Com mais de 350 obras, que abrangem da pré-história até os dias atuais, a exposição “Brasil Indígena”, inaugurada nesta segunda-feira (21) em Paris (França), no âmbito do Ano do Brasil na França, permite admirar a riqueza artística dos povos ameríndios.
A organização da exposição parte de um paradoxo. Como afirmam seus curadores, Luis Donisete Benzi, Regina Polo Müller e Cristina Barreto, o conceito de arte, tal como entendemos, não existe entre os povos indígenas da América.
A exposição mostra, no entanto, que os índios concebem seus objetos no âmbito de modelos estéticos culturalmente reconhecidos e que, para eles, a experiência estética é fundamental para afiançar seus valores sociais e garantir a transmissão de sua cultura.
O Brasil tem meio milhão de indígenas pertencentes a 220 culturas diferentes. “Brasil Indígena” faz um panorama destas culturas indígenas brasileiras, organizado em dois eixos: o primeiro, arqueológico e histórico, apresenta a herança do passado. O segundo, formal, mostra a diversidade de manifestações artísticas.
A exposição começa com uma sala dedicada à arte funerária. Segue-se a exibição de estatuetas e vasilhas antropomorfas e zoomorfas marajoaras e de Santarém, tapa-sexos marajoaras e uma série de suntuosas urnas funerárias de diversas culturas -Caviana, Maracá, Aruá e Guarita.
O visitante depara-se em seguida com pinturas rupestres. Em uma instalação organizada ao redor de uma rocha esculpida procedente do Pará, são projetadas fotos de pinturas rupestres figurativas e abstratas. Depois disso, a sala “Artes da Transformação” apresenta objetos xamanistas e guerreiros de duas culturas desaparecidas, a Jurupixuna e a Munduruku, na qual se destaca um extraordinário conjunto de máscaras.
Terminada a parte histórica, a exposição conduz o visitante a uma esfera na qual a arte faz parte da vida cotidiana. Os objetos expostos combinam com vídeos e fotos da vida nos povos, a arte da pintura corporal, as cerimônias e os ritos. O domínio técnico é ilustrado por uma armadilha de pesca Baniwa, especialmente confeccionada para a mostra por um índio desta tribo.
Segue-se um extraordinário mostruário de enfeites de plumas, cestarias e cerâmicas pintadas para, finalmente, mostrar os rituais que integram em uma única manifestação várias artes: música, dança, teatro, máscaras. Merece destaque a coleção de instrumentos musicais – tambores, chocalhos, flautas -, alguns adornados com plumas, contas e madrepérola.
A exposição termina com uma sala dedicada à coleção do antropólogo Claude Levi-Strauss. Pela primeira vez foi reunida uma parte da coleção reunida pelo autor de “Tristes Trópicos”, que está distribuída entre França e Brasil. Objetos das culturas Bororo, Kadiweu, Nambikwara e Kabisiana são expostos junto com fotografias e vídeos feitos por Levi-Strauss e sua mulher.
A exposição “Brasil Indígena” foi inaugurada na tarde de segunda-feira no Grand Palais de Paris pelos ministros franceses das Relações Exteriores e Cultura, respectivamente Michel Barnier e Renaud Donnedieu de Vabres, e pelos ministros da Cultura do Brasil, Gilberto Gil, e Espanha, Carmen Calvo. A mostra, que ficará aberta ao público até 27 de junho, reúne obras procedentes de vários museus de Brasil, França, Espanha, Itália e Portugal. (Folha Online)