{"id":42368,"date":"2008-12-05T00:00:00","date_gmt":"2008-12-05T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2008-12-05T00:00:00","modified_gmt":"2008-12-05T00:00:00","slug":"clima-incerto-e-tragedia-previsivel","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2008\/12\/05\/42368-clima-incerto-e-tragedia-previsivel.html","title":{"rendered":"Clima incerto e trag\u00e9dia previs\u00edvel"},"content":{"rendered":"
A rela\u00e7\u00e3o entre as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas globais e os fen\u00f4menos que deixaram mais de uma centena de mortos e cerca de 80 mil desabrigados em Santa Catarina \u00e9 ainda uma inc\u00f3gnita. Mas a rela\u00e7\u00e3o entre a trag\u00e9dia e o fracasso das pol\u00edticas de acesso \u00e0 moradia e de ocupa\u00e7\u00e3o do espa\u00e7o urbano \u00e9 uma certeza, de acordo com Wagner da Costa Ribeiro, professor do Departamento de Geografia da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP).<\/p>\n

Durante o semin\u00e1rio \u201cControle de Enchentes \u2013 10 Anos do Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia Hidrogr\u00e1fica do Alto Tiet\u00ea, que terminou na ter\u00e7a-feira (3), em S\u00e3o Paulo, Ribeiro tamb\u00e9m ressaltou a necessidade de aperfei\u00e7oamento dos sistemas de previs\u00e3o do clima e de inunda\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Segundo ele, as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas poder\u00e3o aumentar os riscos de eventos extremos \u2013 como as chuvas que causaram as inunda\u00e7\u00f5es em Santa Catarina \u2013, criando a necessidade de adapta\u00e7\u00f5es. Mas, antes de pensar em problemas futuros, ser\u00e1 preciso encontrar solu\u00e7\u00f5es para os antigos.<\/p>\n

\u201cOs problemas que precisamos enfrentar imediatamente s\u00e3o resultado do processo brasileiro de urbaniza\u00e7\u00e3o. As mortes em Santa Catarina est\u00e3o relacionadas \u00e0 nossa pol\u00edtica de acesso \u00e0 moradia e n\u00e3o \u00e0 mudan\u00e7a clim\u00e1tica\u201d, disse o ge\u00f3grafo.<\/p>\n

Segundo ele, as conseq\u00fc\u00eancias das mudan\u00e7as no clima precisam ser levadas em conta, mas elas ainda estariam inseridas em um quadro de incerteza \u2013 isto \u00e9, um cen\u00e1rio no qual estaria confirmada a possibilidade de ocorr\u00eancia de certos eventos sem que se possa definir sua probabilidade.<\/p>\n

\u201cVetores importantes, como o aumento na temperatura e a varia\u00e7\u00e3o de chuvas, ainda n\u00e3o s\u00e3o conhecidos com precis\u00e3o. Por isso, n\u00e3o se pode aferir os impactos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas nas cidades brasileiras. Mesmo assim, temos que trabalhar com o pior cen\u00e1rio poss\u00edvel para pensar em adapta\u00e7\u00f5es\u201d, afirmou.<\/p>\n

De acordo com Ribeiro, a maior freq\u00fc\u00eancia de chuvas causada pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, se for confirmada, vai agravar problemas j\u00e1 conhecidos.<\/p>\n

\u201cCuidar das \u00e1reas de risco hoje, no caso do Brasil, \u00e9 pagar uma d\u00edvida social \u2013 n\u00e3o se trata de prever mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Trata-se de reparar um processo de urbaniza\u00e7\u00e3o muito intenso que ocorreu sem planejamento, dirigido sob uma l\u00f3gica de mercado e explora\u00e7\u00e3o imobili\u00e1ria agressiva\u201d, destacou.<\/p>\n

Para Luis Carlos Molion, do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas n\u00e3o tiveram rela\u00e7\u00e3o com as chuvas torrenciais que devastaram Santa Catarina.<\/p>\n

\u201cOs impactos desastrosos das chuvas em Santa Catarina n\u00e3o s\u00e3o conseq\u00fc\u00eancia do aquecimento global, mas do p\u00e9ssimo planejamento da ocupa\u00e7\u00e3o do espa\u00e7o. Muita gente foge da regi\u00e3o ribeirinha para evitar inunda\u00e7\u00f5es e se instala nas encostas. As mortes ocorreram nessa situa\u00e7\u00e3o\u201d, afirmou.<\/p>\n

Molion, conhecido por fazer cr\u00edticas severas \u00e0s conclus\u00f5es do Painel Intergovernamental de Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas (IPCC), afirma que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas est\u00e3o mais ligadas a fen\u00f4menos naturais que ao aumento de emiss\u00f5es de carbono pela atividade humana.<\/p>\n

\u201cChuvas como essas j\u00e1 ocorreram no passado. A mais recente aconteceu em maio de 1983, mas tamb\u00e9m houve desastres naturais semelhantes no Vale do Itaja\u00ed nas d\u00e9cadas de 1950 e 1960. Os primeiros registros s\u00e3o do s\u00e9culo 19\u201d, afirmou.<\/p>\n

A hip\u00f3tese levantada por ele \u00e9 que as varia\u00e7\u00f5es na temperatura do oceano Pac\u00edfico controlam grande parte das oscila\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. \u201cO Pac\u00edfico teve fases de aquecimento entre 1925 e 1946 e entre 1977 e 1998. Esfriou entre 1947 e 1976 e est\u00e1 esfriando nos \u00faltimos dez anos. Esses ciclos coincidem com momentos de alta e baixa das m\u00e9dias de temperatura\u201d, disse.<\/p>\n

De acordo com ele, no entanto, os fen\u00f4menos n\u00e3o tinham conseq\u00fc\u00eancias t\u00e3o importantes em d\u00e9cadas passadas, no Brasil, porque a concentra\u00e7\u00e3o populacional nas cidades era bem menor. Nas \u00e1reas urbanas impermeabilizadas, segundo ele, uma chuva de 100 mil\u00edmetros provoca um fluxo d\u2019\u00e1gua de 100 mil metros c\u00fabicos a cada quil\u00f4metro quadrado.<\/p>\n

\u201cHoje, 80% da popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 nas cidades, que absorveram essa popula\u00e7\u00e3o sem planejamento urbano. Para consertar isso, ser\u00e3o necess\u00e1rios investimentos muito maiores do que os recursos necess\u00e1rios para o planejamento h\u00e1 30 ou 40 anos\u201d, disse.<\/p>\n

Segundo Molion, \u00e9 preciso que as cidades pequenas e m\u00e9dias comecem a se planejar a partir de agora. Para ele, seria preciso investigar melhor a din\u00e2mica da v\u00e1rzea dos rios e estudar as s\u00e9ries hist\u00f3ricas de registros hidrol\u00f3gicos e meteorol\u00f3gicos a fim de entender o tempo de retorno de chuvas fortes, acima de 100 ou 200 mil\u00edmetros.<\/p>\n

\u201cTemos cerca de 250 munic\u00edpios com mais de 100 mil habitantes. A grande maioria dos mais de 5 mil munic\u00edpios do pa\u00eds est\u00e1 come\u00e7ando a crescer. Seria aconselh\u00e1vel pensar em medidas de planejamento para minimizar problemas do tipo no futuro\u201d, afirmou.<\/p>\n

Fatores externos<\/strong> – Para Oswaldo Massambani, professor titular do Instituto de Astronomia, Geof\u00edsica e Ci\u00eancias Atmosf\u00e9ricas (IAG) da USP, n\u00e3o h\u00e1 d\u00favida de que o clima global passa por uma fase de abrupto aquecimento e que os dist\u00farbios s\u00e3o causados pela atividade antropog\u00eanica.<\/p>\n

\u201cCresceu muito a capacidade cient\u00edfica para entender o clima global. De fato, os modelos clim\u00e1ticos t\u00eam defici\u00eancias, porque s\u00e3o modelos matem\u00e1ticos que tentam representar fen\u00f4menos de um sistema complexo. Mas \u00e0 medida que se associam v\u00e1rios modelos e cen\u00e1rios eles se tornam mais precisos\u201d, afirmou.<\/p>\n

\u201cA rela\u00e7\u00e3o de causa e efeito entre a temperatura e as emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono n\u00e3o \u00e9 algo claro, mas h\u00e1 sem d\u00favida uma rela\u00e7\u00e3o de associa\u00e7\u00e3o entre os dois fatores. J\u00e1 a vulnerabilidade aos eventos extremos \u00e9 de fato uma quest\u00e3o de natureza pol\u00edtica\u201d, disse.<\/p>\n

Segundo Massambani, o clima global \u00e9 controlado por um sistema extremamente sens\u00edvel e complexo, que, al\u00e9m dos fatores relacionados \u00e0 atmosfera e \u00e0 superf\u00edcie terrestre, \u00e9 determinado tamb\u00e9m por fatores externos, como a radia\u00e7\u00e3o solar e a geometria vari\u00e1vel do sistema Terra-Sol.<\/p>\n

\u201cO Sistema Solar se formou h\u00e1 4,5 bilh\u00f5es e chegou ao atual equil\u00edbrio passando por um processo de crescente complexidade. Esse complexo sistema n\u00e3o-linear est\u00e1 relacionado ao sistema clim\u00e1tico, que possui uma variabilidade intr\u00ednseca e \u00e9 muito sens\u00edvel a processos radiativos, com uma camada atmosf\u00e9rica muito fina, de apenas 20 quil\u00f4metros. Isso fez com que o clima oscilasse ao longo da hist\u00f3ria\u201d, afirmou. (Fonte: F\u00e1bio de Castro\/ Ag\u00eancia Fapesp)<\/em>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Rela\u00e7\u00e3o entre mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e inunda\u00e7\u00f5es em Santa Catarina ainda precisa ser estudada, mas principais conseq\u00fc\u00eancias se devem a fracasso das pol\u00edticas de ocupa\u00e7\u00e3o do espa\u00e7o urbano, dizem especialistas. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[46],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/42368"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=42368"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/42368\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=42368"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=42368"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=42368"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}