u00e3o do meio ambiente. ‘Nossos estudos apontam que 80% do desmatamento anual concentram-se em um raio de cinco quil\u00f4metros de todas as estradas, oficiais e clandestinas. Se considerarmos apenas as estradas oficiais, 80% do desmatamento est\u00e3o em um raio de 50 quil\u00f4metros. Isso significa que as estradas clandestinas est\u00e3o definindo a nova fronteira do desmatamento da Amaz\u00f4nia’, garante o estudioso.<\/p>\n Conter o avan\u00e7o do desmatamento e do n\u00famero de estradas ilegais na regi\u00e3o, segundo o ge\u00f3grafo, \u00e9, antes de mais nada um grande desafio, mas h\u00e1 estrat\u00e9gias que podem ajudar a frear essa expans\u00e3o. ‘A cria\u00e7\u00e3o de unidades de conserva\u00e7\u00e3o em \u00e1reas de expans\u00e3o \u00e9 uma delas. Nesse caso, a titula\u00e7\u00e3o da terra no futuro fica comprometida porque a \u00e1rea passa a ter uma defini\u00e7\u00e3o fundi\u00e1ria. Outra estrat\u00e9gia \u00e9 aumentar a efic\u00e1cia da responsabiliza\u00e7\u00e3o dos infratores’, enumera Souza.<\/p>\n Fiscaliza\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n O monitoramento por sat\u00e9lite \u00e9 outra ferramenta essencial para conter o problema, porque fornece os locais onde essas estradas est\u00e3o sendo abertas. ‘De posse dessa informa\u00e7\u00e3o, \u00f3rg\u00e3os competentes podem agir para impedir o seu avan\u00e7o’, aduz. H\u00e1 casos no oeste do Par\u00e1 em que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov\u00e1veis (Ibama) implodiu estradas de madeireiras. ‘O importante \u00e9 n\u00e3o deixar impune esse tipo de crime ambiental’, acredita ele.Iniciativas ainda incipientes por parte dos governos indicam que \u00e9 poss\u00edvel fazer algo de concreto para diminuir o avan\u00e7o de ramais na regi\u00e3o. Uma delas \u00e9 a cria\u00e7\u00e3o de unidades de conserva\u00e7\u00e3o em \u00e1reas de expans\u00e3o de estradas. ‘A fronteira de expans\u00e3o de estradas j\u00e1 est\u00e1 fechada na Terra do Meio e ao longo da BR-163, que liga Santar\u00e9m a Cuiab\u00e1. H\u00e1 avan\u00e7os tamb\u00e9m na \u00e1rea de zoneamento ecol\u00f3gico-econ\u00f4mico. Mas ainda \u00e9 preciso intensificar a fiscaliza\u00e7\u00e3o, punir de forma exemplar os infratores e fazer a regulariza\u00e7\u00e3o fundi\u00e1ria nas \u00e1reas j\u00e1 ocupadas ao longo das estradas clandestinas’, pondera.<\/p>\n O pesquisador frisa ainda que a abertura de mais estradas legais na Amaz\u00f4nia \u00e9 essencial para desenvolver a economia de uma regi\u00e3o, dar acesso a servi\u00e7os p\u00fablicos como escolas e hospitais e integrar regi\u00f5es distantes. ‘O problema \u00e9 que as estradas geralmente levam a uma ocupa\u00e7\u00e3o desordenada do espa\u00e7o geogr\u00e1fico e \u00e0 degrada\u00e7\u00e3o do meio ambiente, principalmente, pelo desmatamento. O caminho \u00e9 o zoneamento ecol\u00f3gico-econ\u00f4mico para restringir a convers\u00e3o de florestas nos corredores ao longo de estradas. E a aplica\u00e7\u00e3o exemplar da legisla\u00e7\u00e3o ambiental. Isso pode reduzir os impactos negativos da abertura de estradas ao meio ambiente’, conclui.
\n(Fonte: Alexandra Cavalcanti – O Liberal \/ Amazonia.org)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"