Efraim Rodrigues (*)
Não há melhor momento para falar sobre o clima do que agora, com uma frente fria estacionada em cima do sul e sudeste do país. Para piorar a estória, o sul está bem úmido, e aqueles que estão com a alta umidade do lado quente e com a baixa temperatura do lado frio ficam como a parede de um copo de cerveja gelada, ou seja: bem úmidos.
Até há pouco tempo, as pessoas encaravam esta variação do clima como uma destas coisas da vida como a morte e as sogras. Estão aí e não há nada a fazer contra a elas.
Hoje em dia não é mais assim. Nós tanto insistimos que finalmente conseguimos alterar a nossa atmosfera, e transforma-la em algo parecido com um carro fechado no sol.
Até há pouco tempo, ainda havia dúvida na comunidade científica mundial sobre o aquecimento ou não e sua relação com a concentração de CO2 na atmosfera. Existe toda uma metodologia estatística para isto, mas eu prefiro mostrar o gráfico e deixar para o seu bom senso resolver.
Apesar do que possa parecer para você, que está morrendo de frio, o aquecimento da Terra trará vários problemas para todos nós, como a aceleração das taxas de extinção, já que o clima de todo planeta mudará, e as espécies que hoje estão “presas” nas unidades de conservação não conseguirão se mover para os novos locais onde estariam adaptadas, na velocidade com que o clima está mudando.
O efeito mais conhecido do aquecimento terrestre é o derretimento da calota polar, e isto as imagens de satélite já estão mostrando. Para onde vai toda esta água ? Para o mar, que vai aumentar de nível entre 0,2 a 1,5 m. Todos os ambientes e ecossistemas que dependem da estabilidade do mar, como manguezais e corais que se cuidem. Pior ainda, existem outros ecossistemas que também dependem destes, como as águas costeiras. Muitas espécies de águas costeiras usam os manguezais como criatórios.
Outro culpado do aquecimento terrestre é o desmatamento, que destrói um ecossistema que tem potencial de absorver o CO2, e cuja destruição em si também lança CO2 no ar. Mas este não é o único serviço que as florestas podem trazer para nós.
Na semana passada, um estudo inovador do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) provou a importância da floresta na regularidade das chuvas. Pode parecer óbvio, mas eu já tinha tentado fazer isto com os dados climáticos de Londrina, e não tinha conseguido, talvez porque nosso clima só começou a ser medido quando as florestas já tinham se acabado, assim não temos como saber com precisão como era o clima na região antes do desmatamento.
A equipe do Prof Antonio Nobre (cujo trabalho eu estarei conhecendo na semana que vem) conseguiu na Amazônia as condições necessárias para finalmente provar algo que todos já desconfiavam (a floresta transpira e mantém a chuva constante).
A conclusão mais importante a ser tirada do degelo da calota polar e da importância da floresta para as chuvas, é mais do que científica, é de caráter individual.
Não é o aquecimento da Terra ou o desmatamento que causam estes problemas todos. Estes dois são processos ecológicos, e como tal, não são culpados de nada.
Estas pesquisas são importantes porque criam uma relação entre o impacto de cada um, e a Terra como um todo. Entre o dormitório capelinha padrão mogno que voce comprou na semana passada, e as chuvas; entre voce ligar o seu carro, e o alagamento do Rio Grande do Sul.
* É Ph.D. em Ecologia pela Harvard University, professor adjunto de Recursos Naturais da UEL e autor do Livro Biologia da Conservação.