{"id":89358,"date":"2012-11-30T00:00:09","date_gmt":"2012-11-30T02:00:09","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=89358"},"modified":"2012-11-29T18:51:08","modified_gmt":"2012-11-29T20:51:08","slug":"madeireiros-ilegais-desafiam-combate-ao-desmatamento-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2012\/11\/30\/89358-madeireiros-ilegais-desafiam-combate-ao-desmatamento-na-amazonia.html","title":{"rendered":"Madeireiros ilegais desafiam combate ao desmatamento na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"
O desmatamento na Amaz\u00f4nia brasileira chegou a sua menor taxa desde 1988, em parte gra\u00e7as ao melhor monitoramento de atividades irregulares. No entanto, apesar da implementa\u00e7\u00e3o de medidas mais duras, madeireiros ilegais ainda conseguem extrair madeira da selva e vend\u00ea-la como se fosse legal, apontam moradores locais.<\/p>\n
O jovem fazendeiro F\u00e1bio Louren\u00e7o de Souza mora em um assentamento conhecido como PDS Esperan\u00e7a, no vale do Xingu, no Par\u00e1. Apesar de viver em uma regi\u00e3o rica em madeira tropical, ele, bem como a maioria das 300 fam\u00edlias do assentamento, tenta manter dist\u00e2ncia de madeireiros.<\/p>\n
“N\u00e3o faz sentido para n\u00f3s come\u00e7ar a extrair a madeira de nosso assentamento”, diz F\u00e1bio, que interrompeu a constru\u00e7\u00e3o de uma nova casa de madeira para conversar com a BBC. “As empresas madeireiras n\u00e3o nos pagariam o suficiente, e isso destruiria a floresta. E precisamos dela para o futuro de nossas crian\u00e7as”.
\nEle prefere dedicar-se ao plantio de cacau.<\/p>\n
Subornos e amea\u00e7as<\/strong> – Durante anos, os moradores do PDS Esperan\u00e7a levantam preocupa\u00e7\u00f5es quanto ao roubo de madeira de sua terra. Eles dizem que a pr\u00e1tica \u00e9 rotineira e que os madeireiros falsificam documentos para fazer parecer que a madeira foi extra\u00edda legalmente.<\/p>\n Para que a extra\u00e7\u00e3o seja legal, \u00e9 preciso que o dono da terra fa\u00e7a um invent\u00e1rio de suas esp\u00e9cies de madeira e pe\u00e7am autoriza\u00e7\u00e3o do governo para explor\u00e1-las, dentro de um limite. A autoriza\u00e7\u00e3o prev\u00ea tamb\u00e9m que, ap\u00f3s a retirada da madeira, a \u00e1rea seja reflorestada.<\/p>\n Mas madeireiros ilegais obt\u00eam autoriza\u00e7\u00f5es por meio de subornos e amea\u00e7as a donos de terras. Depois, os madeireiros usam essas autoriza\u00e7\u00f5es para encobrir a extra\u00e7\u00e3o ilegal feita em outras \u00e1reas.<\/p>\n Procurado pela BBC, o governo brasileiro se recusou a comentar a respeito dessa pr\u00e1tica.<\/p>\n Assentamentos vigiados<\/strong> – Anos atr\u00e1s, preocupados com o extrativismo ilegal, os moradores do PDS Esperan\u00e7a bloquearam a entrada de seu assentamento, para evitar a entrada de madeireiros.<\/p>\n Ap\u00f3s sete meses de tens\u00f5es, conseguiram convencer o Incra, que distribui e organiza os assentamentos, a construir guaritas para que o PDS Esperan\u00e7a pudesse ser vigiado e a pagar por vigias privados.<\/p>\n A guarita ainda est\u00e1 de p\u00e9, e ajuda a explicar por que a vida \u00e9 relativamente tranquila no PDS Esperan\u00e7a, apesar de alguns moradores ainda receberem amea\u00e7as de morte de madeireiros.<\/p>\n A tens\u00e3o \u00e9 maior em outro assentamento, o PDS Virola-Jatob\u00e1, onde a maioria das 180 fam\u00edlias tenta impedir que extrativistas ilegais continuem a roubar sua madeira.<\/p>\n Eles fazem rod\u00edzio durante as 24 horas do dia para guardar a entrada do local.<\/p>\n No final de setembro, uma fam\u00edlia descobriu que os madeireiros haviam constru\u00eddo em segredo uma trilha para os fundos de sua terra, para que pudessem escoar a madeira cortada por um afluente do rio Amazonas. No dia seguinte, um pequeno grupo de assentados, acompanhado por funcion\u00e1rios do Incra, acompanharam \u00e0 dist\u00e2ncia o som das motosserras at\u00e9 flagrarem a atua\u00e7\u00e3o dos madeireiros.<\/p>\n Um dos assentados, que prefere n\u00e3o se identificar, admite ter sentido medo. “N\u00e3o sab\u00edamos o que esperar. T\u00ednhamos medo de que houvesse guardas armados protegendo [os madeireiros]”.<\/p>\n Mas n\u00e3o estavam, e aceitaram interromper a extra\u00e7\u00e3o de madeira. Os dois lados acabaram jantando juntos.<\/p>\n Amea\u00e7as<\/strong> – Ao mesmo tempo, autoridades brasileiras est\u00e3o capacitando alguns assentados para que eles fa\u00e7am a extra\u00e7\u00e3o de madeira dentro da lei, mas, por conta disso, passam a sofrer amea\u00e7as dos extrativistas ilegais.<\/p>\n Urar\u00e1, uma cidade de 50 mil habitantes na regi\u00e3o da Transamaz\u00f4nica, \u00e9 uma t\u00edpica cidade de fronteira, sem \u00e1gua corrente, esgoto ou aeroporto – exceto as pequenas pistas clandestinas, que muitos dizem ser usadas para o tr\u00e1fico de drogas.<\/p>\n A cidade tem em abund\u00e2ncia, por\u00e9m, empresas madeireiras, principais motores de sua economia.<\/p>\n Quando escurece, caminh\u00f5es sem placas chegam a \u00e1reas repletas de madeira que, segundo os moradores, s\u00e3o extra\u00eddas ilegalmente.<\/p>\n Na manh\u00e3 seguinte, saem emplacados e carregados com madeiras identificadas, conforme a lei. Essa madeira poder\u00e1 ser vendida no mercado dom\u00e9stico ou exportada.<\/p>\n Conflitos de terra<\/strong> – Os assentamentos de Esperan\u00e7a e Virola-Jatob\u00e1 foram criados pela freira americana Dorothy Stang – morta em 2005 por atiradores que agiam em nome de propriet\u00e1rios de terra da regi\u00e3o – como uma forma de reagir \u00e0 ocupa\u00e7\u00e3o da floresta feita pelos madeireiros.<\/p>\n Os locais t\u00eam forte \u00eanfase na conserva\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia – os assentados podem cultivar suas terras, mas n\u00e3o vend\u00ea-las.<\/p>\n Tanto o Esperan\u00e7a quanto o Virola-Jatob\u00e1 se mostraram bem-sucedidos, mas – considerando que eles n\u00e3o foram totalmente endossados pelo governo brasileiro – seu modelo n\u00e3o foi replicado na regi\u00e3o, como queria Dorothy Stang.<\/p>\n As disputas de terra que resultaram em sua morte permanecem vivas.<\/p>\n Em 2009, uma placa de homenagem foi pregada a uma \u00e1rvore pr\u00f3xima de onde a irm\u00e3 Dorothy foi assassinada. Logo a placa foi cravada com balas de rev\u00f3lver. A mensagem \u00e9 clara: fazendeiros que resistem \u00e0 extra\u00e7\u00e3o ilegal de madeira est\u00e3o correndo riscos. (Fonte: G1)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"