Quem vai levar o lixo para fora?

Efraim Rodrigues (*)

Na coluna da semana passada, em que falamos sobre as sacolinhas de supermercado, terminamos com a conclusão que se uma pessoa leva a sua própria sacola de compras para o supermercado, fica sem aquela avalanche de sacolinhas que terminam sendo usados como saquinho de lixo.

O que fazer com o lixo então?

O lixo doméstico pode ser um problema para você, e para as grandes cidades, mas é ouro para industriais que usam os materiais.

A prova disto, é que nesta semana um carro com um alto falante alto, passou aqui em casa, comprando toda sorte de sucata. O fato de uma pessoa equipar um carro com um alto falante e sair por aí se oferecendo para comprar trilhos de cortina, panela velha, antimônio e toda sorte de coisas, mostra o valor que estes materiais têm. Mostra também como podemos fazer poluição sonora para evitar poluição por resíduos sólidos, cobrindo um santo para descobrir outro, mas deixa isto para lá, senão esta coluna fica complicada demais.

A solução para a falta de sacolinhas de supermercado em casa, é não produzir lixo!

Se você separar o lixo reciclável do orgânico, você não está fazendo um bem somente para a humanidade, seu país, estado e município. Você está fazendo bem para você mesmo, porque o lixo reciclável (latas, garrafas, papel, vidro) não cheira. Pode ficar na sua cozinha para sempre, sem ter aquele cheiro que nem você nem eu queremos ter perto de nós.

Junte a coisarada toda em uma caixa de papelão qualquer, e quando o pessoal passar, você dá de presente para eles. Você estará ajudando quem precisa e trabalha por merecer, estará ajudando a aumentar a vida do lixão de sua cidade, e estará livrando sua cozinha do cheiro indesejável do lixo convencional.

Mas tem algo nesta idéia que não está me cheirando bem …(trocadilho intencional).

Para onde foram as cascas, restos de comida, e outros materiais orgânicos que sobram de uma cozinha ?

Este material cheira mal, porque sendo largado ao léu, começa a fermentar. Você já viu como cheiram os arredores de uma usina de açúcar ? É um processo parecido que acontece na lata de lixo, e que ao contrário da usina, não leva seus proprietários à opulência, muito pelo contrário. Ele cheira miseravelmente.

Aqui em meu apartamento, há anos já, eu tenho uma pequena caixa, do tamanho de um criado mudo, onde todo este material é jogado, e ali ele sofre um ataque inclemente de uma grande variedade de microorganismos que degradam tudo. Sem cheiro e sem verter aquele líquido fétido.

É freqüente eu ter pedidos de palestras, workshops e similares para falar sobre a tal caixa. É difícil. Talvez as pessoas devessem convidar as bactérias, fungos e assemelhados que vivem lá para dar uma palestra. Eles é que fazem o trabalho duro. Tudo o que eu faço é jogar o material lá, revirar para misturar tudo bem, e manter o fornecimento de oxigênio para eles (oxigênio do ar mesmo, não tenho nenhum cilindro de O2 líquido aqui !) . E quando encho, eu retiro uma parte e deixo outra lá, para manter a população de trabalhadores em alta, e não precisar começar do zero.

Há anos atrás, eu comecei a fazer composto orgânico em casa, pelo ideal de não contribuir para a sujeira na cidade. Hoje, além disto, eu faço também por comodidade. É muito mais fácil jogar o lixo orgânico na caixa, e ficar com o resto do lixo limpo, que não cheira, do que ter lidar todo dia com uma grande massa de lixo (recicláveis maçarocados junto com o orgânico). Em meu apartamento, há muito tempo que não tem a discussão “Quem-vai-levar-o-lixo-para-fora”.

Começamos no saquinho, passamos para o composto, mas ainda tem mais. Na semana que vem vou falar sobre o destino final do composto. É que antes de virar gás carbônico, que é o final e o começo de tudo, o lixo do meu apartamento ainda me ajuda a produzir tomates, morangos, maracujá, uva e a produzir umas mudas de árvore também. Tudo aqui. Veja também aqui (nesta coluna) na semana que vem, a parte final desta trilogia ambiental; os jardins suspensos da Babilônia !

* É Ph.D. em Ecologia pela Harvard University, professor adjunto de Recursos Naturais da UEL e autor do Livro Biologia da Conservação.