As florestas nos Parques Nacionais, as Estações Ecológicas e as Reservas Biológicas estão mais protegidas que as florestas onde moram populações indígenas? A resposta simples a esta pergunta é “não”. Um estudo recém-publicado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Woods Hole Research Center, Instituto Socioambiental, Universidade Federal
do Pará e parceiros na revista “Conservation Biology”, usou uma série histórica de dados de satélite para revelar que áreas protegidas sem ocupação e terras indígenas exercem o mesmo papel inibidor sobre o desmatamento.
As terras indígenas representam hoje 20% do território da Amazônia. Essa é uma conquista do movimento indigenista iniciado na década de 70 com o intuito de salvar a cultura e o modo de vida dessas populações que já ocupavam a região bem antes de Cristóvão Colombo descobrir a América. O que não se sabia era a importância desses contíguos blocos de floresta, utilizados por estas populações, para a contenção do desmatamento desordenado na região.
Isso porque, em primeiro lugar, são as terras indígenas que sofrem a maior pressão do avanço do desmatamento, pois estão situadas, em grande parte, nas regiões de expansão da fronteira agrícola da Amazônia. Enquanto que, tirando as áreas de proteção integral, recentemente criadas na Terra do Meio, a maioria das unidades de conservação está distante dessas áreas de intenso desmatamento na região.
Em segundo lugar, o efeito de Terras Indígenas na inibição de desmatamento é igual ao efeito de inibição de Parques Nacionais, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas.
Estudo – Os pesquisadores utilizaram mapas de uso da terra confeccionados a partir de imagens de satélite entre os anos de 1997 e 2000 e dados de ocorrência de fogo de 1998 para comparar a efetividade das Terras Indígenas, Unidades de Conservação de Proteção Integral, Reservas Extrativistas, e Florestas Nacionais em conter o desmatamento na Amazônia.
Para a medida do efeito “inibidor” foi utilizado a razão entre a taxa de desmatamento para áreas de fora e de dentro do perímetro de cada reserva. Este efeito “inibidor” foi estatisticamente igual entre Terras Indígenas e Unidades de Conservação de Proteção Integral. Contudo, é a localização das Terras Indígenas que as diferencia das demais e aumenta o seu grau de importância para a proteção da floresta. Ou seja, na realidade, os índios da Amazônia podem ser considerados os verdadeiros protetores da floresta. (Ipam)