Todos os meses, os 26 funcionários e 15 representantes comerciais brasileiros da norte-americana Interface – uma das maiores fabricantes de carpetes do mundo – anotam minuciosamente quantos quilômetros rodaram com seus automóveis, seja para fazer entregas, seja para conquistar novos clientes. A intenção, explica o representante da empresa em Curitiba, Cláudio Valério, não é prestar contas à companhia de quanto dinheiro foi gasto nesses deslocamentos. O que a matriz quer saber é quantas árvores terá que plantar para compensar as emissões de poluentes dos veículos. “Para cada funcionário ou representante, plantamos de três a cinco árvores por mês”, conta o gerente de marketing da empresa no Brasil, Luciano Bonini. As mudas são plantadas em uma área da bacia do Rio Tietê, perto de Piracicaba (SP), em associação com a Fundação SOS Mata Atlântica.
O curioso é que a iniciativa vem de uma empresa com sede nos Estados Unidos, país que não assinou o Protocolo de Kyoto e, portanto, não se comprometeu a reduzir ou compensar a emissão de gases geradores de efeito estufa. O modelo de gestão ambiental que a Interface aplica nos 110 países onde atua – inclusive nos que não possui fábrica, caso do Brasil – é um dos maiores exemplos de como as empresas estão cada vez mais preocupadas em demonstrar que são ecologicamente corretas.
É verdade que, com freqüência, esse interesse não passa de discurso para agradar a opinião pública. Mas essa e outras atitudes da fabricante de carpetes mostram que buscar uma relação saudável com o meio ambiente pode, sim, fazer a diferença inclusive no faturamento da empresa. “Ainda existe uma visão errônea de que meio ambiente só significa custo. Mas, muito pelo contrário, questões ambientais bem planejadas contribuem para cortar gastos”, comenta a especialista em direito ambiental da Veirano Advogados, Bibiana Azambuja da Silva.
A Interface, por exemplo, só trabalha com carpetes em placas, que reduzem o desperdício de material na instalação. Os produtos são fabricados somente por encomenda, para evitar a formação de estoques. Além disso, desde 2000 a empresa vem aumentando a utilização de PLA, um polímero feito a partir de amido de milho, e reduzindo sua dependência do náilon, derivado do poluente, finito e cada vez mais caro petróleo. “Hoje, 15% de nossa linha é feita a partir do PLA, mas queremos continuar elevando esse índice”, diz o gerente de marketing da empresa. “Nossa meta é chegar a 2020 sendo uma empresa 100% sustentável. Já reduzimos as emissões de gases em 63% e hoje 80% da energia consumida nas fábricas vem de fontes renováveis, como a energia eólica e solar.”
O diretor da área de sustentabilidade da consultoria Price Waterhouse Coopers, Marco Antônio Fujihara, diz que a vantagem econômica de ser uma “empresa verde” – como hoje são fortemente identificadas marcas como a Natura e a paranaense O Boticário – não está somente na redução de gastos. “O consumidor está cada vez mais exigente em relação a esse aspecto, e vai preferir comprar daquela empresa que está bonita na foto.”
A assessora de programas do Funbio – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, Marina Kahn, aponta uma das melhores – e mais simples – razões para a iniciativa privada proteger os recursos naturais: “Quanto mais escassos eles ficarem, mais ameaçada estará a futura sobrevivência das próprias empresas que os exploram”. (Fernando Jasper/ Gazeta do Povo/PR)