Expedição Peixe-Boi Amazônico chega a Parintins/AM

A Expedição Peixe-Boi Amazônico, realizada pelo Centro Mamíferos Aquáticos/Ibama, em parceria com o Conselho Nacional dos Seringueiros, permaneceu nesta quinta-feira em Parintins (AM). A expedição partiu de Santarém (PA) com destino a Manaus no dia 16 de agosto com objetivo de levantar dados sobre a situação do peixe-boi amazônico (Trichechus inungis) nos rios e lagos da região.

Além de identificar os locais de ocorrência da única espécie de peixe-boi fluvial do mundo, a expedição também tem o objetivo de tentar reverter o hábito das populações ribeirinhas que ainda caçam o mamífero aquático. A caça, praticada à exaustão a partir da colonização do Brasil, levou o animal à situação de risco de extinção. Ao passar pelas comunidades, os pesquisadores fazem palestras, distribuem cartazes, bonés e camisetas na tentativa de sensibilizar os ribeirinhos em favor da preservação do peixe-boi.

O trecho Santarém-Manaus é a quinta etapa da expedição que começou em 2000 e já percorreu os rios Solimões, Negro, Purus e Madeira (AM), Tapajós, Arapiuns e Amazonas (PA), além de lagos e igarapés tributários desses rios. Parques nacionais, estações ecológicas, florestas nacionais e reservas estaduais nos dois estados também já foram pesquisados. Os pesquisadores visitaram cerca de 600 comunidades, totalizando aproximadamente 18 mil entrevistas com os ribeirinhos.

Na maioria das comunidades, a confirmação da existência do peixe-boi indica que a espécie ocorre em praticamente toda a bacia amazônica. Os ribeirinhos também confirmam que a caça do peixe-boi para a alimentação ainda é um hábito entre as populações locais. “Há relatos de caça em todos os lugares por onde passamos. É isso que nos preocupa”, afirma a bióloga Fábia de Oliveira Luna, coordenadora do Projeto Peixe-Boi Amazônico. Segundo ela, os ribeirinhos apreciam a carne e a banha do peixe-boi. Partes do animal também são usadas em práticas de medicina caseira cuja validade científica não foi comprovada.

De acordo com a pesquisadora, a manutenção da caça é atualmente a principal ameaça à sobrevivência do peixe-boi amazônico. O animal tem ciclo reprodutivo lento – uma cria a cada três anos, em média. Cada animal caçado representa uma perda significativa para a biodiversidade, principalmente no caso das fêmeas. A contaminação das águas com o mercúrio dos garimpos e a introdução de animais exóticos (de outros países), tais como os búfalos também põem em risco a sobrevivência do peixe-boi amazônico.

O animal é um mamífero aquático herbívoro. Alimenta-se do leite da mãe até os dois anos. Só depois dessa fase é que o filhote passa a se alimentar de capim. Tem preferência pelo mureru, tremebeca e canarana. O ‘pasto’ dura até um terço do dia de um peixe-boi. Ao se alimentar, o peixe-boi mantém o equilíbrio da população de capim que poderiam tampar a passagem das águas entre os igarapés. O capim triturado serve de comida para os peixes e suas fezes ajudam a fertilizar os rios, promovendo um equilíbrio ecológico fundamental para a manutenção das florestas. (Jaime Gesisky/ Ibama)