O peixe-boi marinho (Trichechus manatus) Assú, reintroduzido em ambiente natural pela segunda vez em dezembro de 2004, foi novamente capturado e levado ao CMA – Centro Mamífero Aquáticos do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, na Ilha de Itamaracá (PE), domingo passado (9). Apesar de estar 50kg mais magro, o estado de saúde dele é bom. Na primeira vez, quando foi resgatado do mar e trazido para o CMA, pelos mesmos motivos, o animal perdeu 65kg.
O animal foi capturado na Baía de Todos os Santos, em Salvador (BA). De acordo com a executora do CMA em Alagoas, Carolina Alvite, “o local em que Assú se encontrava não ofertava alimento para o animal e era também de extremo risco, pois ficava numa área de pesca predatória com explosivos e perto da travessia do ferryboat (embarcação a motor de faz transporte de carros e pessoas de Salvador/BA para a Ilha de Itaparica). Além disso, a área é de péssima balneabilidade, com esgotos caindo sem tratamento na baía e banheiros ao ar livre”.
Na primeira vez da captura de Assú, ele também estava no litoral baiano, área com ocorrência histórica da espécie, mas que hoje não abriga nenhum animal. O peixe-boi marinho é uma das espécies de mamíferos aquáticos criticamente ameaçadas de extinção no Brasil. Estima-se que hoje existam apenas 500 indivíduos em toda costa norte-nordeste do país, num trecho de 5 mil quilômetros.
Deslocamento – Após a soltura de Assú, na praia do Patacho, em Alagoas, no último dia 4 de dezembro, ele começou um deslocamento para o sul. No dia 20 de dezembro, foi localizado pelos técnicos do CMA/AL na Praia do Peba, em Alagoas, e informações apontam que dois pescadores teriam retirado o cinto com o rádio transmissor do animal. “Os equipamentos foram encontrados com cortes feitos por faca, indicando a retirada intencional do material. Esta é uma das grandes dificuldades de se acompanhar os deslocamentos dos animais, pois a comunidade desinformada retira o material pensando que está fazendo um bem”, afirma Carolina.
Desde então, dois monitores saíram à procura do animal pelo litoral sul de Alagoas seguindo até Arembepe (BA), realizando a Campanha SOS Peixe-Boi, que orienta a população como agir com a chegada do animal, principalmente, solicitando que ao avistar o animal, a comunidade entre em contato imediato com o CMA/AL para que a equipe pudesse colocar o rádio transmissor. Foram distribuídos cartazes com os telefones para informações sobre aparições de Assú.
Somente no dia 5 de janeiro a Sociedade de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos, que integra a Remane – Rede de Encalhe de Mamíferos Aquáticos do Nordeste, informou ao CMA que Assú estava na Baía de Todos os Santos (BA) e que, provavelmente, ele tenha estado desde o primeiro dia do ano naquela região. Assú demonstrava sinais de desorientação e estava visivelmente mais magro.
Captura – Na última sexta-feira (7), técnicos do Projeto Peixe-Boi e da Sociedade de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos capturaram o animal, que foi levado para uma piscina da instituição, em Salvador, onde ficou em observação até ontem, quando foi trazido para a sede nacional do Projeto Peixe-Boi, na Ilha de Itamaracá.
“A captura foi emocionante! Com a ajuda de pescadores e moradores locais o animal foi cercado com uma rede de pesca e transportado pela água até uma praia onde o carro tinha acesso. Na chegada na praia do Canta Galo havia uma multidão de curiosos que nunca viram um peixe-boi. Este é mais um animal que vem levando o conhecimento da espécie a locais onde há mais de 60 anos foram extintos e por tanto são desconhecidos”, atesta Carolina.
Segundo a veterinária do Projeto Peixe-Boi, Jociery Vergara-Parente, o exame de sangue feito logo depois da chegada do animal não indicou nenhuma alteração clínica. (Luís Boaventura/Ibama)