O desmatamento do Parque Estadual da Pedra Branca, localizado na Zona Oeste, colocou o Rio de Janeiro no topo de um ranking que envergonha os cariocas. A cidade tem o maior número de crimes ambientais autuados em todo o estado. Entre janeiro de 2004 e março de 2005, foram registrados 39 crimes contra a natureza. Deste total, 27 foram por causa dos clarões abertos no parque. O IEF – Instituto Estadual de Florestas realizou um estudo, a partir das 528 denúncias de degradação recebidas no período. A cidade ficou à frente dos municípios de Paraty, com 17 crimes, Petrópolis e Angra dos Reis, com 16 cada, Niterói, com 15, e Búzios, com 13.
O presidente do IEF, Maurício Lobo, acredita que a pesquisa mostra um aumento na conscientização da população. “O desmatamento sempre foi um problema sério. Apesar de ser um número triste para a cidade, o estudo também mostra que as pessoas estão denunciando mais. Além do disque-floresta, vamos implantar um sistema de denúncias pela internet. É preciso que a população conheça suas florestas e que denuncie”, disse Maurício. Ele cita uma pesquisa feita pelo instituto em 2002, que mostrou que apenas 1% da população conhecia o Parque Estadual Pedra Branca.
A bióloga e administradora do parque, Neila Cortes, concorda com Lobo. Segundo ela, o trabalho ostensivo de fiscalização não é suficiente para impedir a devastação. “Não se surpreendam se os números deste ano forem maiores. A vertente norte do parque, que atinge Campo Grande, é a área mais degradada. São sete fiscais e três viaturas, para tomar conta de uma área quatro vezes maior que a Floresta da Tijuca. O uso indevido do fogo no desmatamento é outro problema. Para aumentar a pastagem, moradores próximos ao parque incendeiam a mata, o que é um perigo nesta época de estiagem.”
O Disque-Floresta foi responsável por grande parte das denúncias. Das 143 ligações recebidas pelo instituto, 102 indicaram desmatamentos no estado. Foram apontadas também ocupações irregulares (10 telefonemas), caça ilegal (6), retirada de aterro (5), fogo em vegetação (4), animais em cativeiro (3), tráfico de animais (3), de carvão (2), extração mineral (1) e extração de palmito (1).
Em 2002, as denúncias levaram a 112 autuações em todo o estado. Em 2003, o número aumentou para 212 , chegando a 252 no ano passado.
No entanto, para que os autos sejam efetivados em multas aos responsáveis pelo crime, é preciso que passem por uma avaliação da Comissão Estadual de Controle Ambiental, composta por representantes do governo e da sociedade civil. Das 39 autuações registradas no Rio de Janeiro, 24 resultaram em multas por causa dos desmatamentos no parque, o que representaria mais R$ 160 mil arrecadados. Mas apenas duas já foram pagas. As outras estão em negociação.
Criado em 1974, o parque abriga a maior floresta urbana do país e o ponto mais alto da cidade, o Pico da Pedra Branca, com 1.024 metros de altura. Numa área de 12.500 hectares, abrange os bairros de Jacarepaguá, Vargem Grande, Guaratiba, Campo Grande, Bangu e Realengo. (Mariana Filgueiras/ JB Online)