Efraim Rodrigues (*)
Ecologia da Paisagem é um termo novo, que carece explicar. Isto significa que nós procuramos entender como que paisagens funcionam do ponto de vista ecológico. Para isto, nós precisamos conhecer muito bem o passado e o presente destas paisagens. Para entender a história nós usamos as mesmas ferramentas que os historiadores usam, que são relatos escritos e orais, e para entender o presente nós utilizamos técnicas de sensoriamento remoto, como fotos aéreas e imagens de satélite.
Mas afinal, quais descobertas interessantes nós fizemos sobre a Paisagem do Norte do Paraná?
Agora eu vou usar um cliché da academia. Devido ao espaço restrito nós vamos ter que resumir, etc etc. (felizmente o JL limita o espaço da coluna!). Se vocês quiserem mais detalhes procurem na página:
http://www.uel.br/cca/agro/ecologia_da_paisagem/
Enfim, no que o meu laboratório têm gasto os 110 mil dólares de projetos que nós conseguimos trazer para a Universidade?
Nós começamos dez anos atrás com o levantamento histórico do desmatamento. O Norte do Paraná tem um histórico muito particular de ter tido um desmatamento planejado. A palavra “planejado” não significa que o plano foi bom. Só estou dizendo que o desmatamento seguiu um plano. Isto fez com que a nossa paisagem rural ficasse muito homogênea. Em qualquer carreador que você entrar no topo de morro, saem os carreadores menores, que descem morro abaixo, indo até a baixada e dividindo as propriedades.
Como conseqüência deste modo de divisão da terra, as florestas que permaneceram, que nós chamamos de fragmentos de floresta, são na sua maioria quadradas. Florestas quadradas são características do Norte do Paraná.
Eu posso ouvir agora um coro de Norte Paranaenses falando É verdade, que pena que a Companhia de Terras acabou com tudo…
O Norte do Paraná é cheio de florestas.
O dado mais importante que eu tenho para trazer para vocês é que o Norte do Paraná ainda tem florestas. Não só o Godoy. Não só a Doralice. O Norte do Paraná tem ainda um monte de pequenas florestas dentro das propriedades.
Juntas, elas somam quase seis porcento da área total. Pode parecer pouco diante dos 100% originais, mas é bastante mais do que outras regiões de solos agricultáveis como a nossa.
Bom, mas e daí? Temos um monte de florestas e podemos fechar o laboratório e ir embora? Exatamente não. E na verdade aí que o trabalho começa.
Se nós não tivéssemos floresta alguma, como a maior parte da população acredita, então não poderia haver desmatamento, não é?
Mas há. Existe desmatamento ainda em Londrina. Ano a ano inúmeros proprietários rurais passam suas grades e arados um pouco mais para dentro dos fragmentos de floresta.
As fotos aéreas e imagens de satélite que provam isto estão a disposição do Ministério Público em nosso laboratório.
Nós também medimos em nosso Laboratório, como está o nível de conservação destes fragmentos de floresta. Descobrimos que na borda destas florestas ocorrem espécies que são diferentes do interior. É que o impacto da agricultura, sol, agrotóxicos, faz com que só algumas espécies que são tolerantes consigam viver ali. Nós estudamos este mecanismo a fundo.
Fizemos, aliás, o maior estudo que jamais foi feito no assunto. Nós levantamos 20.000 plantas em bordas de floresta e descobrimos quais as espécies que tendem a ocorrer em bordas, e várias outras coisas interessantes, como qual a largura destas bordas, que é de 35 metros em média, e que a borda tende a ser mais larga ao norte dos fragmentos e mais estreita ao sul dos fragmentos. Com estes dados, nós podemos planejar reservas e parques, e podemos conservar melhor os fragmentos de floresta que estão em áreas particulares.
* É Ph.D. em Ecologia pela Harvard University, professor adjunto de Recursos Naturais da UEL e autor do Livro Biologia da Conservação.