Os movimentos sociais que participaram 4º Fórum Social Pan Amazônico, realizado em Manaus (AM), durante os dias 18 a 22 de janeiro, enviaram carta à coordenação do encontro em que reconhecem um avanço nas diversas discussões, tanto na questão da água quanto em relação ao direito da população e manifestam disposição de continuar a luta pelos direitos dos povos da região.
Para o coordenador do Fórum, José Rosha, os movimentos sociais tiveram possibilidade de fortalecer as alianças para serem cada vez mais atuantes, pois “nenhum governo vai resolver problemas por sua própria iniciativa, até porque existem forças em choque e cada um tende a buscar que prevaleça seu interesse”.
Leia a íntegra da carta:
Carta aos participantes do IV FSPA
Anunciamos aos povos da Pan-Amazônia que mais um passo foi dado na luta pela transformação da Amazônia na Terra Sem–Males sonhada por nossos ancestrais. Entre os dias 18 e 22 de janeiro, realizamos em Manaus (AM), no coração da floresta, o IV Fórum Social Pan-Amazônico.
No IV FSPA avançamos na construção de alianças, redes de solidariedade e fortalecimento dos movimentos sociais comprometidos com a busca de alternativas que deverão assegurar às gerações do futuro de nossos países e comunidades vida digna com respeito à soberania, autonomia, diversidade em todos os seus aspectos (sociais, culturais, de recursos da biodiversidade, dentre outros), e paz, com prevalência da democracia, respeito aos direitos humanos e utilização de todos os recursos necessários para se por fim à violência contra nossos povos.
O IV FSPA navegou pelo rio da solidariedade , destacando-se:
– o apoio direto dado aos indígenas que resistem há mais de vinte dias na ocupação da Funai em Manaus, como forma de pressão para assegurar seus direitos. Esse exemplo de luta soma-se a outros esforços para que os estados Nacionais resgatem uma dívida histórica de 500 anos com povos que por mais de 40 mil anos transitaram livremente em território amazônico sem nunca conhecer fronteiras;
– o IV FSPA soprou ventos de igualdade, criando espaços para articulação das entidades feministas e de defesa dos direitos da mulher, cuja participação têm sido cada vez mais importante na formulação de propostas e políticas para por fim à violência sexista, à discriminação de gênero e a todas as diferenças, reconhecendo que somente assegurando a igualdade entre homens e mulheres se poderá construir outro mundo e outra Amazônia possível;
– o IV FSPA caminhou pelo chão da liberdade, apoiando os trabalhadores e o povo da Guiana Francesa em sua luta para romper as amarras da colonização imposta pelo governo francês. Como expressão da nossa vontade de derrubar os muros que buscam isolar o povo guianense das outras nacionalidades e povos da Pan-Amazônia, propomos que a cidade de Caiena, capital da Guiana Francesa, seja sede do sexto Fórum Social Pan Amazônino no mês de julho de 2007;
– durante quatro dias, sete mil participantes e duzentas organizações, entidades e movimentos sociais participaram ativamente de debates e atividades voltadas a construir um amanhã com Diversidade, Soberania e Paz;
– o Fórum Social Pan-Amazonico é o movimento dos movimentos de uma região decisiva nos destinos do planeta. A nossa caminhada continua. Nos próximos dias 29 e 30 de março, o Conselho Internacional do FSPA se reunirá em Belém para anunciar a cidade sede do V FSPA , que será realizado em julho de 2006.
De Manaus, no ato de encerramento do IV Fórum Social Pan-Amazônico, nós, que somos filhos e filhas da selva, dos campos e dos rios, reafirmamos nosso compromisso de lutar para fazer da Amazônia a casa comum onde todos os povos vivam com justiça e liberdade.
(Débora Barbosa / Agência Brasil)