Quase nove meses depois do assassinato da missionária Dorothy Stang, o Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, apoiado pelo Exército, começou a demarcar as terras públicas de Anapu, no sudoeste do Pará, onde a freira lutava pela implantação de um Plano de Desenvolvimento Sustentado, o conhecido PDS.
Além da medição e demarcação das terras, hoje ocupadas por agricultores, grileiros e madeireiros, técnicos do governo e militares começaram também o cadastramento de 300 famílias do PDS Esperança e de outras 200 do PDS Virola-Jatobá. Elas vão receber cestas básicas e financiamento para construção de casas nos lotes e aquisição de materiais de apoio à produção agrícola.
Mas o clima ainda é tenso na região. Os grileiros afirmam que não pretendem deixar as terras da União que invadiram e ocupam. Eles alegam que na década de 80 ganharam do Incra autorização por escrito para ocupar e explorar a área. Agora, prometem brigar na justiça para não sair do local. O Incra afirma que o contrato assinado já caducou e acusam os madeireiros de devastar as florestas da região.
Os agricultores ligados à freira querem que os invasores sejam expulsos das terras e denunciam a existência de pistoleiros infiltrados entre as famílias para ameaçá-las de morte, caso insistam em permanecer nos lotes. Os futuros assentados também reivindicam do Incra a destinação de 80% das áreas dos lotes à prática de manejo florestal Comunitário.
O superintendente do Incra em Belém, Cristiano Martins, disse que o órgão está em negociação com o Ibama no sentido de estudar um modelo de extrativismo adequado à realidade dos PDSs de Anapu, que contribua para a geração de renda pelas famílias, mas sem agredir o meio ambiente. “Estamos estudando uma alternativa, mas em nenhuma hipótese iremos aprovar algo que resulte na degradação da floresta”, resume Martins.
Ele anunciou que mais 100 famílias ganharão lotes nos PDS graças à recuperação de 9 mil hectares de terras em áreas vistoriadas ao longo deste ano. Outros 21 lotes, totalizando 54 mil hectares, foram discriminados e estão em processo de desapropriação para assentamento de mais 660 famílias de agricultores. (Carlos Mendes/ Estadão Online)