{"id":76228,"date":"2011-10-31T00:04:57","date_gmt":"2011-10-31T02:04:57","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=76228"},"modified":"2011-10-30T20:18:10","modified_gmt":"2011-10-30T22:18:10","slug":"aquecimento-global-revive-sonho-de-navegacao-pelo-artico","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2011\/10\/31\/76228-aquecimento-global-revive-sonho-de-navegacao-pelo-artico.html","title":{"rendered":"Aquecimento global revive sonho de navega\u00e7\u00e3o pelo \u00c1rtico"},"content":{"rendered":"
Enquanto contornava a ponta mais setentrional da R\u00fassia em seu rebocador oce\u00e2nico no ver\u00e3o do Hemisf\u00e9rio Norte, o capit\u00e3o Vladimir V. Bozanov viu muitas morsas, bandos de belugas e, ao longe, alguns icebergs.<\/p>\n
Uma coisa que n\u00e3o encontrou enquanto rebocava uma barca\u00e7a industrial durante 3.702 quil\u00f4metros atrav\u00e9s do Oceano \u00c1rtico foi gelo s\u00f3lido impedindo o caminho ao longo da rota. Segundo ele, dez anos atr\u00e1s, uma passagem sem gelo, mesmo no auge do ver\u00e3o, era excepcionalmente rara.<\/p>\n
Por\u00e9m, cientistas ambientais dizem que agora n\u00e3o existe d\u00favida de que o aquecimento global est\u00e1 encolhendo a calota de gelo do \u00c1rtico, abrindo novas vias marinhas e deixando as rotas anteriormente naveg\u00e1veis perto da costa mais acess\u00edvel durante mais meses do ano.<\/p>\n
Independentemente de quais forem as repercuss\u00f5es ambientais terr\u00edveis de gases de efeito estufas, empresas da R\u00fassia e de outros pa\u00edses ao redor do Oceano \u00c1rtico est\u00e3o explorando novas oportunidades comerciais trazidas pelo aquecimento.<\/p>\n
As companhias petroleiras podem ser as mais prov\u00e1veis benefici\u00e1rias, \u00e0 medida que o encolhimento da calota polar abre mais leito marinho \u00e0 explora\u00e7\u00e3o. A Exxon Mobil, gigante do petr\u00f3leo, recentemente assinou um contrato extenso para perfurar o setor russo do Oceano \u00c1rtico.<\/p>\n
Contudo, mais do que nunca, empresas de navega\u00e7\u00e3o, minera\u00e7\u00e3o e pesca tamb\u00e9m est\u00e3o olhando para o norte.<\/p>\n
O presidente da Isl\u00e2ndia, Olafur Ragnar Grimsson, declarou numa confer\u00eancia recente sobre navega\u00e7\u00e3o no Oceano \u00c1rtico realizada nesta cidade portu\u00e1ria russa perto do C\u00edrculo \u00c1rtico que era ”paradoxal que novas oportunidades surgissem para as nossas na\u00e7\u00f5es\u2019’ ao mesmo tempo em que a amea\u00e7a das emiss\u00f5es de carbono se ”torna iminente\u2019’.<\/p>\n
Enquanto isso, o primeiro-ministro russo, Vladimir V. Putin, deu apoio total \u00e0s novas perspectivas comerciais no norte que est\u00e1 descongelando.<\/p>\n
De acordo com ele, ”o \u00c1rtico \u00e9 o atalho entre os maiores mercados da Europa e da regi\u00e3o asi\u00e1tica banhada pelo Pac\u00edfico. \u00c9 uma oportunidade excelente para otimizar os custos\u2019’.<\/p>\n
No \u00faltimo ver\u00e3o, um dos mais quentes no \u00c1rtico, um petroleiro estabeleceu um recorde de velocidade ao atravessar o Oceano \u00c1rtico em seis dias e meio, transportando uma carga de g\u00e1s natural condensado. O recorde anterior era de oito dias.<\/p>\n
Segundo os cientistas, nos \u00faltimos dez anos o tamanho m\u00e9dio da calota polar em setembro, \u00e9poca do ano em que \u00e9 menor, tem sido cerca de dois ter\u00e7os da m\u00e9dia das duas d\u00e9cadas anteriores. O Programa de Monitoramento e Avalia\u00e7\u00e3o do \u00c1rtico, grupo noruegu\u00eas que estuda a regi\u00e3o, prev\u00ea que dentro de 30 ou 40 anos o Oceano \u00c1rtico inteiro n\u00e3o ter\u00e1 gelo durante o ver\u00e3o.<\/p>\n
Assim, planos comerciais est\u00e3o sendo tra\u00e7ados para capitalizar as mudan\u00e7as numa parte do mundo que durante boa parte da hist\u00f3ria da navega\u00e7\u00e3o era mais conhecida pelos sinistros registros finais nos di\u00e1rios de exploradores como Hugh Willoughby, da Inglaterra. Ele morreu junto com a tripula\u00e7\u00e3o em 1553 tentando navegar nesse atalho entre Europa e \u00c1sia, conhecido como Passagem Nordeste.<\/p>\n
Os russos, navegando perto da costa, usam a Passagem Nordeste h\u00e1 um s\u00e9culo. Eles a abriram para a navega\u00e7\u00e3o internacional em 1991, ap\u00f3s o fim da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica. Contudo, s\u00f3 recentemente as empresas come\u00e7aram a achar a rota rent\u00e1vel, \u00e0 medida que o encolhimento da calota polar abriu caminhos mais distantes da costa \u2013 permitindo que grandes navios modernos, de maior calado, fa\u00e7am a viagem, eliminando dias de viagem e economizando combust\u00edvel.<\/p>\n
Em 2009, os dois primeiros cargueiros internacionais viajaram ao norte da R\u00fassia indo da Europa \u00e0 \u00c1sia. Neste ano, at\u00e9 agora, 18 navios fizeram a travessia, praticamente sem gelo.<\/p>\n
Entre as viagens houve um cruzeiro tur\u00edstico pela Passagem Nordeste, o primeiro de todos, partindo de Murmansk e chegando a Anadyr, porto russo no Oceano Pac\u00edfico, do outro lado do Alasca, atrav\u00e9s do Mar de Bering.<\/p>\n
”A viagem ofereceu atra\u00e7\u00f5es como esta\u00e7\u00f5es polares russas abandonadas\u2019’, salientou a Aurora Expeditions, operadora australiana, no material de divulga\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Em algumas rotas, a viagem acima da R\u00fassia agora \u00e9 competitiva em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 passagem da Europa para a \u00c1sia via Canal de Suez. A viagem de Roterd\u00e3 a Yokohama, Jap\u00e3o, pela Passagem Nordeste, por exemplo, \u00e9 quase 7.162 quil\u00f4metros mais curta do que a rota atualmente preferida por Suez, segundo o ministro russo dos transportes. \u00c9 claro, a rota \u00e1rtica tem um caminho a percorrer antes de chegar as 18 mil embarca\u00e7\u00f5es anuais que atravessam o Canal de Suez. No entanto, o uso principal da navega\u00e7\u00e3o pelo Oceano \u00c1rtico at\u00e9 agora tem sido dar apoio a outros setores que rumam para o norte, como minera\u00e7\u00e3o e perfura\u00e7\u00e3o de petr\u00f3leo, segundo participantes da confer\u00eancia russa.<\/p>\n
A Tschudi, empresa de navega\u00e7\u00e3o norueguesa, comprou e botou para funcionar uma mina de ferro desativada no norte da Noruega para despachar min\u00e9rio para a China pela Passagem Nordeste. A viagem para Lianyungang, China, demorou 21 dias em 2010, comparados aos 37 dias geralmente exigidos para chegar ao pa\u00eds por Suez. Executivos da Tschudi estimam economizar US$ 300 mil por viagem.<\/p>\n
”Pouqu\u00edssimas pessoas da comunidade de navega\u00e7\u00e3o conhecem essa rota\u2019’, disse Felix Tschudi, presidente da empresa, durante entrevista.<\/p>\n
A mina de n\u00edquel e cobre da companhia russa Norilsk agora pode enviar seus metais pelo Oceano \u00c1rtico sem fretar quebradores de gelo, como no passado, economizando milh\u00f5es de rublos para os acionistas. No noroeste do Alasca, a mina Red Dog, de chumbo e zinco, envia os min\u00e9rios pelo Estreito de Bering, que est\u00e1 bem menos coalhado de gelo do que nas d\u00e9cadas passadas.<\/p>\n
O escrit\u00f3rio moscovita do Citigroup identificou cinco empresas russas bem posicionadas para se beneficiar do aquecimento global no norte, onde as temperaturas est\u00e3o aumentando duas vezes mais r\u00e1pido do que a m\u00e9dia global.<\/p>\n
Al\u00e9m da Norilsk, eles inclu\u00edram a Sovcomflot, empresa estatal de navega\u00e7\u00e3o e as duas maiores empresas de g\u00e1s natural do pa\u00eds: Gazprom e Novatek. A quinta \u00e9 a Rosneft, estatal de petr\u00f3leo que firmou uma joint-venture com a Exxon Mobil para fazer perfura\u00e7\u00f5es no mar de Kara, parte do trecho russo do Oceano \u00c1rtico. A R\u00fassia est\u00e1 reformando um estaleiro militar nos arredores de Arkhangelsk, que produzia submarinos nucleares para a Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica, para fabricar plataformas de explora\u00e7\u00e3o de g\u00e1s e petr\u00f3leo que suportem o gelo.<\/p>\n
Para a ind\u00fastria pesqueira internacional, o alvo \u00e9 o chamado buraco da rosquinha do Oceano \u00c1rtico \u2013 os milh\u00f5es de quil\u00f4metros quadrados no centro do oceano que est\u00e3o al\u00e9m dos 322 quil\u00f4metros das zonas econ\u00f4micas exclusivas das na\u00e7\u00f5es costeiras. At\u00e9 2000, o buraco da rosquinha passava o ano inteiro congelado. Agora, vastos trechos ao norte do Alasca e leste da Sib\u00e9ria costumam ficar sem gelo no ver\u00e3o.<\/p>\n
O espectro das na\u00e7\u00f5es famintas ao sul pescando na regi\u00e3o agora naveg\u00e1vel levou \u00e0 edi\u00e7\u00e3o de um relat\u00f3rio recente do Pew Environment Group alertando que, sem um novo conjunto de regras para a regi\u00e3o, as popula\u00e7\u00f5es de bacalhau do \u00c1rtico podem ser dizimadas.<\/p>\n
Enquanto isso, como as banquisas de gelo ainda amea\u00e7am a navega\u00e7\u00e3o mesmo na rotas marinhas de outra forma desimpedidas, autoridades dos Estados Unidos, R\u00fassia e Noruega est\u00e3o estudando o potencial comercial de reformar portos nos dois lados da Passagem Nordeste para transferir cont\u00eaineres de cargueiros comuns para embarca\u00e7\u00f5es quebra-gelo que transitariam pelo Oceano \u00c1rtico, atendendo a \u00c1sia, Canad\u00e1, a Costa Oeste dos Estados Unidos e a Europa.<\/p>\n
Com esse plano, portos agora irremediavelmente remotos como Kirkenes, Noruega, ou Adak, Alasca, ao sul do Estreito de Bering, podem ser transformados em hubs log\u00edsticos fren\u00e9ticos para a navega\u00e7\u00e3o \u00e1rtica.<\/p>\n
O vice-governador do Alasca, Mead Treadwell, foi um dos participantes da confer\u00eancia russa. Ele observou que mercadorias no valor de quase US$ 1 bilh\u00e3o passaram pelo Estreito de Bering ano passado. ”Os navios est\u00e3o chegando\u2019’, ele disse. (Fonte: Portal iG)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"