Foi-se o tempo em que índio era quase sinônimo de isolamento. Neste começo de século XXI, os povos indígenas estão a cada dia mais integrados no mundo globalizado. As tecnologias que permitem o acesso à aprendizagem a distância facilitam a comunicação entre tribos situadas em territórios distantes. Para isso, tem contribuído a atuação da Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação (Seed/MEC), que vem desenvolvendo diversas ações nas comunidades indígenas.
Um exemplo são os programas produzidos pela TV Escola, que divulgam a diversidade cultural dos índios brasileiros. Professores indígenas de sete estados (Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Pernambuco, Roraima, Acre e Rio Grande do Sul) passaram por cursos de capacitação para utilizar em sala de aula não só os vídeos da TV Escola, mas também o material impresso de uso pedagógico – e, assim, conhecer um pouco da história deles mesmos.
Gravada em 1999, a série de dez programas Índios do Brasil, da TV Escola, traça um perfil dos índios brasileiros, apresenta a sua relação com a natureza, mostra o problema da demarcação das terras, o contato com os brancos, as epidemias e os direitos do povo indígena.
“A série é constantemente reprisada por ser ainda bastante atual”, diz Kleber Gesteira, da Coordenação-Geral de Apoio às Escolas Indígenas do MEC. “Os programas atendem bem a uma das diretrizes do Plano Nacional de Educação, que é combater o preconceito e informar sobre as sociedades e culturas indígenas.”
Além da série, o programa Salto para o Futuro, também veiculado pela TV Escola, todo ano organiza uma rodada de discussões sobre educação. Este ano, o tema é a formação de professores indígenas. Os debates devem ir ao ar na primeira semana de agosto. Outras produções agendadas para 2004 são os programas Mitos e Lendas Indígenas, com o roteiro já pronto, Formação do Professor Indígena e Povos Indígenas e Tolerância, os dois últimos ainda sem previsão de estréia.
Internet – A internet e o rádio são outras tecnologias que chegam às diferentes tribos. Escolas indígenas de sete estados (Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco e Santa Catarina) começam a desenvolver projetos com o uso da informática.
Organizações não-governamentais doam equipamentos e apóiam projetos. Oito escolas indígenas receberam, recentemente, computadores do Programa Nacional de Informática da Educação (ProInfo/MEC) e planejam o uso pedagógico da nova tecnologia.
Na Escola Estadual Indígena Bokimuju, em São João das Missões (MG), os computadores foram instalados no ano passado. Os dois mil alunos começam, este ano, a desenvolver trabalhos no laboratório de informática. Além de servir para o aprendizado pedagógico, os computadores, por meio da internet, facilitam a comunicação na comunidade. Antes, o único meio de comunicação na reserva era o orelhão, em frente à sede da escola.
Professores de quatro escolas indígenas de Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul estão sendo capacitados para utilizar a linguagem radiofônica em sala de aula. O projeto-piloto Educom.Rádio, uma parceria entre a Seed e a USP – Universidade de São Paulo, tem a meta de capacitar professores de 70 escolas do Centro-Oeste em 2004.
“O rádio é um instrumento que resgata a oralidade, e como a cultura oral é bastante forte nas comunidades indígenas, ele poderá ser muito bem usado como instrumento pedagógico e meio de expressão”, diz a coordenadora de Comunicação do Núcleo de Comunicação e Educação da ECA – Escola de Comunicações e Artes da USP, Cláudia Lago.
Brasil indígena – Em todo o Brasil, há 414 mil índios vivendo em terras indígenas distribuídos em 220 grupos. Hoje, eles representam apenas 0,24% da população brasileira. Há atualmente cerca de 7 mil professores nas 2.079 escolas indígenas, sendo 85% deles de origem indígena. Desde a década de 70, os índios já lecionavam. Mas só a partir da Constituição de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, é que passaram a ser reconhecidos legalmente em suas diferenças e peculiaridades.
O Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas, lançado em 1998 pelo MEC, reafirmou o direito ao ensino bilíngüe e a um currículo que privilegia os conhecimentos, os costumes, a história e as necessidades de cada nação indígena. (MEC)