Os rios amazônicos, pelo menos aqueles que foram estudados pelos cientistas, podem ser comparados a uma garrafa de refrigerante. A quantidade de gás carbônico dissolvida na água é bastante grande. Com essas concentrações elevadas, é comum ocorrer processos de liberação do carbono na atmosfera.
“A calha central do rio Amazonas, como demonstramos nos últimos anos, está respirando. Existe uma liberação desse gás carbônico para a atmosfera”, disse Reynaldo Victoria, pesquisador do Cena – Centro de Energia Nuclear na Agricultura, à Agência Fapesp. Segundo ele, isso não significa que a informação de que a Floresta Amazônica está absorvendo carbono da atmosfera esteja errada.
“Estamos provavelmente diante de um equilíbrio. O carbono que é eliminado nos rios, de 1 tonelada a 2 toneladas por hectare por ano, é praticamente o mesmo que é absorvido na floresta”, disse Victoria. Segundo o cientista, o grande objetivo do grupo de estudo do qual participa no LBA (sigla em inglês para Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), a partir de agora, é ampliar a rede de coletas para outras regiões da Amazônia. “Precisamos ver o que está ocorrendo em outros rios.”
Os rios amazônicos não estão em interação apenas com a atmosfera. A ligação entre água e terra é outro elo investigado pelos cientistas do LBA. Nesse caso, conforme apresentou Victoria na quinta-feira (29), último dia da 3ª Conferência Científica do LBA, em Brasília (DF), nutrientes como o nitrogênio e o fósforo desempenham um papel fundamental para a manutenção do ecossitema.
“Estão sendo feitos estudos que comparam a presença do nitrogênio e do fósforo em áreas de floresta e em áreas de pastagem. A mudança nesses dois cenários é brutal”, afirmou. Uma das descobertas está relacionada com o nitrogênio encontrado nas águas dos rios. Enquanto esse composto não é um fator limitante para a biodiversidade da Amazônia em áreas de floresta, ele se torna um limitador à presença de espécies animais quando, ao lado do rio, existe uma pastagem.
Segundo Victoria, em algumas áreas de Rondônia, por exemplo, as alterações na cadeia alimentar foram bastante evidentes. “A quantidade de espécies bentônicas (que vivem no fundo dos rios) caiu bruscamente, aproximadamente oito vezes, exatamente por causa dessa mudança no uso da terra.”
A química dos rios amazônicos está sofrendo com um outro problema, segundo o cientista. “Com o aumento da urbanização, a poluição também está crescendo. É preciso que se preserve a saúde dos rios da Amazônia, antes que eles virem, por exemplo, um rio Tietê. Temos que evitar chegar ao momento em que a situação, do ponto de vista bioquímico, é irreversível”, disse. (Agência Fapesp)