Uma nova pesquisa reforça a tese de que a emissão de gases poluentes na atmosfera pode afetar não apenas os pulmões, mas também o coração. O estudo, realizado em São Paulo com funcionários da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), analisou as funções respiratórias e cardiovasculares de 50 “marronzinhos” que trabalham em ruas com grande circulação de veículos.
“O que nos motivou a fazer essa pesquisa foi o aumento das internações e das consultas hospitalares por doenças cardiovasculares e também respiratórias quando os níveis de poluição do ar aumentam na cidade”, disse Ubiratan de Paula Santos, médico pneumologista do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas de São Paulo, à Agência FAPESP.
Por meio de exames de sangue, eletrocardiograma e avaliação da pressão arterial, além de exames pulmonares, Santos verificou que os trabalhadores da CET apresentaram alterações significativas na freqüência cardíaca e na pressão arterial, como conseqüência dos altos índices de componentes tóxicos no organismo – substâncias presentes no ar paulistano.
“As mudanças no organismo provocadas pela poluição deixaram as pessoas mais suscetíveis a paradas cardíacas, além de aumentarem as chances de infarto e doenças cardiovasculares em geral”, revela Santos, que é também professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Segundo o pesquisador, a inalação de gases poluentes provoca inflamação nos pulmões, o que acarreta a liberação de substâncias prejudiciais à saúde na corrente sangüínea dos indivíduos, aumentando as chances de problemas cardíacos. “A poluição afeta os sistemas nervosos simpático e parassimpático, responsáveis por regular os batimentos cardíacos. O coração fica praticamente engessado e pode perder a capacidade de variar às interferências do meio, o que predispõe os indivíduos às arritmias e à morte súbita”, afirma.
Apesar de os testes terem sido realizados apenas com funcionários da CET, Santos alerta que a emissão de gases poluentes também pode prejudicar a população em geral. “A poluição das grandes cidades não tem barreiras. É muito provável que qualquer indivíduo exposto às áreas de tráfego intenso de São Paulo também possa sofrer as conseqüências cardíacas da poluição”, adverte. (Fapesp)