{"id":56945,"date":"2010-07-01T00:02:19","date_gmt":"2010-07-01T03:02:19","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=56945"},"modified":"2010-06-30T21:02:26","modified_gmt":"2010-07-01T00:02:26","slug":"desafios-da-quimica-ambiental","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2010\/07\/01\/56945-desafios-da-quimica-ambiental.html","title":{"rendered":"Desafios da qu\u00edmica ambiental"},"content":{"rendered":"

\u201c\u00c9 preciso conhecer os limites do planeta e definir melhor o que se entende por sustentabilidade\u201d, disse Arnaldo Alves Cardoso, professor do Instituto de Qu\u00edmica de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que coordena o projeto de pesquisa Effects of emissions on current and future rainfall patterns in Southeast Brazil, apoiado pelo Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas Globais (PFPMCG).<\/p>\n

Segundo Cardoso, o desenvolvimento econ\u00f4mico dos pa\u00edses traz com ele o aumento no consumo de produtos e servi\u00e7os, o que causa uma contradi\u00e7\u00e3o: quanto mais rica uma na\u00e7\u00e3o se torna, maior ser\u00e1 o impacto que ela provocar\u00e1 sobre o planeta.<\/p>\n

Como exemplo, citou dados da Energy Information Administration (EIA) dos Estados Unidos, segundo os quais o pa\u00eds consumiu 71,4 exajoules de energia em 2006, enquanto o Brasil consumiu 8 exajoules e Mo\u00e7ambique, 0,207 exajoule, no mesmo per\u00edodo.<\/p>\n

\u201cOu seja, Mo\u00e7ambique leva 345 anos para consumir a quantidade de energia que os Estados Unidos gastam em apenas um ano\u201d, comparou Cardoso, para quem os desejos de consumo tamb\u00e9m provocam uma contradi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\u201cQueremos ter um belo carro, morar em um grande apartamento voltado para uma floresta e, de prefer\u00eancia, perto de uma praia ou cachoeira. E n\u00e3o nos damos conta de que o avan\u00e7o dos padr\u00f5es de consumo est\u00e1 exaurindo o planeta\u201d, disse Cardoso.<\/p>\n

O pesquisador destacou o artigo A safe operating space for humanity, escrito pelo grupo de Johan Rockstr\u00f6m, da Universidade de Estocolmo, Su\u00e9cia, publicado na edi\u00e7\u00e3o de setembro de 2009 da revista Nature.<\/p>\n

O artigo listou nove limites cr\u00edticos para a sustentabilidade do planeta: mudan\u00e7as clim\u00e1ticas; perda da biodiversidade; interfer\u00eancia nos ciclos globais de nitrog\u00eanio e f\u00f3sforo; uso de \u00e1gua pot\u00e1vel; altera\u00e7\u00f5es no uso do solo; carga de aeross\u00f3is atmosf\u00e9ricos; polui\u00e7\u00e3o qu\u00edmica; acidifica\u00e7\u00e3o dos oceanos; e perda do oz\u00f4nio estratosf\u00e9rico.<\/p>\n

Tr\u00eas \u00e1reas j\u00e1 teriam ultrapassado o limite da sustentabilidade: mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, perda da biodiversidade e o ciclo do nitrog\u00eanio. A expans\u00e3o da agricultura seria, na opini\u00e3o do professor da Unesp, um dos fatores que mais afetam o planeta. \u201cA agricultura \u00e9 uma atividade que influencia todos os nove limites divulgados no artigo de Rockstr\u00f6m e colegas\u201d, disse Cardoso \u00e0 Ag\u00eancia FAPESP.<\/p>\n

Utilizado nas lavouras como fertilizante, o nitrog\u00eanio \u00e9 importado por v\u00e1rios pa\u00edses agr\u00edcolas, incluindo o Brasil, e apenas parte desse elemento \u00e9 incorporado ao produto. A maior quantidade fica no ambiente em que \u00e9 aplicado.<\/p>\n

\u201cAs plantas absorvem, no m\u00e1ximo, 30% do nitrog\u00eanio aplicado no solo e todo o excedente fica no pa\u00eds que utiliza o fertilizante\u201d, disse o professor, que tamb\u00e9m coordena o projeto Deposi\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica de esp\u00e9cies qu\u00edmicas nitrogenadas em corpos de \u00e1gua superficial, apoiado pela FAPESP por meio da modalidade Aux\u00edlio \u00e0 Pesquisa \u2013 Regular.<\/p>\n

Al\u00e9m de ser um importante contaminante e formador do \u00f3xido nitroso, um dos mais poderosos gases de efeito estufa, o nitrog\u00eanio tamb\u00e9m tem sido extra\u00eddo da natureza de maneira desequilibrada, segundo Cardoso.<\/p>\n

Em 1990, quando a produ\u00e7\u00e3o mundial de nitrog\u00eanio atingiu 80 milh\u00f5es de toneladas, o homem igualou a capacidade natural do planeta de utilizar esse elemento. Desde ent\u00e3o, com \u00edndices crescentes de 156 milh\u00f5es de toneladas em 1995 e 187 milh\u00f5es em 2005, mais nitrog\u00eanio tem sido retirado da natureza, o que pode levar \u00e0 escassez do elemento fundamental para a produ\u00e7\u00e3o de alimentos e de bioenergia.<\/p>\n

\u201cO nitrog\u00eanio tem um papel fundamental na agricultura. Sem ele, cerca de 3 bilh\u00f5es de pessoas, metade da popula\u00e7\u00e3o mundial, n\u00e3o estariam aqui hoje\u201d, disse Cardoso, explicando que o elemento foi crucial na chamada revolu\u00e7\u00e3o verde, proporcionando, por exemplo, um salto na produ\u00e7\u00e3o de trigo na \u00cdndia de 12 milh\u00f5es de toneladas, em 1965, para 73,5 milh\u00f5es de toneladas em 1999.<\/p>\n

Esse \u00e9 um problema a ser enfrentado tamb\u00e9m na produ\u00e7\u00e3o de biocombust\u00edveis, como o biodiesel e o etanol da cana-de-a\u00e7\u00facar, de acordo com o cientista.<\/p>\n

Esgoto terci\u00e1rio Cardoso destacou outro fator de forte impacto ambiental, especialmente no Brasil: a falta de tratamento de esgoto. Segundo o Sistema Nacional de Informa\u00e7\u00e3o Sanit\u00e1ria (SNIS), em 2004 apenas 32,5% do esgoto produzido no Brasil recebia algum tipo de tratamento.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, a parte do esgoto que \u00e9 tratada n\u00e3o retira as mol\u00e9culas mais complexas. \u201cAquilo que chamamos de \u00e1gua limpa que sai dos tratamentos cont\u00e9m f\u00e1rmacos, horm\u00f4nios, nitratos, sulfatos e fosfatos \u2013 e esses \u00faltimos v\u00e3o para os rios gerando a prolifera\u00e7\u00e3o de algas\u201d, disse.<\/p>\n

\u201cN\u00e3o sou contra o tratamento atual de esgoto, que \u00e9 um servi\u00e7o muito importante, mas \u00e9 preciso dizer que ele precisa ser aperfei\u00e7oado\u201d, afirmou o professor, ressaltando que \u00e9 crucial investir em tecnologia para que a qu\u00edmica consiga atingir tamb\u00e9m o chamado n\u00edvel terci\u00e1rio de tratamento de esgoto, que ataca essas subst\u00e2ncias.<\/p>\n

Em rela\u00e7\u00e3o ao consumo de energia, Cardoso coloca um vil\u00e3o ambiental muito encontrado nas grandes cidades: a combust\u00e3o. \u201cToda combust\u00e3o \u00e9 um processo de quebra e reorganiza\u00e7\u00e3o e produz sempre \u00f3xido de nitrog\u00eanio, composto envolvido na forma\u00e7\u00e3o do oz\u00f4nio\u201d, explicou.<\/p>\n

Importante elemento da alta atmosfera, por servir de filtro aos raios solares ultravioleta, na baixa atmosfera o oz\u00f4nio pode ser nocivo. Cardoso citou uma medi\u00e7\u00e3o feita em Araraquara, que apontou o aumento da presen\u00e7a desse g\u00e1s na cidade.<\/p>\n

O grupo de pesquisa da Unesp encontrou quase 70 partes por bilh\u00e3o (ppb) na cidade paulista, enquanto o \u00edndice m\u00e1ximo recomendado pela Ag\u00eancia de Prote\u00e7\u00e3o Ambiental (EPA) dos Estados Unidos \u00e9 de 75 ppb.<\/p>\n

Com a combust\u00e3o provocada principalmente por ind\u00fastrias e ve\u00edculos, o oz\u00f4nio tem subido a taxas de 1% a 2% ao ano em \u00e1reas remotas. \u201cPrecisamos conhecer as consequ\u00eancias disso, mas ningu\u00e9m est\u00e1 falando desse problema\u201d, disse.<\/p>\n

Outro subproduto da combust\u00e3o \u00e9 o nitrog\u00eanio. Sua deposi\u00e7\u00e3o a partir da atmosfera tem provocado a eutrofiza\u00e7\u00e3o dos oceanos, que \u00e9 a prolifera\u00e7\u00e3o de algas, e o aumento da acidez dos mares devido \u00e0 forma\u00e7\u00e3o de \u00e1cido n\u00edtrico.<\/p>\n

Para Cardoso, contornar esses obst\u00e1culos requer uma participa\u00e7\u00e3o dos qu\u00edmicos e de mais divulga\u00e7\u00e3o sobre essa mat\u00e9ria para a popula\u00e7\u00e3o. \u201cPlantar uma \u00e1rvore que exala aromas em um grande centro, por exemplo, pode piorar a qualidade do ar, pois ao exalar compostos org\u00e2nicos vol\u00e1teis ela vai contribuir para formar mais oz\u00f4nio\u201d, disse.<\/p>\n

Desenvolver tecnologias para o tratamento de esgoto terci\u00e1rio, criar fertilizantes inteligentes que sejam liberados conforme a capacidade de absor\u00e7\u00e3o das plantas, pesquisas de alternativas energ\u00e9ticas que dispensem a combust\u00e3o, buscar alternativas para reduzir as emiss\u00f5es de org\u00e2nicos vol\u00e1teis s\u00e3o algumas pautas sugeridas por Cardoso para os profissionais da qu\u00edmica.<\/p>\n

O professor ainda defende uma revis\u00e3o do ensino de qu\u00edmica em todos os n\u00edveis de forma\u00e7\u00e3o. \u201c\u00c9 preciso que esses problemas tamb\u00e9m sejam colocados em sala de aula, para que os alunos sintam que a qu\u00edmica est\u00e1 muito mais relacionada com o nosso cotidiano do que se imagina\u201d, disse. (Fonte: Fabio Reynol\/ Ag\u00eancia Fapesp)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Fertilizantes inteligentes, melhoria nos tratamentos de esgoto e busca por alternativas energ\u00e9ticas s\u00e3o metas da qu\u00edmica para os pr\u00f3ximos anos, aponta Arnaldo Alves Cardoso, da Unesp. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[58,75,72],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/56945"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=56945"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/56945\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=56945"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=56945"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=56945"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}