Redação AmbienteBrasil
O termo “psicologia ambiental” é novidade para a maioria das pessoas, mas esse campo do conhecimento analisa algo que tem muito a ver com a vida delas. “É uma área que estuda as relações recíprocas entre o indivíduo e o ambiente em que vive”, esclarece Hartmut Günther, coordenador do Laboratório de Psicologia Ambiental da Universidade de Brasília – UnB, centro de estudos pioneiro no país neste assunto.
De acordo com Günter, a ligação entre pessoas-ambiente pode se dar de duas maneiras. A primeira ocorre quando o meio ambiente é capaz de alterar o comportamento e sentimento humanos. Já a segunda acontece quando o homem modifica o meio em que vive, para que se sinta mais bem-colocado. Na psicologia ambiental, entende-se por meio ambiente o espaço físico que cerca as pessoas, seja ele natural ou urbano. Por esse motivo, esta área possui interface com outras especialidades, tais como a arquitetura, engenharia, sociologia e antropologia, entre outras.
Existem inúmeros estudos sobre o impacto do ambiente na ação humana. Dentro do Laboratório de Psicologia Ambiental estão em pauta, por exemplo, temas como “o ambiente de elevador” e “o impacto do barulho na concentração em sala de aula”. O coordenador do laboratório diz que também são realizados estudos a respeito do que as pessoas fazem para transformar o ambiente. Por isso, acredita que os lugares têm que estar de acordo com o perfil de quem vai usufruir deles. “Um arquiteto precisa avaliar o ambiente ao projetá-lo, perceber se é funcional ou não”, diz Günter.
A psicologia ambiental está presente também nos estudos da relação entre o homem e a natureza. Será realizado, no final do mês, o I Seminário Internacional de Psicologia Ambiental, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. O tema central do evento, promovido pela Embrapa Meio Ambiente – unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, será Psicossomática e Desenvolvimento Rural Sustentável. Marlize Bassani, psicóloga e professora titular do Centro de Psicologia Ambiental da PUC-SP, conta que algumas outras pesquisas foram feitas em parceria com a Embrapa. “Já levantamos questões do tipo: Como passar tecnologia aos proprietários rurais, com efeitos de preservação, e garantindo-lhes a qualidade de vida?”
Na prática
Luana Beal é psicóloga do Programa de Extensão Agroflorestal, uma iniciativa do Instituto Ecoplan, ONG paranaense, financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA. O projeto visa a melhoria da renda e qualidade de vida de pequenos e médios agricultores de quatro municípios do estado, através da implementação de sistemas florestais e agroflorestais nas propriedades. “A iniciativa traz transformações significativas no ambiente. Com o reflorestamento, a fauna aumenta”, exemplifica. Por este motivo, Luana faz, desde abril deste ano, um trabalho com as famílias dos agricultores, para que observem as mudanças no local em que vivem.
A psicóloga realiza uma atividade com os filhos dos trabalhadores rurais através do chamado biomapa, que é um croqui da propriedade na qual moram as crianças. “Procuro um ambiente acolhedor, coloco músicas com sons vindos da natureza e dou papel e lápis de cor a todos. Então, peço que desenhem sua moradia. Desenvolvo o trabalho no início e no final do projeto”, explica Luana. Ela conta que a atividade é de grande importância para avaliar o apego que as crianças passam a ter com o ambiente depois que o programa é implantado. “Com esse sentimento, cria-se a sensação de que a natureza é a casa de todos, o que favorece a educação ambiental”, diz.
Esse pressuposto é reafirmado por Hartmut Günter. “Tudo irá depender da percepção do indivíduo, da maneira como ele registra o ambiente em que vive”. O coordenador do Laboratório de Psicologia Ambiental da UnB também acredita que o chamado “sentimento de pertença”, ou seja, o vínculo com o local em que se mora, favorece a conservação da natureza. Günter levanta questões como: “Até que ponto o meio ambiente é importante para as pessoas?” As respostas da sociedade para esta pergunta podem ser tanto positivas quanto negativas. “Algumas pessoas imaginam que não precisam ajudar na sustentabilidade ambiental porque irão morrer daqui a 20 ou 25 anos. Porém, existem aqueles que assumem a responsabilidade de preservar o ambiente para as futuras gerações”, afirma o psicólogo.