Projeto busca combustível a partir do bagaço de cana

Parceria entre empresa do Paraná e IPT de São Paulo pretende criar nova solução de biodiesel. Na busca pela energia renovável e totalmente não-poluente o Brasil está se tornando pioneiro. Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em parceria com a empresa Raudi Energia Tecnologia em Combustíveis Limpos, desenvolvem um projeto capaz de transformar bagaço de cana em combustível limpo. A tecnologia de gaseificação do bagaço, já patenteada, converte a biomassa em gás a partir de uma síntese química, viabilizada através de um catalisador.

O gás é transformado em biodiesel, livre de enxofre – sério problema ambiental do diesel fóssil – e com alta octanagem. Depois de finalizado, o gás sintetizado no gaseificador será capaz de gerar gasolina, óleo diesel, metanol, ácido acético, etanol, DME – produto que substitui tanto o diesel quanto o GLP de cozinha-, hidrogênio e fertilizantes. Muitos dos derivados de petróleo poderão ser substituídos por uma fonte renovável.

“Estamos usando uma tecnologia criada pelos alemães durante a II Guerra Mundial. Naquela época, eles (os alemães) utilizavam o carvão mineral no processo. Adaptamos a técnica com o bagaço da cana”, destacou Ademar Hakuo Ushima, pesquisador do IPT, afirmando ainda que a produção de álcool combustível poderá “quase que dobrar sem aumentar a área plantada de cana.” O projeto, que vem sendo desenvolvido pelos técnicos da empresa paranaense e do IPT de São Paulo desde 1999, deverá encerrar sua primeira fase neste ano.

O volume de bagaço de cana no Brasil não é desprezível. Uma parte é utilizada para produção de vapor e energia excedente em usinas de açúcar e álcool. Segundo o técnico do IPT, esta quantidade pode gerar grandes volumes de biodiesel. “Isso significa até 120 milhões de litros por ano”, diz Ushima.

Estudos de rendimento ainda não são conclusivos acerca do custo de cada litro de biodiesel em relação ao combustível convencional. O investimento estimado para um projeto dessas dimensões pode chegar a US$ 35 milhões, bem diferente de fábricas na Europa, que convertem gás natural em gás de síntese para posterior transformação em biodiesel. Entretanto, o técnico ressalta de que ainda não está pensando na parte financeira do projeto. “Neste momento a viabilidade técnica é mais importante do que a parte econômica”, diz Ushima.

Segundo o técnico do IPT, para cada tonelada de cana utilizada na produção de álcool, são gerados 140 quilogramas de bagaço e 140 de palha, que possuem alta energia armazenada e tem porcentagens consideráveis desperdiçadas.

Gazeta Mercantil