Efraim Rodrigues (*)
Nós estamos acostumados a pensar que nossa vida cotidiana, que envolve relações de compra e venda, não tem nada a ver com ambiente.
Será mesmo que um vendedor de sapatos, por exemplo, não tem nada a ver com ambiente? Todos os sapatos que estão em uma loja são equivalentes em termos ambientais? Um sapato de cromo alemão equivale a um sapato nacional?
O sapato nacional gera empregos nacionais, mas e daí? E daí que ganhamos pela degradação ambiental necessária para produzir o couro. Engordar o boi, abate-lo e produzir couro são necessários de todo modo. Mas ao exportar wet-blue, a matéria prima do couro, de baixo valor agregado, estamos deixando de gerar empregos e ganhar pela degradação que causamos. Resultado, se não trabalharmos no beneficiamento do couro, vamos trabalhar em mais produção, daí mais degradação. Quanto mais trabalhamos com serviços e menos com produção, menos poluição. Um curtume suja muito mais que uma fábrica de sapatos.
O caso do wet blue é só um exemplo. Junto com ele está a soja em grão, o café, e tantos outros. Vendemos nossa degradação a preço de banana (também ela). Aí americanos e europeus pegam nossa soja, dão para aquelas vacas brilhantes, e ainda ganham uma grana cobrando para passearmos naqueles rios limpíssimos que cruzam suas capitais. Assim é fácil. É só alimentar as vacas com os rios, solo e ar do Brasil. Pois é. Ao embarcar a soja, é como se estivéssemos importando poluição. Ao invés de sujar lá, suja aqui.
Você já pensou para onde vai o dinheiro que você gasta? Ele tem uma finalidade ambiental positiva ou não?
Quando você compra uma verdura em um grande supermercado de uma cadeia internacional, para onde está indo seu dinheiro?
Grandes supermercados tem volume de vendas, com isso, podem comprar a preços e condições aviltantes, somente de grandes produtores, que também sendo grandes, podem vender a preços baixos. Ao comprar em um grande supermercado, você está matando a pequena agricultura, cuidadosa, onde um pequeno agricultor pensa 20 vezes antes de aplicar um veneno caro, e muitas vezes acaba mesmo não precisando, por causa de seu tamanho.
E para onde vai o lucro do pequeno e do grande supermercado? Ele é gasto na cidade, ou é mandado aos bilhões para fechar o caixa no país de origem, onde a própria população os renega e busca alternativas locais?
O Wal Mart agora está fazendo sérias gestões para se estabelecer em Londrina, uma típica cidade média brasileira, e durante algum tempo se cogitou até dar uma mãozinha para eles. Eu gasto todo meu salário nesta cidade, e não tive isenção de coisa alguma para me estabelecer aqui, muito menos terreninho de presente no centro. Se eu, classe média não recebo nada, porque ajudar os Waltons, uns caipiras americanos que figuram na lista dos bilionários mundiais, logo abaixo do Bill Gates? (qualquer semelhança com um seriado homônimo, muito antigo, da TV é mera coincidência. Eu acho.)
Em vários locais onde o Carrefour se estabeleceu, ele teve que criar centros de treinamento para pequenos comerciantes, investir em Hospitais e coisas do gênero.
Se uma grande cadeia quer se estabelecer em uma cidade, ela tem que pensar em COMPENSAÇÕES para ela, pelos danos ambientais, sociais e econômicos que irá causar. E diante disto, os empregos de caixa e empacotador que irá criar (ou vocês acham que vão abrir 50 vagas de diretoria para cidadãos locais?), nem de longe reparam o dano, porque para cada em empreguinho criado, é um milhão de reais que saem de Londrina. Na verdade saem do Brasil.
Eu mesmo vou continuar comprando do Seu Sebastião, lá de Ibiporã, que além de me vender os alfaces, me dá também alguns minutos de boa conversa e tranqüilidade. Cada centavo que eu gasto lá, é um centavo para que um excelente produtor orgânico da minha cidade melhore de vida.
Compre no pequeno, e não dê adeus a sua cédula. Dê só um até logo. Você vai vê-la em breve.
* É Ph.D. em Ecologia pela Harvard University, professor adjunto de Recursos Naturais da UEL e autor do Livro Biologia da Conservação.