Comitê Científico avalia situação de saguis no Sudeste

A multiplicação de populações do sagüi-do-nordeste e do sagüi-do-cerrado nas áreas de ocorrência do mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) fez parte da pauta da primeira reunião do Comitê Nacional para Conservação e Manejo dos Calitriquídeos da Mata Atlântica, realizada no Centro de Treinamento do Instituto Florestal de São Paulo, no final de julho.

A invasão dessas espécies se deve, em parte, devido a liberação inadequada feita por antigos criadores ou autoridades que não concordam com o combate ao tráfego de animais silvestres feito na região Sudeste. Uma série de medidas experimentais, que aguardam portaria do Ibama, está em estudo para controle dessa população. A aplicação se dará por meio do acompanhamento de várias instituições integrantes do Comitê.

Outro assunto em debate foi as estratégias de conservação para duas espécies ameaçadas de sagüis da Mata Atlântica do sudeste do Brasil, o Sagüi-da-serra (Callithrix flaviceps) e o Sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita).

A reunião contou com a participação de pesquisadores e representantes da Universidade Estadual Norte Fluminense, Centro de Primatologia do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Associação Mico Leão Dourado, Instituto Florestal de São Paulo e do Ibama, por meio do Centro de Proteção de Primatas Brasileiros (CPB), da Coordenação Geral de Fauna, da Superintendência de São Paulo e da Superintendência do Rio de Janeiro.

Comitê – Criado pelo Ibama em setembro de 2005, o Comitê Nacional para Conservação e Manejo dos Calitriquídeos da Mata Atlântica é um órgão consultivo, de natureza científica, para definição das ações estratégicas que deverão ser implementadas pelo Ibama e por outros órgãos governamentais e não governamentais envolvidos na conservação e manejo destas espécies.

Recomendações – As ações recomendadas para o controle populacional dos sagüis envolvem tanto a remoção de grupos e o seu encaminhamento para instituições mantenedoras de animais em cativeiro, quanto à aplicação de técnicas contraceptivas que promovam a interrupção do nascimento de sagüis em grupos que permanecerão na natureza.

Conforme frisa Marcelo Marcelino, chefe do CPB, “estas medidas, que terão ainda um caráter experimental, abrangerão apenas algumas áreas recomendadas e sua aplicação deverá ser regulamentada por uma portaria específica do Ibama”. Pesquisadores da AMLD e da UENF iniciarão, com apoio do Ibama, o trabalho nos próximos meses. Os resultados serão avaliados em julho de 2007, na próxima reunião do Comitê.

Conforme estudos realizados pela equipe do professor Carlos Ruiz-Miranda, da UENF, os sagüis multiplicaram-se ocupando as áreas dos micos-leões e disputando com estes os recursos alimentares. A liberação inadequada de sagüis em regiões diferentes das de suas origens é ruim não só para as espécies locais, como também para os próprios sagüis.

“No caso dos micos-leões-dourados, representa não só uma ameaça para a espécie como também lança uma incerteza sobre o futuro de um programa de conservação, que vem sendo implementado com sucesso a mais de 30 anos”, afirma Denise Rambaldi, da AMLD.

Sobre as outras duas espécies de sagüis ameaçadas no Sudeste da Mata Atlântica, os pesquisadores concluíram que as informações disponíveis são insuficientes para montagem de um plano de conservação. Um esforço coletivo envolvendo UENF, IF-SP, CPRJ, CPB, Supes-SP e Supes-RJ, será implementado visando melhorar o conhecimento básico acerca destas espécies.

“A expectativa é que um projeto de pesquisa envolvendo as instituições gere, em curto espaço de tempo, um conjunto de informações suficientes para elaboração de um plano de conservação para Callithrix aurita e Callithrix flaviceps, de preferência já para o próximo ano”, avalia Onildo Marini, Coordenador de Proteção de Espécies da Fauna Ameaçadas do Ibama. (Aldo Vasconcelos/ Ibama)