Uma das aves características do Cerrado brasileiro, a gralha-do-cerrado (Cyanocorax cristatellus) começa a ter sua vida desvendada pelo olhar da ornitologia, ciência dedicada ao estudo das aves. Pesquisa recente publicada pela pesquisadora Marina Faria do Amaral revela os primeiros dados sobre a história natural e a reprodução desta ave endêmica da região.
A pesquisadora – hoje atuando na Diretoria de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente – dedicou a tese de mestrado ao estudo das gralhas existentes no Parque Nacional de Brasília, uma reserva de Cerrado com cerca de 32 mil hectares, localizada a 10 quilômetros do centro da capital federal. O resultado da pesquisa está no Journal of Field Ornithology, uma das principais revistas sobre ornitologia.
No aspecto da alimentação, a pesquisa demonstrou que as gralhas são aves generalistas. Comem desde frutos até pequenos vertebrados. Ao acompanhar as aves, Marina observou ainda indícios de elas apresentam reprodução cooperativa, ou seja, indivíduos adultos são capazes de cuidar de filhotes de pais distintos.
“Os ninhos encontrados no Parque Nacional tinham até 6 ovos. Apenas um adulto chocava. No entanto, diversas aves adultas alimentavam os filhotes de um mesmo ninho”, relata Marina. Esse hábito, explica, é comum entre aves da família dos corvídeos.
Cada grupo de gralhas estudado era formado por cerca de 10 indivíduos e se desloca por uma área equivalente a 170 campos de futebol. Todavia, as gralhas têm se mostrado fortes na luta pela sobrevivência em áreas cuja vegetação original foi parcialmente destruída. Os ornitólogos têm avistado aves dessa espécie em regiões degradas nos estados de Goiás, Tocantins e do Distrito Federal. (Ibama)