A exploração clandestina de palmito no Parque Nacional do Iguaçu (PR), unidade de conservação de 185 mil hectares situada na fronteira do Brasil e da Argentina, está causando desequilíbrios no ecossistema da reserva. Um dos efeitos da atividade predatória, que se tornou um negócio para sobrevivência de colonos desempregados da região Sudoeste, é o aumento das chances de desaparecimento de animais ameaçados de extinção e o empobrecimento da floresta, dificultando a renovação do bosque de palmitos.
Cálculos de biólogos do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis indicam que, em um período de seis anos, cerca de 300 mil árvores de palmito foram derrubadas no interior do parque, quantia que corresponde a cerca de 300 hectares de floresta. O Parque Nacional do Iguaçu é considerado a maior área contínua de Mata Atlântica do Paraná, cuja cobertura no estado está reduzida a 5%. A preservação da Mata Atlântica é tida por especialistas como prioridade para a conservação da biodiversidade em todo continente americano.
Segundo a bióloga do Ibama, Ana Rafaela Damico, a intensa retirada de palmito do parque fez surgir clareiras na mata, provocando o chamado efeito de borda, caracterizado por alterações microclimáticas que resultam na elevação da temperatura do solo e no aquecimento do ar. “As clareiras têm efeitos negativos porque permitem a entrada de mais sol na área, empobrecendo a floresta e prejudicando o nascimento de novas árvores”, diz.
Rafaela ainda diz que as mudanças predispõem a propagação de incêndios e expõem as plantas à ação do vento, facilitando a queda de árvores em épocas de tempestades. As alterações na floresta estão prejudicando a produção de sementes, a perda da variabilidade genética do palmito e danos diretos às aves, mamíferos e quatro espécies ameaçadas de extinção que se alimentam da planta: o macuco, a jacutinga, o bugio e a anta. Outras 36 espécies de animais presentes no parque também utilizam o palmito como fonte alimentar.
Em razão da desenfreada exploração, aos poucos, o Parque Nacional ganha aparência de “cemitério” de palmito. Isso porque a árvore cortada não rebrota. A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou uma expedição das Polícias Florestal e Federal na área e pode constatar a depredação dos palmitais. O palmito cobiçado pelos exploradores no parque é o palmito-juçara (Euterpe edulis), nativo da Mata Atlântica.
A unidade de conservação é vítima da exploração do palmito-juçara há 20 anos. Segundo o chefe da Área de Conservação e Manejo do Parque, Apolônio Rodrigues, a extração do palmito vem aumentando nos últimos anos porque se tornou um negócio. “De um único fornecedor saem palmitos para 40 compradores”, alerta. O palmito-juçara é considerado uma das palmeiras mais belas do mundo. O palmito demora de 8 a 15 anos para frutificar. (Denise Paro – Gazeta do Povo/PR)