Metais pesados em água, contato com produtos químicos e até mesmo o estilo de vida podem estar prejudicando a fertilidade de cariocas e fluminenses. É o que revelam os resultados preliminares de um estudo que está sendo feito com casais do estado e que será apresentado no 8 Simpósio Internacional G&O Barra, nos dias 22 e 23 de julho. O maior destaque do encontro será a relação entre fatores ambientais e a infertilidade.
— Os dados ainda são preliminares, mas o que estamos observando é que a presença de metais pesados no Rio Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de 80% do município do Rio de Janeiro, pode afetar a fertilidade da população, o que é um problema grave — alerta a coordenadora do simpósio e presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Maria do Carmo Borges de Souza.
Para realizar a pesquisa foram entrevistados cem casais cariocas inférteis. Eles responderam a um questionário sobre suas atividades e hábitos nos dois anos anteriores à tentativa de engravidar. Suas respostas serão comparadas às de outras cem mulheres que engravidaram espontaneamente e às de 30 casais submetidos a tratamento de fertilização in vitro .
Os casais em tratamento também serão submetidos a análises para detecção de metais pesados, como chumbo, cádmio e mercúrio, no sêmen, no fluido folicular, no sangue e na água que consomem.
Agrotóxicos, álcool e fumo também são prejudiciais
Segundo Maria do Carmo, vários outros fatores relativos ao cotidiano de cariocas e fluminenses podem estar alterando a fertilidade dos casais, entre eles o uso de agrotóxicos, principalmente no interior do estado, e hábitos de vida como o fumo e o álcool.
— Precisamos ter consciência sobre esses problemas e fazer o alerta, para que políticas públicas sejam feitas — contou ela, ressaltando que a importância do tema está aumentando o interesse dos pesquisadores no ramo da ecologia humana reprodutiva.
Outro trabalho sobre infertilidade que será apresentado no evento é o da toxicologista Anne Greenlee, uma das pesquisadoras pioneiras no estudo da interferência do meio ambiente na saúde reprodutiva. Greenlee vai apresentar dados de ensaios realizados em ratos que indicam que a exposição a pesticidas usados na agricultura pode aumentar o risco de infertilidade.
O risco ocorre mesmo quando estes produtos são utilizados em baixas doses, como em jardins residenciais. As pesquisas de Greenlee também reforçam a tese de que hábitos como fumar e a ingestão de álcool podem interferir na fertilidade dos casais.
— São muitos os fatores que podem agir na infertilidade e o campo de estudo é amplo. Alguns são problemas regionais, característicos de determinada localidade geográfica, e outros são disseminados por vários lugares — explicou Maria do Carmo.
Bebês também sofrem com poluição ambiental
A poluição ambiental e o contato com produtos químicos e metais pesados não afetam apenas a fertilidade. Comprometem também a saúde de bebês recém-nascidos. Um relatório divulgado pelo Environmental Working Group, dos Estados Unidos, alerta que bebês americanos recém-nascidos já têm várias substâncias tóxicas no sangue, que devem ser provenientes ainda da fase de gestação.
O relatório é baseado em testes de dez amostras do sangue do cordão umbilical feitos pela Cruz Vermelha americana. Em alguns casos foram encontrados 287 substâncias no sangue, entre elas o mercúrio. A poluição ambiental é considerada o principal fator responsável pelos resultados. (Leonardo Valente / Jornal O Globo)