“Tinder da reciclagem” conecta descarte de lixo a catadores

Garis da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) removem nesta quinta-feira (1) toneladas de lixo após as festas de fim de ano no Rio de Janeiro. Na imagem, a praia de Copacabana
Garis da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) removem toneladas de lixo após as festas de fim de ano, de 2016, no Rio de Janeiro. Na imagem, a praia de Copacabana (Custódio Coimbra/Agência O Globo)

Em média, um brasileiro gera 400 quilos de lixo por ano. Menos de 20 quilos desse total é reciclado.

Na falta de um ponto de coleta, o que fazer com o volume de resíduos que foi gerado?

Uma das possibilidades é o aplicativo Cataki. A plataforma inclui o descarte de alumínio, vidro, papel, plástico, metal, óleo, eletrônicos, baterias, móveis, entulhos, entre outros.

O conceito é parecido com o do Tinder, o aplicativo de paquera para marcar encontros românticos. No caso do Cataki, o recurso da localização é usado para mostrar quais catadores de lixo cadastrados na plataforma estão mais próximos do usuário quando a busca é feita.

Mapa do aplicativo Cataki

Cada carrocinha roxa equivale a um perfil cadastrado. Ao selecionar uma delas, o aplicativo mostrará as informações do catador de lixo.

A conversa não acontece automaticamente pela plataforma. Nesse caso, ao contrário do Tinder, quem precisa descartar os materiais recicláveis tem que ligar para o número de telefone disponível no perfil e combinar o horário e o local de encontro diretamente com o catador de lixo.

Ao mesmo tempo, as informações sobre os trabalhadores mostram um pouco desse universo tão desvalorizado no Brasil. Há espaço para uma frase pessoal e um pouco da história de vida. Alguns exemplos: “um catador faz mais do que um ministro do meio ambiente!”, “apesar de tudo o que ocorre em sua vida, sempre se esforça ao máximo para conseguir materiais para ganhar dinheiro, pelo mais difícil que seja”, e “é catador há um ano, era pintor, mas não estava dando para cobrir os gastos, a falta de respeito na rua é muito triste, seu estado financeiro melhorou um pouco após mudar o seu trabalho”.

Quando cadastrados, eles podem ter um adesivo com a logo do Cataki colado na carroça ou um grafite na estrutura, além da marca da plataforma.

Um dos perfis no aplicativo Cataki

Qualquer pessoa pode fazer um novo cadastro de um catador. O registro é feito pelo site, e não pelo aplicativo.

De acordo com dados do site do Cataki, os catadores coletam cerca de 90% de tudo que é reciclado no Brasil e sobrevivem com a venda desses materiais. Plástico e papelão, por exemplo, valem cerca de 20 centavos por quilo, e o vidro 5 centavos por quilo. No Brasil, existem 800 000 catadores. No Cataki, apenas 300 estão cadastrados.

Além de fazer o descarte correto de materiais recicláveis, quem usa o aplicativo gera outra fonte de renda para os catadores de lixo com a contratação do serviço. Os valores são acertados na hora de combinar a coleta.

Em fevereiro deste ano, o aplicativo ganhou o prêmio de inovação do fórum Netexplo, realizado na França, na sede da Unesco, concedido a projetos de tecnologia com impacto social e nos negócios. A premiação avaliou 2 000 projetos. O Cataki foi lançado em julho de 2017 e tem catadores cadastrados em mais de 30 cidades brasileiras.

Fonte: Veja