Efraim Rodrigues (*)
É um prazer comemorar a coluna Ambiente por Inteiro número 150 fazendo o que eu mais gosto. Nada. A coluna desta semana foi escrita por Lincon Zotarelli, um jovem e brilhante professor do Depto. de Agronomia que pediu este espaço para denunciar uma influência malévola sobre os agricultores, e para recomendar que eles, como eu, relaxem e aproveitem a fixação de nitrogênio na soja, sem adicionar fertilizantes nitrogenados.
A agricultura atualmente dispõe de tecnologias ecologicamente corretas, que minimizam o impacto ambiental da atividade agrícola, sem comprometer a produtividade. Um exemplo da evolução tecnológica na agricultura foi o desenvolvimento da tecnologia do processo de fixação biológica de nitrogênio (FBN) que ocorre naturalmente em plantas leguminosas. Esse processo possibilita a exploração de culturas como a soja, dispensando, durante o processo produtivo, a utilização de qualquer tipo de adubo nitrogenado.
A soja, planta de origem asiática, é hoje a leguminosa de grãos mais cultivada no Brasil, e isso foi resultado dos programas de pesquisa que possibilitaram a expansão desta cultura pelo território nacional. Os programas de melhoramento da cultura da soja no Brasil foram conduzidos para que a planta pudesse ser cultivada em escala comercial, com elevados níveis de produção, onde a demanda de nitrogênio (N), que é um nutriente essencial para o crescimento vegetal, seria atendida com o N derivado da inoculação com rizóbio. Para a soja, o rizóbio é uma denominação de bactérias do gênero Bradyrhizobium sp., capazes de formar nódulos nas raízes e converter nitrogênio atmosférico (N2) em amônia (NH3), processo este conhecido como fixação biológica de nitrogênio (FBN). A simbiose da cultura da soja com o rizóbio já é bem conhecida e pode ser maximizada através da inoculação com estirpes de bactérias mais eficientes.
O rendimento da cultura da soja, na maioria das vezes, oscila entre 2,5 e 3,5 t/ha e durante seu ciclo produtivo pode acumular mais de 150 kg/ha de N derivados da simbiose da soja com o rizóbio. A fertilização com N é totalmente dispensável para a cultura da soja desde que, a inoculação seja feita com sucesso e as condições do solo não limitem o processo de fixação realizado pelo rizóbio. A fixação é um processo que complementa as necessidades de N pela cultura da soja, logo, quanto menor for a disponibilidade de N do solo, maior será a contribuição da do nitrogênio fixado para a planta, por isso, a aplicação de adubos nitrogenados (uréia, sulfato de amônio, nitrato de amônio, nitrocálcio, etc.), seja no plantio ou durante a floração da soja, comprometeria o processo de fixação.
Por que então, com todas estas vantagens, os produtores de soja têm sido bombardeados com a informação que colocando nitrogênio na soja durante o período de floração, ela aumentaria a produção?
É exatamente durante a floração que a soja fixa mais nitrogênio! A aplicação de fertilizantes nitrogenados na soja nesta fase, além de aumentar os custos de produção, poderia comprometer o processo simbiótico e até mesmo diminuir a produtividade da cultura da soja. E ainda, ecologicamente falando, por que deixar de utilizar uma fonte de N limpa e praticamente gratuita, que é o ar atmosférico e o processo de fixação, por adubos nitrogenados industrializados, que são muito mais caros e comprometem a qualidade do ambiente se não utilizados racionalmente?
Em condições ideais, a inoculação da cultura da soja com o rizóbio pode suprir toda a sua necessidade de N sem comprometimento da produção. Recomenda-se, para isso, que se monitore a área de produção através de análise de rotina de solo, e foliares, e que se utilizem inoculantes produzidos por laboratórios autorizados pelo Ministério da Agricultura.
Esta sim, é uma maneira racional de conduzir uma lavoura sem desperdícios, racionalizando recursos disponíveis, protegendo e respeitando o meio ambiente.
* É Ph.D. em Ecologia pela Harvard University, professor adjunto de Recursos Naturais da UEL e autor do Livro Biologia da Conservação.