Para os l\u00edderes do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudan\u00e7a Clim\u00e1tica), a desacelera\u00e7\u00e3o na subida de temperaturas terrestres nos \u00faltimos 15 anos \u00e9 um fen\u00f4meno cient\u00edfico curioso, mas n\u00e3o viola a tend\u00eancia de aquecimento global no longo prazo.<\/p>\n
Segundo os cientistas que comp\u00f5em o painel da ONU, os modelos que a entidade usa para simular o clima s\u00f3 estariam errados se as temperaturas pararem de subir r\u00e1pido durante mais 15 anos.<\/p>\n
“Eu diria com grande confian\u00e7a, por\u00e9m, que isso n\u00e3o \u00e9 uma hip\u00f3tese com a qual lidamos, dado o n\u00edvel de emiss\u00f5es de gases-estufa que medimos todo ano e que est\u00e1 atingindo n\u00edveis sem precedentes”, afirmou Thomas Stocker, copresidente do Grupo de Trabalho 1 do IPCC, em entrevista coletiva.<\/p>\n
Na opini\u00e3o do climatologista, o problema em dar muito peso a esse fen\u00f4meno no curto prazo \u00e9 que o aquecimento s\u00f3 desacelerou na medi\u00e7\u00e3o da temperatura do ar.<\/p>\n
Os oceanos, que dominam a absor\u00e7\u00e3o de energia na Terra, e as geleiras, continuam a se aquecer. N\u00e3o houve hiato nos mares, que, segundo o novo relat\u00f3rio do IPCC, absorveram mais de 90% da energia extra que a mudan\u00e7a clim\u00e1tica aprisionou no planeta entre 1971 e 2010.<\/p>\n
O calor extra, sugerem estudos recentes, pode estar indo para o fundo do mar, sobretudo por meio de padr\u00f5es de circula\u00e7\u00e3o an\u00f4malos no Pac\u00edfico. “O problema \u00e9 que ainda n\u00e3o existe muita literatura cient\u00edfica que nos permita tratar essa quest\u00e3o emergente com a profundidade necess\u00e1ria.”<\/p>\n
Neste caso, falta literalmente profundidade aos term\u00f4metros que monitoram o aquecimento pan-oce\u00e2nico.<\/p>\n
Dois estudos relevantes sobre o tema, afirmou a dire\u00e7\u00e3o cient\u00edfica da entidade, n\u00e3o foram publicados a tempo de serem avaliados pelo AR5, o quinto relat\u00f3rio de avalia\u00e7\u00e3o do painel, que come\u00e7ou a ser divulgado ontem.<\/p>\n
O novo documento do IPCC, portanto, n\u00e3o se arrisca a listar mecanismos f\u00edsicos para explicar o hiato de 15 anos. Restou ao painel mostrar que outros hiatos semelhantes n\u00e3o resultaram em freada da mudan\u00e7a clim\u00e1tica, tese de grupos que negam o aquecimento global.<\/p>\n
O texto final do documento, alterado ap\u00f3s quatro dias de negocia\u00e7\u00f5es em Estocolmo, deu ao hiato uma import\u00e2ncia menor, comparada \u00e0 que ele recebia no esbo\u00e7o do texto submetido a governos para coment\u00e1rios em junho.<\/p>\n
A vers\u00e3o final diz que a temperatura m\u00e9dia global de superf\u00edcie “exibe substancial variabilidade interanual e decadal” apesar de um “robusto aquecimento multidecadal”. “A taxa de aquecimento nos \u00faltimos 15 anos (0,05\u00b0C por d\u00e9cada), que come\u00e7am com um forte El Ni\u00f1o, \u00e9 menor que a taxa calculada desde de 1951 (0,12\u00b0C por d\u00e9cada)”, diz o texto.<\/p>\n
“H\u00e1 uma recomenda\u00e7\u00e3o da WMO (Organiza\u00e7\u00e3o Meteorol\u00f3gica Mundial) para que, quando analisamos quest\u00f5es sobre o clima, olhemos as tend\u00eancias de longo prazo”, diz Michel Jarraud, secret\u00e1rio-geral da organiza\u00e7\u00e3o m\u00e3e do IPCC. “O consenso \u00e9 que uma das melhores escalas de tempo para analisar tend\u00eancia no clima \u00e9 aquela da ordem de 30 anos.”<\/p>\n
Cr\u00edticas<\/strong> – A argumenta\u00e7\u00e3o do IPCC n\u00e3o parece ter dobrado a opini\u00e3o dos que negam o aquecimento. O americano Anthony Watts, meteorologista de uma afiliada da TV Fox News que tem um dos blogs antiaquecimento global mais lidos nos EUA, criticou o relat\u00f3rio do painel do clima.<\/p>\n Para ele “o registro de temperaturas desde 1998 faz o aquecimento global ficar cada vez mais com cara de variabilidade natural”.<\/p>\n O diretor-geral do Pnuma (Programa das Na\u00e7\u00f5es Unidas para o Meio Ambiente), Achim Steiner, foi cuidadoso na sexta (27) ao n\u00e3o desqualificar o simples ato de questionar as conclus\u00f5es do IPCC.<\/p>\n “Haver\u00e1 quem prefira enfocar os pontos de interroga\u00e7\u00e3o do novo relat\u00f3rio, e isso n\u00e3o \u00e9 inapropriado”, disse. “Mas um conhecimento perfeito n\u00e3o pode ser a condi\u00e7\u00e3o para que a humanidade tome decis\u00f5es. Podemos n\u00e3o saber tudo, mas sabemos o suficiente para avaliar os riscos de n\u00e3o agir.”<\/p>\n Incerteza <\/strong>– Quem esperava ver o IPCC emitir um relat\u00f3rio t\u00edmido em raz\u00e3o do hiato testemunhou os cientistas subirem o tom de alerta. O “Sum\u00e1rio para Formuladores de Pol\u00edticas”, documento destinado a governos, d\u00e1 bastante destaque ao fato de as \u00faltimas tr\u00eas d\u00e9cadas terem sido as mais quentes da hist\u00f3ria, batendo recorde ap\u00f3s recorde.<\/p>\n No final deste s\u00e9culo, a temperatura m\u00e9dia da superf\u00edcie terrestre provavelmente vai exceder um aumento m\u00e9dio de 1,5\u00b0C at\u00e9 2100, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 m\u00e9dia de 1850 a 1900. Isso vale para todos os cen\u00e1rios, exceto o mais otimista, no qual emiss\u00f5es sofrem cortes dr\u00e1sticos, atingindo um pico daqui a dez anos e caindo para zero 50 anos depois.<\/p>\n Em um cen\u00e1rio intermedi\u00e1rio, no qual as emiss\u00f5es dobram at\u00e9 2060 e recuam a um n\u00edvel maior do que o atual antes de 2100, a temperatura provavelmente exceder\u00e1 um aumento de 2\u00b0C, limite considerado perigoso por cientistas. No pior cen\u00e1rio, em que se triplica a emiss\u00e3o de gases-estufa at\u00e9 2100, a temperatura m\u00e9dia provavelmente subiria at\u00e9 4,8\u00b0C.<\/p>\n As proje\u00e7\u00f5es de aumento no n\u00edvel do mar foram revistas para cima. A linha d’\u00e1gua pode subir 98 cm at\u00e9 o fim do s\u00e9culo, avan\u00e7ando em m\u00e9dia 82 cm entre 2081 e 2100. No cen\u00e1rio mais otimista, ela ainda provavelmente sobe acima de 26 cm, mais do que a eleva\u00e7\u00e3o do s\u00e9culo 20.<\/p>\n A palavra “provavelmente”, na linguagem do painel, significa uma propens\u00e3o acima de 66%, a melhor confiabilidade poss\u00edvel para proje\u00e7\u00f5es futuras.<\/p>\n Ao avaliar o efeito das emiss\u00f5es de gases-estufa no clima passado, o relat\u00f3rio d\u00e1 95% de certeza de que o aquecimento desde o meio do s\u00e9culo 20 seja resultado da influ\u00eancia humana. Em 2007, o relat\u00f3rio dizia que o mesmo era “muito prov\u00e1vel” (90%). (Fonte: Folha.com)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Os oceanos, que dominam a absor\u00e7\u00e3o de energia na Terra, e as geleiras, continuam a se aquecer. N\u00e3o houve hiato nos mares, que, segundo o novo relat\u00f3rio do IPCC, absorveram mais de 90% da energia extra que a mudan\u00e7a clim\u00e1tica aprisionou no planeta entre 1971 e 2010. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[77,46,191],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/98609"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=98609"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/98609\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=98609"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=98609"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=98609"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}